Uma operação da Polícia Civil, chamada Bunker, revelou, nesta terça-feira (20), um esquema de controle de dois condomínios de Canoas, na Região Metropolitana. Até as 8h, sete pessoas haviam sido detidas — duas delas já estavam no sistema carcerário e receberam novos mandados de prisão. Os nomes deles não foram divulgados.
Segundo a investigação, residenciais nos bairros Guajuviras e Mathias Velho são utilizados como reduto de duas facções que atuam no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
A Polícia Civil cumpriu 78 ordens judiciais nos municípios de Canoas, Eldorado do Sul, Cachoeirinha, Rolante, Riozinho, São Leopoldo e Gravataí, além de Lages, em Santa Catarina. A ofensiva ainda apreendeu veículos e armas, além de sequestrar e bloquear contas bancárias.
No bairro Guajuviras, os agentes descobriram que os criminosos estabeleceram empresas de vigilância e limpeza em um dos condomínios, onde moram 4,8 mil pessoas. O objetivo é utilizá-las para a lavagem do dinheiro do comércio de entorpecentes.
— Essas empresas foram criadas para garantir o comércio da droga dentro do condomínio. Eles expulsavam moradores e utilizavam os apartamentos para depósito de ilícitos. Todo o comércio do entorno era “fiscalizado” pelo grupo, que recebia quantias semanais e mensais para permitir o funcionamento desses negócios — diz a delegada Luciane Bertoletti, da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas.
Uma imobiliária também foi constituída para atuar dentro do condomínio.
— Eles expulsam os moradores, alugam os apartamentos e recebem aluguéis — acrescenta a delegada.
Condomínio no Mathias Velho
A operação teve como alvo também outra facção, que dominava outro condomínio, no bairro Mathias Velho.
Os agentes foram ao imóvel que seria do líder da facção. O investigado, condenado por latrocínio, rompeu a tornozeleira eletrônica horas antes da operação e fugiu. Ninguém foi preso no imóvel.
A investigação relacionada ao caso do Mathias Velho se iniciou em dezembro do ano passado, quando suspeitos mantiveram uma mulher em cárcere. A vítima, companheira de um ex-líder de uma facção, foi mantida presa no local com os dois filhos, de oito e nove anos, um deles com espectro autista. A família ficou cinco dias sob a mira dos criminosos, que pretendiam que ela repassasse informações sobre o grupo rival.
— Esse cárcere privado foi o desdobramento de um racha que teria havia entre duas facções criminosas que operam em Canoas. Houve a ruptura dessas lideranças nos presídios de Charqueadas e a repercussão se deu em um dos apartamentos, onde estava essa vítima com os dois filhos — afirma o delegado Marco Guns, da 1ª Delegacia de Polícia de Canoas.
Essa investigação, coordenada pela 1ª Delegacia de Polícia, apurou ainda que o mesmo grupo teria realizado queima de veículos, em dezembro do ano passado após uma ação da Brigada Militar no condomínio. Os brigadianos foram alvos de tiros, pedras e fogos de artifício no episódio.
Os moradores do condomínio são obrigados a pagar taxas para o grupo criminoso, que fazia administração do condomínio, e a conviver com a venda de drogas e com pessoas armadas circulando no interior do residencial. Esse tipo de coisa acontecia à luz do dia e a poucos metros de onde crianças jogam futebol.
— Verificou-se que sistema implementado pelo crime se repete em ambas as facções: o recurso financeiro vem do tráfico de drogas, especialmente intramuros, com controle dos serviços e rotinas, com expulsão e extorsão de moradores e apropriação de apartamentos pelo tráfico — explicou o delegado Cristiano Reschke, diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana.