
A justiça gaúcha decidiu manter preso o advogado Daniel Nardon, investigado por aplicar fraudes contra clientes. A decisão, do início da noite desta sexta-feira (23), contraria o pedido de liberdade provisória feito pela defesa.
O documento, ao qual Zero Hora teve acesso, foi assinado pela juíza Mariana Francisco Ferreira, da 1ª Vara Regional de Garantias de Porto Alegre. Segundo a decisão, a prisão preventiva é necessária para evitar qualquer risco de que ele ficasse ativo no esquema:
"Não há nada a indicar que, ao ser colocado em liberdade, ainda que com a aplicação de medidas cautelares diversas, o investigado não irá continuar convidando terceiros para captar clientes e, ciente de sua suspensão apenas temporária da OAB, repassá-los aos advogados com quem já atuava em sua trama criminosa", cita Mariana.
Além disso, a juíza aponta que havia uma intenção de Nardon de deixar o país, o que considera um fator agravante para manter a preventiva. Ele foi capturado em Dourados, município que fica 120 quilômetros distante da fronteira com o Paraguai.
Nardon está preso desde o dia 15, após ficar uma semana foragido. Ele se encontra na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan).
Além da prisão, o advogado está com o sua carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) suspensa. Além disso, há uma orientação do Tribunal de Justiça gaúcho para suspender todas as suas ações, incluindo as que ele repassou para outros advogados.
Contraponto
A defesa de Daniel Nardon afirmou à reportagem que, após saber da decisão, está analisando as medidas cabíveis.
O esquema
A operação da Polícia Civil mirou um grupo de advogados suspeitos de fraudar ações judiciais e lesar clientes por meio da contratação de empréstimos bancários. A polícia identificou até agora 55 vítimas, mas estima-se que cerca de 10 mil pessoas tenham sido lesadas. Os alvos eram, em sua maioria, servidores públicos e aposentados. A movimentação é calculada em R$ 50 milhões.
De acordo com a investigação, procurações judiciais eram fraudadas pelos suspeitos, que contratavam empréstimos em nome de clientes, sem que as vítimas soubessem. O escritório de advocacia captava clientes prometendo questionar, na Justiça, o juro de empréstimos.
Contudo, em vez de receber o valor de eventuais indenizações, os clientes recebiam o valor decorrente de um novo empréstimo, enquanto o escritório ficava com o dinheiro obtido no processo judicial.
Os suspeitos captavam clientes por meio de associações de defesa do consumidor, sendo uma delas coordenada pela irmã de Nardon.