Há quem diga aqui em casa que eu não quero participar dos processos escolares das meninas, mas a verdade é que quero, só que não consigo. Tudo começou muito cedo, quando depois de quatro meses de licença maternidade e um mês de férias, minha mulher precisou voltar a trabalhar. Sem babá ou avó por perto, tínhamos que ir na creche todos os dias junto com a bebê, para o que a escola chama de "período de adaptação".
Era um tormento abandonar minha filha recém-nascida nos braços de qualquer pessoa, quanto mais uma pessoa que precisaria cuidar de outras crianças recém nascidas. Suava frio e disparava o miocárdio só de ver aquele monte de bercinhos. E se chorarem todas ao mesmo tempo? E se minha filha engasgar e ninguém perceber? E se trocarem as crianças, que nesses primeiros meses são todas meio parecidas? Com o tempo, percebi que o "período de adaptação" tem esse nome não por causa da adaptação necessária para a criança se ambientar na escola. É um período de adaptação para os pais!
Precisei de uma temporada estendida de adaptação e quando consegui deixar a pequena na escola sozinha, ela já devia ter uns 18 anos. Aí então vem uma segunda fase: a partir do momento em que começa a entender que está sendo deixada na creche, a criança chora pra não ir à escola. E aí, amigos, não há nada que corte mais o coração de um pai do que entregar seu filho chorando para outra pessoa cuidar. Cansei de levar minha filha na escola, de vê-la chorando e dizendo que não quer entrar na creche, uma menininha gordinha de dois anos implorando "só hoje, papai. Buáááááá. Não quero ir pra escola, papai", e trazê-la de volta pra casa, pra que a minha mulher faça o trabalho. Minha mulher é muito melhor em entregá-la na escola.
Os insensíveis dizem que isso é manha da criança, que ela está querendo me manipular. Pois, então, parabéns, porque está tendo sucesso. Pra mim, parece um choro de decepção, um lamento sincero de quem esperava mais de mim. Sou o pior pai do mundo no quesito entregar a filha na creche. Meu período de adaptação ainda não acabou.