O pai estava preocupado com o desvio dos dentinhos do Denis que, com cinco anos, não conseguia abandonar a chupeta. E o Denis estava incomodado com o cheiro de cigarro do pai que, com mais de 30 anos, não conseguia abandonar o fumo. Numa conversa destas de "Tu já tá grande, filho. Na escolinha, ninguém mais quer chupeta pra dormir...", o garoto propôs: "Tá bem, pai, deixo a chupeta e tu deixa o cigarro". Trato feito. Cada um estava respeitando o acordo, até que o vício do pai foi mais forte. Não esperava uma repreensão tão poderosa - olhos cheios de lágrimas e voz de decepção: "Pai, a gente combinou! Toda noite eu fico com muita saudade da minha chupeta, mas eu aguento, e tu fazendo isto!".
Parece mentira, mas mesmo sabendo dos malefícios, alguns pais têm coragem de fumar na presença dos filhos. A questão do fumo passivo ganhou ênfase quando estudos comprovaram que os indivíduos que não fumavam, mas eram expostos à fumaça de cigarro, corriam os mesmos riscos daqueles que o faziam. Quando um não fumante inala fumaça do cigarro, o corpo começa a metabolizar a nicotina.
Na média, as crianças são mais expostas do que os adultos não fumantes. Um estudo americano de setembro de 2010 mostrou que, em 10 anos de avaliação, mais de 50% das crianças de três a 11 anos eram expostas à fumaça de cigarro. Esse percentual permanece semelhante. A fonte primária de exposição é a própria casa, mas há os carros dos pais, as escolas e outros locais. Não fumantes que moram em apartamentos com vizinhos que têm o hábito também se tornam tabagistas involuntários. Hoje, sabe-se que os componentes da fumaça permanecem no ar e nas superfícies.
Em crianças, o fumo passivo causa infecções respiratórias, e o risco é maior quando a mãe é fumante. As infecções dos ouvidos - as otites - também são mais frequentes e repetidas. Aumenta a probabilidade de desenvolver asma e, nestas crianças, as crises são mais frequentes e mais graves. Comprovou-se até maior risco de síndrome da morte súbita infantil. Acontecem ainda déficit de atenção, problemas de sono, alterações comportamentais e no rendimento escolar.
O ato de fumar um cigarro promove efeitos imediatos na maioria dos órgãos do indivíduo. A fumaça inalada contém milhares de substâncias químicas, muitas carcinogênicas. As partículas são irritantes físicos ao delicado tecido pulmonar, levando à reação inflamatória e alérgica que progride para doenças crônicas e enfisema. A longo prazo causa câncer, não só do pulmão, mas de vários órgãos, e até leucemia. A nicotina chega ao cérebro em 10 segundos, trazendo sensação prazerosa, mas também provoca aceleração do coração e aumento da pressão sanguínea, que contribui para doença cardiovascular. É altamente viciante, principalmente entre os adolescentes. De fato, notou-se sinais de dependência à nicotina em alguns indivíduos antes de fumarem o primeiro cigarro, somente por exposição passiva!
No Brasil, segundo dados do IBGE, 15% da população adulta fuma; 90% iniciaram na adolescência. Um terço dos adolescentes que "brincam de fumar" ficará dependente. E, em geral, começam cedo. Dicas para quebrar esta cadeia de danos:
> Pare de fumar! Os pais são os primeiros e mais influentes modelos de uma criança. Pai ou mãe fumante traz risco três vezes maior de o filho ser fumante ativo.
> Não permita que fumem na presença dos pequenos.
> Assuma conduta ativa na vida social do seu filho. Converse sobre os riscos. Além disso, incentive seu filho a participar de atividades como esportes, música e voluntariado, que ajudam a promover um estilo de vida saudável.
Ah! A história acima acabou no abraço do pai que, desde então e há mais de 10 anos, não quer saber de cigarro.