— A população ainda associa (o SUS) muito à consulta médica e à vacinação — afirma Denise Fonseca, gerente da Unidade de Saúde Fradique Vizeu, em Porto Alegre.
Inseridas nas localidades onde vive a população, as unidades básicas de saúde (UBSs) são a principal porta de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), que completa 35 anos. O cuidado integral, um dos princípios do SUS, pressupõe o atendimento completo e contínuo, considerando o paciente em sua totalidade – o que inclui outros serviços e estruturas que se somam.
As próprias UBSs oferecem uma gama de opções. A população pode acessar consultas de enfermagem, testagens rápidas para HIV, sífilis e hepatites, exames ginecológicos, entre outras formas de cuidado. As especialidades variam de acordo com o município.
Odontologia
Embora o serviço não esteja presente em todos os municípios e unidades, algumas delas oferecem o serviço de odontologia, como na Unidade de Saúde (US) Fradique Vizeu, no bairro Navegantes, em Porto Alegre. As atividades incluem restaurações, limpezas, extrações de urgência, além de visitas domiciliares e atividades em escolas com orientações.
Embora a unidade acolha os pacientes e identifique suas demandas, procedimentos mais complexos, como próteses e canais, são encaminhados para serviços secundários – sendo todo tratamento gratuito para a população.
A população atendida é, muitas vezes, vulnerável e carente de orientações, com necessidades odontológicas e com doenças como cáries. A procura pelo serviço é alta, com as agendas cheias.
— Eu acho que o SUS é fundamental. Porque tem pessoas que a gente vê que não conseguem ter acesso às coisas básicas. E a gente consegue fornecer para eles isso, que seria o essencial para viver, comer bem sem dor, dignidade, dar um sorriso, ter qualidade de vida, sorrir para conseguir buscar um emprego — relata Gabriel Pegoraro, cirurgião dentista.
As dificuldades estão justamente atreladas à alta demanda e à falta de mais profissionais, recursos e estrutura para dar conta do volume de atendimentos. Pegoraro aponta que um desafio para o SUS é ampliar a oferta de serviços especializados e de urgência para reduzir o tempo de espera.
— A população realmente precisa do serviço — salienta.

Grupos de acompanhamento
Equipes Multiprofissionais na Atenção Primária à Saúde (eMulti) têm ampliado e qualificado o cuidado na atenção básica. Na US Fradique Vizeu, há uma eMulti composta por psicólogos, nutricionista, profissional de educação física, fisioterapeuta, psiquiatra e fonoaudiólogo, e também atende pacientes de outras unidades.
Além de atendimentos individuais quando necessário, a equipe oferece atividades coletivas, como o grupo de alimentação saudável, de autocuidado, de práticas corporais e de atividade física. As unidades básicas também podem ofertar grupos próprios, voltados, por exemplo, para tabagismo, gestantes e empoderamento feminino.
Nutrição
Alguns postos oferecem atendimentos de nutrição. No caso da Fradique Vizeu, além dos grupos, a eMulti pode oferecer consultas individuais, mediante encaminhamento da enfermagem ou do médico. Há grande demanda relacionada a doenças crônicas como obesidade, diabetes e hipertensão, ligadas à alimentação, aponta Letícia Schuh, nutricionista da eMulti. O trabalho foca em orientações para mudanças de hábitos alimentares.
— Tem muitas pessoas que vêm, voltam nas consultas, relatam que estão se sentindo melhor, dormindo melhor, conseguindo se alimentar. A gente vê nos exames esse impacto das mudanças. Esse retorno, que as pessoas trazem nos atendimentos, nos grupos, de como mudou a vida delas, é o que faz tudo fazer sentido — conta.

A importância do território
Professor de Saúde Coletiva na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e médico de família e comunidade, Airton Stein destaca a importância da atuação nos territórios, especialmente por meio da atenção primária. A descentralização e o investimento nas comunidades são fundamentais para a sustentabilidade do SUS.
O especialista aponta que muitos problemas de saúde poderiam ser resolvidos em nível local, evitando a superlotação das emergências. O professor salienta ainda a necessidade de equipes com profissionais diversificados atuando diretamente na comunidade, para promover a saúde e prevenir doenças. Os agentes comunitários são outra faceta dos serviços e cuidados ofertados no SUS.

A principal atribuição dos agentes é ser o elo entre a UBS e a comunidade. Diariamente, os profissionais visitam as residências para acompanhar hipertensos, diabéticos, gestantes e buscar crianças para vacinação, identificando problemas e levando as demandas para a equipe da unidade.
— Não imagino essa população tendo que pagar uma consulta, pagar um procedimento. Não tem como — avalia Carla Marques, agente comunitária de saúde na US Fradique Vizeu.
As visitas garantem que mesmo aqueles que não conseguem ir ao posto recebam assistência, especialmente idosos. No entanto, a atuação ainda esbarra na falta de pessoal: o número de agentes no território foi reduzido de seis para três, enquanto a demanda cresceu. As agentes veem esse número insuficiente como um grande desafio para atender a vasta população no SUS.





