Segundo mês completo de distanciamento social no Rio Grande do Sul, maio confirma a tendência de redução dos crimes patrimoniais durante o período de menor circulação de pessoas nas ruas. Delitos como assaltos e latrocínios — roubo com morte — tiveram queda. Os dados indicam diminuição nos casos de feminicídios, após quatro meses em elevação. Por outro lado, os homicídios continuam em elevação. Os números foram divulgados nesta quarta-feira (10) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado.
Segundo os indicadores, os assassinatos de mulheres em contexto de gênero tiveram redução de 45% — passaram de 11 casos em maio do ano passado para seis no mesmo período deste ano. Em abril, o aumento nos feminicídios havia sido de 67% — de seis para 10 casos. Por outro lado, aquelas situações em que houve a tentativa de matar a mulher, mas ela sobreviveu, tiveram aumento de 31 para 37 casos – 19% a mais. Outros registros envolvendo violência doméstica tiveram queda como ameaças (21%), lesões corporais (19%), e estupros (11%). Mas nestes casos há possibilidade de subnotificação.
Mesmo com a redução, o número de feminicídios em 2020 ainda é maior do que registrado nos primeiros cinco meses do ano passado. Entre janeiro e maio, foram 43 feminicídios - 34% a mais do que os 32 do mesmo período de 2019. Até abril, no entanto, a alta nesse comparativo era de 71%. Um dos casos registrados em maio foi o de Luiza Vitória Bica Gonçalves, 22 anos, assassinada em Porto Alegre. A jovem foi morta a facadas no dia 6 de maio pelo ex-namorado Fabio Freitas de Medeiros, que fugiu em alta velocidade, capotou o veículo e foi preso.
Desde o início do distanciamento social, organizações engajadas na proteção das mulheres já vinham alertando para o risco de aumento de violência doméstica. Isso porque a vítima pode ter mais receio de denunciar o crime, por ficar isolada com o agressor. A Organização das Nações Unidas orientou os governos para que adotassem medidas de prevenção. Campanhas que incentivam as denúncias e formas alternativas de a mulher pedir ajuda começaram a receber reforço também no RS. Um vídeo foi lançado pelo governo do Estado durante o mês de maio sobre o tema.
Por meio da Delegacia Online da Polícia Civil, desde o início da pandemia, podem ser registrados casos de violência doméstica — exceto aqueles que exijam medida protetiva de urgência. Também foi disponibilizado o número de WhatsApp (51) 98444-0606. É possível encaminhar à polícia mensagens com vídeos, áudios e texto. O contato funciona 24 horas por dia e é respondido por um policial.
Tráfico impulsiona homicídios
Mesmo com o distanciamento social, os homicídios apresentam mais um mês com ligeira elevação em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram nove vítimas a mais este ano do que em 2019, passando de 145 mortes para 154 (6% de acréscimo). Os homicídios já vinham apresentando ligeiro aumento no mês de abril.
Entre as 154 vítimas de homicídio no RS em maio, 13 eram pessoas que estavam presas e ganharam liberdade, o que representa 8% do total de assassinatos no Estado. Caso essas mortes não tivessem ocorrido, o número de homicídios no mês teria sido de 141, o que representaria queda de 3% sobre os 145 registrados em maio do ano passado.
Desde a chegada da pandemia no Rio Grande do Sul, em março, até o final de maio, 40 presos que ganharam liberdade foram assassinados. O número representa alta de 90% sobre os 21 presos que tiveram liberdade concedida e foram mortos no mesmo período do ano anterior.
Em Porto Alegre, que havia tido redução dos assassinatos no mês passado, maio terminou com 24 vítimas, uma a mais (4%) que as 23 registradas no mesmo intervalo no ano passado. O governo do Estado atribui a elevação às questões envolvendo liberação de detentos do sistema prisional — por conta da pandemia — e acirramento da disputa pelo tráfico de drogas.
Menos roubos
Essa tendência de redução dos crimes patrimoniais já vinha sendo percebida no mês de abril, quando delitos como assaltos caíram pela metade no RS. Os roubos tiveram 3 mil registros a menos do que no mesmo período do ano passado — de 6.273 casos para 3.202 —queda de 49%. Nos furtos, a redução foi de 46%, com 5 mil registros a menos — de 10.708 para 5.782. O destaque foi a redução de 65% nos roubos a transporte coletivo, somando as ocorrências envolvendo passageiros e motoristas de ônibus e lotações. Houve 98 casos, menos da metade dos 279 registrados no mesmo mês de 2019.
O roubo de veículos teve redução de 21%, de 905 casos para 713. Nos furtos de veículos, a baixa foi de 33%, com 1.172 ocorrências em maio do ano passado e 781 neste ano. Os ataques a bancos — que tiveram a redução de 90% apontada como destaque positivo em abril, — em maio mantiveram queda, mas não tão expressiva. Foram oito ocorrências em todo o Estado — redução de 27% em relação às 11 registradas no mesmo período do ano anterior.
Já os latrocínios tiveram redução de 40% —foram cinco casos no ano passado e três neste ano no mês. É o menor total para o mês em 18 anos, desde que a SSP deu início à contabilização de crime no Estado, em 2002. Um dos casos registrados em maio foi a morte de Gustavo Ramos da Silva, 24 anos, dono de uma oficina em Gravataí, na Região Metropolitana, durante um assalto. Uma dupla invadiu o local em 18 de maio para roubar e acabou atirando no proprietário. A investigação concluiu que um adolescente de 14 anos, que havia sido demitido do loca duas semanas antes do crime —teria sido o responsável por planejar a ação. Ele está apreendido e dois suspeitos foram presos pelo latrocínio.