O obstetra responsável pelo atendimento a uma adolescente de 16 anos, que morreu duas semanas após dar à luz, está afastado das atividades do Hospital Sapiranga, no Vale do Sinos. A instituição confirmou a informação e acrescentou que o afastamento foi voluntário e de comum acordo, para que a apuração dos acontecimentos possa ocorrer com total isenção. O profissional não faz parte das escalas de plantão do hospital desde o dia 19 de maio.
A família alega que Kauany Ventura sofreu complicações após o nascimento da filha, provocadas, supostamente, por negligência médica. O parto ocorreu no dia 2 de maio e, dias depois, a paciente retornou ao hospital com dores na barriga, inflamação nos pontos da cirurgia e episódios de febre. Ela morreu no dia 17 de maio.
Uma sindicância segue em andamento no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) para averiguar a atuação do médico. A entidade explica que durante esse processo, o profissional ainda fica com o registro regular, o que só é alterado após julgamento, em caso cassação da função. O Ministério Público (MP-RS) instaurou expediente para avaliar o contexto do episódio.
Corpo da jovem será exumado
A investigação da Polícia Civil está ouvindo testemunhas, inclusive a equipe médica que trabalhou no caso. Segundo o delegado Clovis Nei da Silva, a Justiça autorizou que o corpo de Kauany fosse exumado. O processo está em andamento e ainda não tem data para conclusão.
Representando a família da jovem, a advogada Diânifer Soares explica que a análise do corpo de Kauany ocorre para verificar o que levou ao avanço da infecção e para esclarecer um procedimento de esterilização (ligadura tubária) registrado no prontuário da adolescente e que teria acontecido sem consentimento.
O que diz o hospital
Em nota, o Hospital Sapiranga alega que teria havido uma "inconsistência na documentação médica" e garante que a esterilização não teria ocorrido. A instituição justifica que teria havido a inserção do nome incorreto do procedimento, "equívoco provocado, possivelmente, por uma seleção automática indevida nos campos de texto pré-formatado disponíveis no sistema eletrônico". Também destaca que pediu "desculpas públicas à família" pelo erro na seleção do nome do procedimento, e que passou a fazer uma "revisão de todos os protocolos do sistema de registros".
Sobre o quadro de saúde de Kauane, o hospital informa que o parto “foi realizado de forma tecnicamente adequada, por equipe especializada, dentro do tempo recomendado pelas diretrizes obstétricas para casos não emergenciais”. Diante do agravamento da situação da paciente, diz que foram adotadas todas as condutas cabíveis e que “infecções são riscos inerentes a qualquer procedimento cirúrgico, mesmo quando realizados com excelência técnica”.
O hospital lista ações realizadas após o episódio, como treinamentos internos, intensificação de auditorias clínicas e revisões de casos de risco em comitês multiprofissionais.
No texto, afirma ainda que ofereceu acompanhamento psicológico aos familiares e atendimento pediátrico para a criança recém-nascida. E ressalta que "vem fazendo tudo que está ao seu alcance para esclarecer a situação". Leia a nota na íntegra aqui.
Entenda o caso
A mãe de Kauane, Catieli Ventura, 35 anos, diz que a filha chegou ao hospital no dia 1º de maio já em trabalho de parto, mas teria sido orientada a retornar no dia seguinte, porque ainda não estava com a dilatação suficiente. O parto ocorreu no dia 2 de maio, por meio de uma cesárea. Dois dias depois, a jovem recebeu alta.
Com dores na barriga e inflamação nos pontos da cirurgia com episódios de febre, a paciente buscou um posto de saúde e foi medicada com antitérmicos. Com a piora na aparência dos pontos, voltou ao hospital na quarta-feira, 7 de maio. Teria sido medicada pelo plantonista e orientada a retornar somente na sexta-feira, dia 9, quando o obstetra estaria no local.
Segundo Catieli, o obstetra que realizou o parto teria sustentado que não havia complicações. Após insistências dela, conta, outro médico da emergência avaliou o caso e encaminhou Kauany para mais exames e para um procedimento de urgência.
Ainda de acordo com a mãe, o quadro foi piorando e, no dia 12 de maio, a filha teve uma parada cardíaca e uma infecção generalizada. Kauany morreu no sábado, dia 17 de maio.
A bebê, batizada de Ísis, está aos cuidados da avó e do pai, de 19 anos. A menina não teve complicações de saúde.