Mais de 11 anos após a primeira ação, o Ministério Público (MP) voltou a descobrir esquema de fraude e adulteração no leite com soda cáustica e água oxigenada.
A 13ª etapa da Operação Leite Compensado foi realizada na manhã desta quarta-feira (11), tendo como alvo principal uma empresa de Taquara, no Vale do Paranhana. Cinco pessoas foram presas.
Uma das prisões foi em flagrante, de uma funcionária da empresa. Ela estaria avisando os outros empregados sobre a ação e orientando a ocultar provas. O diretor da fábrica foi pego em casa, em Taquara. Já havia um mandado de prisão contra ele, mas ele também foi detido em flagrante por estar com arma com numeração raspada.
Os presos com mandados expedidos são:
- sócio-proprietário da empresa, Antonio Ricardo Colombo Sader
- diretor, Tales Bardo Laurindo
- supervisor, Gustavo Lauck
- engenheiro químico, Sérgio Alberto Seewald (veja o que diz a defesa dele abaixo)
As ações acontecem em Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e São Paulo.
Desde março de 2017, não havia registro de operações do tipo no Rio Grande do Sul.
Alem de residências dos alvos, os agentes entraram na sede da Dielat Laticínios, em Taquara. A ação ocorreu às 6h40min, horário de troca de turno dos funcionários. Conforme a investigação, a suspeita é de que nesse momento que a adulteração ocorria.
Por meio das Promotorias de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre e de Defesa do Consumidor, foi identificada a produção de leite, leite em pó, soro, entre outros produtos, com adição de soda cáustica e outros produtos nocivos à saúde, como água oxigenada.
O Alquimista
A ação desta quarta-feira tem ligação com a quinta etapa, realizada em novembro de 2014. O MP descobriu que um mesmo empresário preso na época voltou a atuar na fraude com consultoria. Ele é engenheiro químico e orientava como fazer a mistura.
Segundo o Ministério Público, o engenheiro é conhecido como Alquimista. Ele chegou a ser absolvido de condenação de 2005 por crime semelhante. O MP comprovou a participação dele na fábrica de Taquara, apesar de estar impedido pela Justiça de trabalhar com laticínios.
Além das prisões, a ação busca apreender celular e outras provas contra os alvos. A investigação apontou que eles só conversavam por aplicativo de mensagens e até mesmo radiocomunicadores para evitar interceptações telefônicas.
Lotes e distribuição
Os promotores Mauro Rockenbach e Alcindo Bastos explicam que os produtos da indústria de Taquara são distribuídos para todo Rio Grande do Sul, para pontos do Brasil e até para a Venezuela.
Segundo o MP, a fábrica já venceu e participa de várias licitações para fornecimento de laticínios. Recentemente, a empresa foi vencedora de certame para distribuir produtos derivados do leite para escolas de uma cidade paulista.
A Justiça não autorizou, por enquanto, a divulgação das marcas.
O MP informa que são aguardados exames mais detalhados para determinar exatamente os lotes contaminado.
Contraponto
A defesa de Sérgio Alberto Seewald sustenta que "ele não possui relação formal ou informal com a empresa Dielat". Segundo o advogado Nicholas Horn, "trata-se de uma criação de fatos por parte do Ministério Público, que não enseja a verdade". Ele acrescenta que "todas as medidas necessárias para a sua soltura estão sendo tomadas".
A reportagem tenta contato com as defesas da Dielat e dos demais investigados.
Relembre as 12 fases anteriores
- Operação Leite Compensado 1 — Maio de 2013
Para mascarar a adição de água durante o caminho entre o produtor e a indústria, transportadores adicionavam ureia — que contém formol — com o objetivo de obter maior lucro. Cerca de cem toneladas de ureia — apreendidas na ação realizada no Norte, Noroeste e Serra — foram adquiridas pelos envolvidos para utilização na prática criminosa. Autoridades cumpriram 10 mandados de prisão e oito de busca e apreensão.
- Operação Leite Compen$ado 2 — Maio de 2013
Cinco mandados de prisão preventiva foram cumpridos em Rondinha — com três presos — e Boa Vista do Buricá, no Norte, e em Horizontina, no Noroeste, com a prisão de Larri Lauri Jappe, então vereador do PDT e empresário do setor de transporte de leite cru. Foi encontrada até uma fórmula para adulteração do leite em Boa Vista do Buricá.
- Operação Leite Compen$ado 3 —Novembro de 2013
Preso um transportador e detectada a presença de água oxigenada no leite. Ação em Três de Maio, no Noroeste.
- Operação Leite Compen$ado 4 — Março de 2014
Ação em oito cidades com a prisão de um empresário em Condor, no Norte. Com ele, foi apreendida mais de meia tonelada de soda cáustica. Ações em Bossoroca e Vitória das Missões, nas Missões, Santo Augusto, no Norte, Ijuí e Panambi, no Noroeste, Tupanciretã e Capão do Cipó, na Região Central.
- Operação Leite Compen$ado 5 — Maio de 2014
Foram cumpridos três mandados de prisão em 10 cidades do Vale do Taquari e Vale do Sinos, em especial Imigrante e Paverama, sede das indústrias de laticínios Hollmann e Pavlat. Foram presos os proprietários das duas empresas. Eles foram investigados por dar ordens para adição de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada no leite. Também houve ações em Teutônia, Arroio do Meio, Encantado, Venâncio Aires, Marques de Souza, Travesseiro, Novo Hamburgo e Cruzeiro do Sul.
- Operação Leite Compen$ado 6 — Junho de 2014
Fraude do leite com ramificação no Paraná e quatro presos. A operação ocorreu nas cidades paranaenses de Londrina e Pato Branco e nos municípios gaúchos de Ijuí, Taquaruçu do Sul, Ibirubá, Campina das Missões, Alegria, Boa Vista do Buricá, Crissiumal, São Valério do Sul, São Martinho, Cruz Alta e Coronel Barros.
- Operação Leite Compen$ado 7 — Dezembro de 2014
Posto de resfriamento é interditado em Jacutinga, no norte gaúcho, e outro fica em regime de fiscalização. Havia adição de sal no leite adulterado com água. Foram cumpridos 17 mandados de prisão e outros 17 de busca e apreensão em seis municípios gaúchos: Erechim, Jacutinga, Maximiliano de Almeida, Gaurama, Viadutos e Machadinho, todos no Norte.
- Operação Leite Compen$ado 8 — Maio de 2015
Oito prisões e produtos químicos apreendidos no norte do Estado. Áudios revelam tentativa de repassar leite com larvas. Suspeitos eram donos de transportadora e motoristas. Havia adição de ureia, álcool e soda cáustica.
- Operação Leite Compen$ado 9 — Setembro de 2015
Leite azedo era vendido como saudável. Houve quatro prisões nos municípios de Esmeralda, na Serra, e Água Santa, no Norte.
- Operação Leite Compen$ado 10 — Outubro de 2015
Donos de fábrica presos por adulteração do leite. A ação ocorreu de forma simultânea com a Operação Queijo Compensado 2. Os municípios onde ocorreu o cumprimento de ordens judiciais foram Venâncio Aires, Lajeado, Mato Leitão, Arroio do Meio, Montenegro e Carlos Barbosa.
- Operação Leite Compen$ado 11 — Julho de 2016
Resultados positivos para a presença de coliformes fecais, água oxigenada e amido. A ação foi junto com a Operação Queijo Compensado 4. Cinco prisões e ações em São Pedro da Serra e Caxias do Sul, na Serra, em Estrela, no Vale do Taquari, além de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
- Operação Leite Compen$ado 12 — Março de 2017
Nova Araçá, na Serra, Casca e Marau, no Norte, Estrela e Travesseiro, no Vale do Taquari. Houve cinco prisões e quatro mandados de busca cumpridos em três laticínios. Áudios dos suspeitos, em tom de deboche, revelaram que carregamentos de leite só poderiam ter como destino a alimentação de animais.