
O caso envolvendo a morte do comerciante Igor Peretto, de 27 anos, ainda mobiliza a Justiça de São Paulo e expõe uma trama complexa de traição, disputas familiares e violência.
Ele foi assassinado a facadas em 31 de agosto de 2024, dentro do apartamento da irmã, Marcelly Peretto, na cidade de Praia Grande, litoral paulista. O Ministério Público aponta que o crime foi premeditado e cometido por três pessoas próximas à vítima: a própria irmã, o cunhado Mário Vitorino da Silva Neto e a esposa, Rafaela Costa da Silva.
As investigações sugerem que o trio mantinha relações íntimas entre si e enxergava Igor como um "empecilho" para os vínculos afetivos e os ganhos financeiros futuros.
Os três estão presos preventivamente, aguardando decisão da Justiça sobre a possibilidade de serem julgados por um júri popular. Veja, a seguir, tudo o que já se sabe sobre o caso.
Últimas imagens com vida e dinâmica do crime
As últimas imagens de Igor com vida foram registradas por câmeras de segurança no prédio onde ocorreu o assassinato. Às 4h32min da madrugada de 31 de agosto, Marcelly e Rafaela chegaram de carro à rua do edifício.
Elas subiram juntas ao apartamento e foram flagradas abraçadas e rindo dentro do elevador às 4h38min. Uma hora depois, Rafaela foi vista saindo sozinha, pegando o carro e deixando o local. A saída dela aconteceu exatamente 13 segundos antes da chegada de Igor com Mário.
Às 5h43min, Igor e o cunhado estacionaram e entraram no prédio. No elevador, uma câmera registrou uma breve discussão entre os dois. Às 5h44min, eles saíram do elevador e seguiram para o apartamento, onde Igor foi morto com múltiplas facadas.
Segundo o laudo necroscópico, mesmo que tivesse sobrevivido, a vítima teria ficado tetraplégica, devido à gravidade das lesões.
Depois do crime, Mário e Marcelly deixaram o local por volta das 6h05min. O casal desceu pelas escadas, saiu pela garagem e foi até o apartamento de Mário, onde ficaram por alguns minutos antes de saírem novamente com bolsas e objetos pessoais.
Triângulo amoroso e benefício financeiro
A motivação do crime, segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), foi dupla: íntima e patrimonial. O órgão afirma que Rafaela, Mário e Marcelly mantinham relações afetivo-sexuais entre si e viam Igor como um obstáculo.
Além disso, sua morte permitiria a partilha da herança, o controle da loja de motos que ele possuía com o cunhado e ganhos diretos para a esposa.
"O crime foi cometido por motivo torpe, pois Mário, Rafaela e Marcelly consideraram Igor um empecilho para os relacionamentos íntimos e sexuais que os três denunciados mantinham entre eles" apontou a entidade.
Além disso, teria ocorrido mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, que foi surpreendida dentro de casa e desarmada. O documento diz ainda que os envolvidos buscaram saber quanto tempo levaria até o corpo ser descoberto e se preocuparam com rotas de fuga.
Prisões e andamento do processo
Rafaela e Marcelly se entregaram à polícia em 6 de setembro de 2024. Já Mário foi localizado e preso nove dias depois, escondido na casa de um tio de Rafaela, na cidade de Torrinha (SP).
Todos tiveram as prisões temporárias convertidas em preventivas após a apresentação da denúncia feita pelas promotoras Ana Maria Frigerio Molinari e Roberta Bená Perez Fernandez.
O processo criminal segue em andamento na 1ª Vara Criminal de Praia Grande. Três audiências de instrução já foram realizadas: em 20 de março, 7 de maio e 16 de junho de 2025. Nelas, testemunhas de acusação e defesa foram ouvidas, e os réus interrogados.
Após os interrogatórios, o juiz abriu prazo para as defesas apresentarem pedidos de diligência, com prazo até 18 de junho. Os advogados de todos os réus se manifestaram dentro do prazo.
O vídeo do bolo e o vínculo com o filho
Nesta semana, o vereador Tiago Peretto, irmão da vítima, divulgou um vídeo que mostra o filho de Igor, atualmente com seis anos, entregando o primeiro pedaço do bolo de aniversário à tia Marcelly, acusada de ter participado do assassinato do pai.
O vídeo foi gravado antes do crime, durante uma comemoração em família. Na filmagem, o menino sorri ao escolher a tia, enquanto os adultos reagem em tom de brincadeira: "De novo?", e Marcelly responde: "É a campeã". Na legenda, o vereador escreveu: "Um anjo sem maldade alguma [...] sempre deu o primeiro pedaço do bolo para a tia que ajudou a tirar a vida do seu papai".
Segundo Tiago, o menino, que hoje vive com a avó paterna, demonstrou grande abalo ao saber da prisão de Marcelly.
"Ele gritava: 'Minha tia, não', foi terrível. Ele chorou por ela, mas não derramou uma lágrima quando soube da prisão da mãe", disse o vereador.
O que dizem os advogados
As defesas de Rafaela, Mário e Marcelly negam a existência de um triângulo amoroso e rebatem as acusações do Ministério Público. O advogado de Rafaela, Yuri Cruz, afirmou que pediu a devolução do celular da cliente para investigar novos elementos que possam comprovar sua inocência.
Segundo ele, as provas apresentadas pela acusação são frágeis, e eles esperam que ela não seja submetida a júri popular.
Mário Badures, advogado de Mário Vitorino, disse que a prisão preventiva já não é necessária nesta fase do processo. Ele solicitou acesso aos autos do inquérito e às perícias digitais, além de pedir a restituição de itens apreendidos, como os celulares.
A defesa também questiona um suposto vazamento de dados da investigação.
Já Leandro Weissman, defensor de Marcelly, afirmou que a acusação é "fantasiosa" e baseada em hipóteses sem respaldo probatório. Ele solicitou esclarecimentos sobre exames periciais feitos nas roupas da cliente, buscando saber de quem era o sangue encontrado.
“Os próprios policiais que conduziram a investigação do caso, excluem qualquer responsabilidade de Marcelly [...] A denúncia do Ministério Público em relação a ela é meramente fantasiosa, desprovida da realidade”, contou ao g1.
Júri popular
Com a fase de instrução encerrada, o juiz do caso irá analisar todas as provas reunidas e decidir se os réus serão levados a julgamento por um júri popular. A expectativa é de que essa definição ocorra nas próximas semanas.