No Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, celebrado em 11 de outubro, especialistas reforçam o alerta sobre o aumento dos casos de obesidade no Brasil e no mundo. A endocrinologista Mariana Lins, da Santa Casa de Porto Alegre, destaca que cerca de 60% a 70% dos adultos brasileiros estão acima do peso, sendo que um em cada três já apresenta índices de obesidade.
O cenário é preocupante, pois a doença está associada a diversas complicações crônicas e ao aumento da mortalidade.
Segundo a endocrinologista, a obesidade é uma condição multifatorial, envolvendo fatores genéticos, ambientais e comportamentais.
— Em torno de 40 a 70% do peso de alguém é determinado de forma hereditária — explica a especialista, ressaltando que a presença de familiares obesos aumenta significativamente o risco individual.
No entanto, o ambiente moderno, marcado pelo sedentarismo e pelo consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, tem potencializado o avanço da doença nas últimas décadas.

Alimentação e sedentarismo: vilões contemporâneos
A endocrinologista aponta que, apesar de uma maior conscientização sobre alimentação saudável nos últimos anos, o movimento ainda é lento e muitos produtos considerados saudáveis não cumprem o que prometem. “Descascar mais e desembalar menos” é o lema adotado pelos profissionais da área, incentivando o consumo de alimentos in natura e a escolha de produtos com o mínimo de ingredientes possível. Mariana exemplifica:
— É muito melhor optar por um iogurte natural desnatado e adicionar mel em casa do que comprar um produto com lista extensa de ingredientes.
Além da alimentação inadequada, o sedentarismo é outro fator relevante. Profissões cada vez mais estáticas e a redução da atividade física diária contribuem para o aumento do peso corporal. A exposição à poluição também foi mencionada como possível desencadeadora de alterações cerebrais que estimulam o apetite, segundo evidências científicas recentes.
Diagnóstico e riscos associados à obesidade
O diagnóstico da obesidade vai além do simples cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Mariana Lins esclarece que é fundamental avaliar a distribuição da gordura corporal, especialmente a localizada no abdômen, que está relacionada ao maior risco de doenças cardiometabólicas e hepáticas.
— Nem todo peso em excesso necessariamente traz uma doença mais grave, mas a gordura abdominal é um fator de risco importante — afirma.
Atualmente, tecnologias como bioimpedância, ultrassom e tomografia permitem identificar com precisão onde está o excesso de gordura, inclusive nos órgãos internos. A especialista reforça que a perda de peso, aliada à reeducação alimentar e à prática de exercícios, pode reduzir a gordura hepática e melhorar o quadro clínico do paciente.
Novos tratamentos: canetas para obesidade e cirurgia bariátrica
Nos últimos anos, as chamadas “canetas emagrecedoras” revolucionaram o tratamento da obesidade.
Mariana Lins destaca que esses medicamentos oferecem maior segurança e eficácia em comparação aos tratamentos anteriores, mas alerta para o uso responsável.

— O uso das canetas mudou a forma como tratamos a obesidade, mas é fundamental que o tratamento seja orientado por um profissional e acompanhado de mudanças nutricionais e comportamentais —ressalta.
O uso "recreacional" dessas medicações, sem indicação médica, é criticado pela endocrinologista, que reforça a necessidade de acompanhamento contínuo, semelhante ao tratamento de outras doenças crônicas como a hipertensão.
Desde junho deste ano, a venda das canetas passou a exigir receita médica, o que contribuiu para um uso mais consciente por parte dos pacientes.
Em relação à cirurgia bariátrica, Mariana explica que a indicação depende do IMC e da presença de comorbidades. Pacientes com IMC acima de 35 e doenças associadas podem ser encaminhados à cirurgia, enquanto aqueles com IMC acima de 40 não precisam apresentar comorbidades.
Os novos medicamentos têm permitido que alguns pacientes alcancem perdas de peso significativas, reduzindo a necessidade da intervenção cirúrgica em determinados casos.
Aspectos emocionais e compulsão alimentar
A relação entre alimentação e estado emocional também foi abordada durante a entrevista. Mariana Lins esclarece que a compulsão alimentar é uma doença psiquiátrica que exige diagnóstico e tratamento específico.
— Comer por emoção é diferente de compulsão alimentar. Muitas vezes, é necessário associar terapia ao tratamento da obesidade para lidar com esses comportamentos — explica.
O acompanhamento multidisciplinar, envolvendo médicos, nutricionistas e psicólogos, é considerado essencial para o sucesso do tratamento, especialmente em casos de ansiedade e compulsão alimentar. A especialista reforça que apenas o uso de medicamentos não é suficiente para modificar hábitos e comportamentos arraigados.
Prevenção e conscientização: desafios para o futuro
O Dia Nacional de Prevenção da Obesidade serve como oportunidade para ampliar o debate sobre o tema e incentivar a adoção de hábitos saudáveis. Mariana Lins acredita que, apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito para conter o crescimento da doença.
— Estamos começando a ficar mais conscientes sobre alimentação, mas é um processo lento. A prevenção e o tratamento exigem compromisso contínuo — conclui.
Para quem busca orientação, a endocrinologista disponibiliza informações em suas redes sociais e reforça a importância do acompanhamento profissional. O combate à obesidade demanda esforços conjuntos da sociedade, profissionais de saúde e políticas públicas, visando promover qualidade de vida e reduzir os impactos da doença.



