A Polícia Civil investiga o caso de uma adolescente que morreu duas semanas após dar à luz no Hospital Sapiranga, no Vale do Sinos. A família alega que Kauany Ventura, 16 anos, teria sofrido complicações após o parto provocadas supostamente por negligência médica.
Conforme a mãe, Catieli Ventura, 35 anos, a jovem chegou ao hospital no dia 1º de maio já em trabalho de parto, mas foi orientada a retornar apenas no dia seguinte, porque ainda não estava com a dilatação suficiente. O parto ocorreu no dia 2 de maio, por meio de uma cesárea. Dois dias depois, Kauany recebeu alta.
Poucos dias após o nascimento da filha, alegando dores na barriga e inflamação nos pontos da cirurgia com episódios de febre, a paciente buscou um posto de saúde e foi medicada com antitérmicos.
Com a piora na aparência dos pontos, ela voltou ao hospital na quarta-feira, 7 de maio. Teria sido medicada pelo plantonista e orientada a retornar somente na sexta-feira, dia 9, quando o obstetra estaria no local.
— Chegamos lá de manhã e ele não estava, daí foi outro obstetra que olhou na hora e mandou baixar ela. Perto do meio-dia, ele veio e olhou. Ele apertava a barriga dela, ela reclamava de dor, e ele dizia que estava normal — relata a mãe de Kauany.
Segundo Catieli, o obstetra que realizou o parto teria sustentado que não havia complicações. Após insistências dela, conta, outro médico da emergência avaliou o caso e encaminhou Kauany para mais exames e para um procedimento de urgência.
Ainda de acordo com a mãe, o quadro foi piorando e, na segunda-feira, dia 12 de maio, a filha teve uma parada cardíaca e uma infecção generalizada. Kauany morreu no sábado, dia 17 de maio.
— Eu vi minha filha morrer aos poucos. Ele nem sequer veio ver ela ali. Não tinha volta mais para minha filha, porque ele deixou avançar, ele errou duas vezes, ele negligenciou ela, ele machucou ela, ele tirou a vida dela. É complicado. A minha filha ficou irreconhecível — lamenta Catieli, argumentando que a filha teria sofrido um ferimento no útero, não tratado logo que buscou atendimento.
A bebê, batizada de Ísis, está aos cuidados da avó e do pai, de 19 anos. A menina não teve complicações de saúde.
O delegado Clovis Nei da Silva, que investiga o caso, confirmou que foi registrado boletim de ocorrência e que foi instaurado inquérito para investigar o fato. Ele pretende ouvir testemunhas e solicitar os prontuários médicos dos atendimentos para análise.
Questionado pela reportagem, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), afirmou que "soube do caso pela imprensa e está abrindo sindicância para investigar os fatos".
O que diz o Hospital Sapiranga
Procurado, o Hospital de Sapiranga se manifestou por meio de nota. Leia a íntegra:
"Estamos profundamente sensibilizados e solidários com os sentimentos da família envolvida, que desde o início foi acolhida com empatia e atenção.
Afirmamos que estamos comprometidos em analisar minuciosamente todos os fatos relacionados ao caso, o que vem sendo feito junto à família, às equipes médicas/assistenciais e de segurança do paciente, as quais estão empenhadas em avaliar, de forma cuidadosa, toda a trajetória da paciente na instituição, desde o primeiro atendimento prestado.
Ressaltamos nosso compromisso com a verdade e transparência das informações, bem como com a saúde, bem-estar e confiança de todos que buscam pelos nossos serviços, seguimos à disposição da família para os esclarecimentos necessários".