
Por Darcy Ribeiro Pinto Filho (*) e Fabiola Adélia Perin (**)
Suar é uma função fisiológica essencial para manter a temperatura corporal estável. Em ambientes quentes, suamos para resfriar o corpo, enquanto em temperaturas frias, a sudorese diminui para conservar o calor. Quando esse equilíbrio se rompe e ocorre sudorese excessiva, independentemente da temperatura externa, especialmente em áreas como cabeça, axilas, mãos e pés, diagnostica-se a hiperidrose primária localizada.
Esse transtorno, que não tem causa conhecida, afeta cerca de 3% da população, sem distinção de sexo ou raça. Em 25% a 50% dos casos, pode haver um histórico familiar.
A hiperidrose primária gera impactos significativos nas esferas psicológica, social e ocupacional de seus portadores. O suor excessivo em regiões visíveis, como axilas e rosto, pode causar constrangimento em interações sociais, evitando o contato físico.
A hiperidrose é um transtorno comum, mas pouco discutido e frequentemente subestimado, que impacta a saúde mental, as relações sociais e as atividades profissionais.
Para escapar de situações embaraçosas, muitos optam por se isolar, o que pode resultar em solidão. Eventos sociais comuns, como festas e reuniões, tornam-se fontes de estresse, levando ao afastamento desses compromissos. O medo do julgamento alheio pode intensificar ainda mais a ansiedade. Esses elementos podem criar um ciclo vicioso em que o estresse e a ansiedade exacerbam os sintomas da hiperidrose, prejudicando ainda mais a vida social.
Como tratar a hiperidrose
A boa notícia é que existem várias alternativas terapêuticas disponíveis. Os tratamentos para hiperidrose variam conforme a intensidade dos sintomas e a localização da sudorese. As opções não cirúrgicas incluem antitranspirantes tópicos com cloreto de alumínio, injeções de toxina botulínica (Botox) e medicamentos anticolinérgicos. Embora eficazes, esses tratamentos são paliativos e oferecem apenas controle temporário dos sintomas.
A alternativa mais eficaz e duradoura para o controle da hiperidrose localizada é uma cirurgia chamada simpatectomia torácica. Esta é feita por videotoracoscopia, com pequenas incisões de aproximadamente 1 cm, uma na axila e outra próxima ao mamilo em homens, ou abaixo da mama em mulheres.
Durante a operação, uma pequena secção do nervo simpático é realizada, interrompendo o estímulo para a produção de suor. Com um tempo de anestesia de cerca de 30 minutos e uma recuperação de aproximadamente duas horas, não é necessária internação hospitalar, e os pacientes geralmente experimentam a cessação imediata da sudorese.
A simpatectomia torácica é indicada para casos de hiperidrose craniofacial, rubor facial, sudorese axilar e palmar. Embora a hiperidrose plantar possa melhorar com esta abordagem, sua solução pode exigir um procedimento abdominal mais complexo. Como em todo procedimento, uma consulta com um especialista é importante para avaliação das vantagens, assim como dos riscos associados. O cirurgião torácico é o profissional mais qualificado para avaliar a necessidade e realizar o procedimento.
Efeitos colaterais
Um dos efeitos colaterais potenciais da simpatectomia torácica é o desenvolvimento de sudorese compensatória, que é um aumento do suor em áreas como o abdômen, dorso e pernas. Embora as técnicas cirúrgicas tenham reduzido significativamente esse efeito, é crucial mencioná-lo, pois o procedimento é irreversível. O retorno às atividades normais é rápido, geralmente em três a sete dias, com apenas a recomendação de evitar levantar pesos.
Em resumo, a hiperidrose é um transtorno comum, mas pouco discutido e frequentemente subestimado, que apresenta impactos significativos na saúde mental, nas relações sociais e nas atividades profissionais. Suar é normal; suar em excesso, não. Felizmente temos disponível uma solução efetiva, com baixa morbidade, para os casos em que a cirurgia é indicada.
(*) Prof. Cirurgia Torácica da Universidade de Caxias do Sul e titular da Academia Sul Rio-Grandense de Medicina (ASRM)
(**) Presidente da Sociedade de Cirurgia Torácica do RS e membro do Programa de Novos Talentos da ASRM
Parceria com a Academia
Este artigo faz parte da parceria firmada entre Zero Hora e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM) em março de 2022. Uma vez por mês, o caderno Vida publica conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos da entidade, que completou 30 anos em 2020, conta com cerca de 90 membros de diversas especialidades (oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia, otorrinolaringologia etc.) e atualmente é presidida pelo psiquiatra Sérgio de Paula Ramos. Os textos são assinados por um profissional integrante do Programa Novos Talentos da ASRM, que tem coordenação do eletrofisiologista Leandro Zimerman, e por um tutor com larga experiência na área.