A Polícia Civil desencadeia nesta quinta-feira (26) uma resposta a um dos atos mais ousados de criminosos realizados este ano em Porto Alegre. No dia 1º de maio quatro homens armados, dentro de um Fiat Cronos, trancaram o Túnel da Conceição e dispararam uma saraivada de tiros contra dois ocupantes de um Fiat Uno. Foram mais de 40 disparos. Os alvos só escaparam porque frearam e deram ré, abandonando o veículo no meio da via. Ao perceber que tinham falhado, os agressores também deixaram o carro no local, causando um bloqueio total do túnel. Ninguém ficou ferido.
Os tiros foram efetuados em pleno horário de pico, por volta de 19h30min. Como a BM teve de paralisar o tráfego para que fosse feita perícia nos dois veículos abandonados, o túnel ficou bloqueado por mais de duas horas. Até por isso, a Polícia Civil denominou a ação de Via Clausum, que em latim significa Via Fechada. Foram cumpridos seis mandados de prisão e 10 de buscas. Um homem e uma mulher foram presos em flagrante. Ele estava foragido, com 31 anos de prisão por cumprir, e tinha virado pastor evangélico.
Após dois meses de investigação, a 2ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Porto Alegre (2ª DPHPP/POA) concluiu que o ataque foi realizado por integrantes da maior facção criminosa da Capital, com berço na Zona Leste. Eles desconfiaram que os ocupantes do Fiat Uno eram inimigos fazendo um levantamento de terreno nas proximidades da estação rodoviária, área de influência da sua quadrilha.
Para realizar a tentativa de homicídio, os criminosos alugaram um carro e, depois que o ataque falhou, o abandonaram, dizendo que tinham sofrido um roubo de veículo. A partir do aluguel do Fiat Cronos os policiais chegaram aos nomes dos supostos autores da emboscada.
— As imagens captadas por câmeras de videomonitoramento foram cruciais para identificar os autores do ataque. Trata-se de uma ação que colocou em risco não apenas as vítimas, mas também a integridade de diversos cidadãos que circulavam por uma das principais vias da cidade. A partir de um trabalho técnico, conseguimos identificar os autores e avançar no enfrentamento à criminalidade organizada na região central de Porto Alegre — diz o delegado Eric Seixas Dutra, responsável pela investigação.
A Polícia Civil não revela nomes dos envolvidos. A reportagem, no entanto, descobriu que foram decretadas as prisões de Khaynã Bragé de Castro, Luismar Pinheiro da Silva, Thiago Noschang do Espírito Santo Figueiró e Robson Dalvan de Souza Luz, suspeitos de participarem diretamente da emboscada.
Linha de investigação
Até agora surgiram duas hipóteses para o crime. Uma delas é que as vítimas, que possuem passagem por tráfico, sejam suspeitas de ligação com outra facção. A segunda é que elas tenham sido confundidas com criminosos inimigos dos autores da emboscada. O interrogatório dos presos pode contribuir para revelar a motivação.
O diretor do Departamento de Homicídios, delegado Mário Souza, também ressalta a importância da ação, tendo em vista "que o ataque colocou em risco pessoas naquela região".
— O objetivo da operação, além das prisões, é recolher armas de fogo, aparelhos celulares e demais elementos que contribuam para o aprofundamento do inquérito. O próximo passo é responsabilizar as lideranças que ordenaram/permitiram a emboscada e buscar o isolamento delas — avisa Souza.





