GZH encontrou o autor de uma série de vídeos que circulam em grupos de WhatsApp e que mostram a ocorrência que terminou com um policial rodoviário federal aposentado morto e um dos filhos dele baleado por policiais militares. O caso aconteceu na madrugada de segunda-feira (23) em Torres, no Litoral Norte.
O homem conta que decidiu gravar quando percebeu o tumulto em frente ao prédio onde ocorreu o fato, na Rua Borges de Medeiros, na área central do município. Ele diz que assim que os filhos do aposentado, Luca e Fábio Zortea, estacionaram o Gol branco em que estavam, já se renderam e levantaram as mãos para cima como determinaram os policiais na abordagem.
— Eles (os PMs) já chegaram exaltados. A polícia de Torres faz isso faz tempo e não acontece nada. E vi que estavam cometendo excesso de novo — relata a testemunha, que não quer se identificar por temor de represália.
O policial rodoviário aposentado Fábio Zortea, 59 anos, morreu na ocorrência. Um filho dele, de mesmo nome, foi baleado numa das pernas e levado ao hospital, onde está sob custódia. O outro, Luca, está preso na delegacia da cidade.
Segundo a testemunha, entre a abordagem e o momento em que levaram as vítimas e o preso se passaram cerca de 20 minutos.
— Em nenhum momento, no início da ocorrência, eles (filhos do aposentado) reagiram. Eles (policiais) que chegaram chutando. Aí foi quando um deles (um dos filhos) se identificou como advogado, pedindo para parar, e começou a agressão — conta o homem.
Ainda conforme a testemunha, o pai viu da janela do apartamento os filhos apanhando, quando desceu para ajudar.
— Ele viu os filhos apanhando uns cinco minutos. Ele gritava lá de cima dizendo que era policial. Só depois que ele desceu para ajudar os filhos.
A testemunha afirma ainda que o policial aposentado ficou no chão por alguns minutos, já baleado, sem que os PMs chamassem o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu).
— Ali (nas imagens) ele já tinha ficado no chão um tempo. Se tu ver, a esposa dele pede ajuda para eles (PMs) e eles não chamam o Samu.
Minutos depois, os próprios policiais militares aparecem retirando a vítima do local e colocando-a na viatura para levar ao hospital. GZH entrou em contato com a instituição hospitalar para saber se o aposentado já chegou morto para atendimento, mas a administração disse que não poderia informar. A reportagem também aguarda resposta do Instituto-Geral de Perícias (IGP) para saber se houve perícia na cena do crime.
A Brigada Militar divulgou nota sobre o caso:
"A Brigada Militar manifesta-se, por meio desta nota, sobre a ocorrência na madrugada da segunda-feira (23/8), no centro de Torres, na qual houve confronto entre dois policiais do 2º BPAT e três indivíduos. Após abordagem ao veículo em que dois deles estavam, o pai de ambos saiu de dentro de um prédio e houve o confronto do qual restaram um dos homens lesionados, um PM ferido e o pai, o policial rodoviário federal aposentado Fábio Cezar Zortea, em óbito.
Em primeiro lugar, a Brigada Militar lamenta a morte do policial aposentado e reforça a integração que mantém com a Polícia Rodoviária Federal.
O Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Litoral (CRPO Litoral) já instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar os fatos e determinou como encarregado do IPM um oficial do Comando Regional, e não do 2º BPAT, a fim de manter total isenção e elucidar a ocorrência com a transparência necessária.
A Brigada Militar também informa que os policiais militares envolvidos na ocorrência já estão afastados de suas atividades e serão atendidos pelo serviço psicossocial prestado pelo Comando Regional, em Osório.
Tão logo o IPM seja concluído, no prazo máximo de 60 dias, a Brigada Militar prestará as devidas informações."