
Preso preventivamente por armazenamento de pornografia infantil e estupro e investigado por abusar de dezenas de crianças adolescentes, Ramiro Gonzaga Barros, 36 anos, não levantava suspeitas até janeiro deste ano, quando foi preso em flagrante, em Taquara, no Vale do Paranhana. Da investigação inicial até a descoberta dos casos, um laudo preliminar foi essencial para o flagrante.
Até esta segunda-feira (19), a Polícia Civil já havia identificado 202 possíveis vítimas e encaminhado 25 pedidos de prisão preventiva ao Judiciário, com quatro solicitações decretadas.
Motivados pela denúncia dos pais de uma menina de nove anos assediada pelas redes sociais, policiais civis e peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) foram até a casa do suspeito no dia 21 de janeiro. Ainda no local, a seção de informática do IGP encontrou arquivos que justificaram a prisão do homem.
— Quando a gente vai para o local, geralmente tem um briefing do que se trata e se prepara para isso, com informação específica ou se é sobre pornografia infanto-juvenil. A gente já leva nossas ferramentas preparadas e configuradas para isso. No caso de Taquara, a gente conseguiu identificar quantidade de armazenamento que foi suficiente para o delegado proceder a prisão em flagrante — explica o perito criminal Itallo Fabricio Alves.
No local, os peritos encontraram quantidade considerável de arquivos organizados.
— Em sua maioria, pornografia infanto-juvenil. Estavam organizados com nomes, apelidos e algumas outras informações de perfil da rede social.

Duas semanas para extrair arquivos
Após o atendimento no local dos crimes, os materiais são apreendidos e levados ao IGP, onde ocorre a chamada cópia bit a bit das informações. Isso é, uma cópia exata de todos os arquivos para computadores do IGP, mantendo íntegros os materiais apreendidos.
A depender da quantidade de material armazenado e também de barreiras de criptografia usadas pelos investigados, o processo pode demorar de horas a meses. No caso de Taquara, foram cerca de duas semanas para a extração completa.
— Essa cópia foi processada e gerou arquivos que foram analisados e categorizados. Foi feito um laudo, uma lista com essas informações e rótulos identificados nos dispositivos analisados. Esses rótulos constaram no laudo que subsidiou a identificação das vítimas.

Materiais eram inéditos
Segundo a investigação da Polícia Civil, os materiais encontrados eram inéditos — o que indica que eram produzidos pelo próprio investigado.
Isso porque, no momento da apreensão, os dados são confrontados com banco de dados de organismos internacionais que fazem essa catalogação. Esses bancos de dados não disponibilizam os arquivos em si, mas o chamado "cálculo de hash", que transforma dados em uma espécie de valor único.
A suspeita de produção dos materiais pelo investigado ocorre também pelo modo de atuação de Ramiro apurado na investigação. Morador de Taquara, o homem teria se aproximado das vítimas, entre crianças e adolescentes, em aulas de violão e artes marciais, além de atuar pelas redes sociais, nos últimos 15 anos.
Com a chamada "engenharia social", o homem, segundo a polícia, usaria a tática de se tornar amigo das vítimas para pedir imagens íntimas. Depois, ameaçaria as adolescentes a produzirem outros materiais ou se relacionarem com ele, sob pena de terem suas imagens divulgadas.
O que diz a defesa
O advogado Rodrigo Batista afirma que a defesa de Ramiro Gonzaga Barros não desconhece a gravidade dos fatos apurados, mas que atua pela garantia do devido processo penal e exercício amplo da investigação ao longo do inquérito policial.
No caso do armazenamento de pornografia infantil, a defesa diz que entende que algumas questões violaram garantias constitucionais que provocaram prejuízo no processo, como dificuldade para acesso a informações da investigação.
— No momento em que houve a apreensão do material e esse material foi remetido para perícia, o IGP realizou a perícia dos HDs e a partir dali começou a ser veiculado quantitativos de imagem, pastas, conteúdos, possíveis vídeos. O que a defesa tem até esse momento é uma única visita ao cartório da 1ª Vara Criminal da comarca de Taquara para acessar no computador do cartório a perícia é realizada pelo IGP — afirma o advogado.
Batista também diz que entrou com medida cautelar inominada para garantir o sigilo do caso.
— Desde o início da investigação, o sigilo só tem servido para cercear a defesa, impedir o acesso da defesa. As outras partes não têm esse sigilo, têm acesso amplo, inclusive de informações antecipadas que a gente acaba descobrindo pela própria mídia e não pelos autos — protesta.
Ainda sobre o sigilo, o advogado afirmou que a divulgação de dados sensíveis coloca em risco pessoas sem envolvimento com o caso. Sobre a quantidade de vítimas, o advogado aponta a mesma dificuldade de acesso de informações para se tratar do assunto.
Denuncie
- Disque 100 – recebe denúncias sobre violência contra criança e adolescente em todo o País
- Brigada Militar – pode ser acionada pelo 190 em qualquer cidade do RS
- Polícia Civil – basta ir à delegacia mais próxima ou repassar a informação pelo telefone. É possível utilizar o Disque Denúncia pelo 181. A Divisão Especial da Criança e do Adolescente (Deca) em Porto Alegre atende pelo telefone 0800-642-6400
- Conselho Tutelar – denúncias são verificadas. Em Porto Alegre, das 18h às 8h o atendimento é realizado no plantão centralizado, na Rua Fernando Machado, 657, Centro Histórico. Também há plantão aos sábados e domingos. Em casos de emergência, é possível ligar para os telefones (51) 3289-8485 ou 3289-2020. O endereço e telefone de cada uma das unidades podem ser conferidos neste link.