Dois soldados e um tenente da reserva da Brigada Militar são os policiais militares investigados por envolvimento nas agressões a dois homens dentro do supermercado Unisuper, em Canoas, na Região Metropolitana. Além do trio, outros dois seguranças e dois funcionários do estabelecimento, demitidos após a divulgação do caso, foram identificados por meio de imagens de câmeras de segurança. Ao longo de 45 minutos, dois homens foram espancados num depósito, por suspeita de terem furtado peças de picanha.
Os soldados Gustavo Henrique Inácio Sousa Dias e Romeu Ribeiro Borges Neto ingressaram na Brigada Militar em 15 de março de 2021, e ainda estão em estágio probatório. O outro é um policial aposentado, o primeiro-tenente da reserva Gilmar Cardoso Rodrigues, que entrou na corporação em 1993. Um inquérito policial militar foi instaurado pela BM para investigar a conduta dos PMs. O Comando-Geral da BM informou que os dois soldados estão em funções administrativas atualmente.
Nesta quinta-feira (8), os cinco seguranças, que trabalhavam para a empresa Glock, que teve contrato encerrado com o supermercado após o caso, retornaram à Delegacia de Homicídios de Canoas para serem fotografados. Os registros feitos pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) devem ser comparadas no inquérito com as imagens gravadas pelas câmeras do supermercado.
Os investigados que trabalhavam como gerente e subgerente do estabelecimento também estiveram na delegacia. Os dois optaram por não serem fotografados e nem prestar depoimento. Segundo a defesa, os ex-funcionários passaram a receber ameaças nas redes sociais e por telefone, após divulgação do caso e das imagens deles. E, por isso, teriam optado por preservar a imagem dos clientes.
A Glock, que prestava o serviço de segurança no estabelecimento, mas estaria registrada como empresa de portaria e limpeza, não teria registro para esta atividade junto à Polícia Federal, o que é obrigatório. “A Polícia Federal realizou diligências que comprovaram o exercício das atividades de segurança privada de modo totalmente irregular e iniciou o processo administrativo de encerramento das atividades da empresa, que culminará na cassação do registro de seu CNPJ. Os respectivos processos criminais são de responsabilidade da Justiça Estadual”, informou a PF em nota.
Vítimas ouvidas
As vítimas foram ouvidas novamente nessa quarta-feira (7), e detalharam mais uma vez como teriam acontecido os fatos.
— Retiramos algumas dúvidas, alguns questionamentos que nós tínhamos. Individualizaram as condutas, reafirmaram nos depoimentos a participação de cada um dos sete investigados. Esclarecemos algumas questões acerca dos depósitos que foram feitos — afirma o Cassiano Cabral, diretor da Divisão de Homicídios da Região Metropolitana.
Um dos homens alvo das agressões relatou que também foi alvo ofensas racistas. Ele disse à polícia que foi chamado "negão chinelo" e ouviu "tinha que ser coisa de negão" enquanto era levado pelos seguranças de dentro do carro onde estava até o depósito. A polícia afirma que vai apurar esse relato e que ainda tem diligências para realizar nos próximos dias em relação ao caso. A expectativa é de concluir o inquérito na próxima semana.
Os crimes apurados são tortura, omissão de socorro (uma das vítimas teve ferimentos graves) e ocultação de provas (pela suposta exclusão das imagens), além de danos (por quebrarem celulares das vítimas) e possível extorsão, já que os suspeitos teriam exigido dinheiro para liberar os dois homens agredidos.
GZH entrou em contato com o advogado que defende os dois homens alvos das agressões, mas não obteve retorno até o momento.
Contraponto
O que diz a Glock
GZH entrou em contato com o advogado Willian Alves e aguarda posicionamento.
O que diz a defesa dos cinco seguranças
O advogado Willian Alves também representa os seguranças. GZH aguarda manifestação por parte da defesa.
O que diz a defesa de Jairo Estevan da Veiga e Adriano Luginski Dias
Os advogados Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti se manifestaram por meio de nota:
"Na condição de advogados de Jairo Estevan da Veiga e Adriano Luginski Dias, manifestamos o nosso respeito a todas as pessoas e instituições que atuam no presente caso. Por questões éticas e até mesmo em respeito à autoridade policial, nossa manifestação se dará exclusivamente nos autos."
O que diz a Unisuper
Após a divulgação do caso, a Unisuper publicou nota. Confira:
"Viemos a público nos desculpar pelos fatos ocorridos na loja da Avenida Inconfidência, em Canoas. Estamos profundamente abalados. As agressões são inaceitáveis e não condizem com a sólida história de 22 anos da Rede UniSuper, que sempre foi marcada pelo respeito ao ser humano, aos seus direitos fundamentais e a valores como transparência, trabalho em equipe e solidariedade.
Diante de uma conduta lamentável e cruel com a qual jamais concordaremos, informamos que encerramos o contrato com a empresa Glock Segurança, desligamos os funcionários envolvidos e iniciamos o trabalho de revisão de todos os nossos protocolos de segurança e de conduta. Não mediremos esforços para construir sólidos procedimentos que garantam que situações como essa jamais voltem a acontecer.
Reafirmamos o nosso compromisso com o respeito à vida e à dignidade da pessoa humana, e nos colocamos, mais uma vez, integralmente à disposição das autoridades".