
Embora nem todos percebam, o Sistema Único de Saúde (SUS) está presente em diferentes esferas da vida da população brasileira: na comida do restaurante, na água da torneira, em medicamentos e na assistência à saúde. Nesta sexta-feira (19), o SUS completa 35 anos estabelecido no cotidiano da sociedade, com avanços e desafios.
Além dos hospitais e das unidades básicas de saúde, diversas instituições carregam a cruz azul que representa o SUS, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que oferecem atendimento em saúde mental e para álcool e outras drogas; os bancos de sangue e de leite; e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que presta importante auxílio.
Por trás de cada atendimento ou ação, estão os profissionais – como o motorista da ambulância:
— Cada volta é um sorriso, quando a gente consegue salvar uma vida — ressalta José Carlos da Silva, condutor do Samu Porto Alegre.
Do motorista ao regulador, os profissionais envolvidos em todas as etapas são fundamentais para salvar vidas – e cada segundo conta.
Pioneirismo: 30 anos do Samu POA
Um dos pioneiros na implantação do serviço no Brasil, o Samu Porto Alegre completa 30 anos em 2025. No Rio Grande do Sul, há cinco centrais em operação, divididas em estadual e municipais.
Os médicos reguladores atendem a cerca de 300 ligações por dia. O tempo médio para o atendimento de situações de risco é de 15 minutos, e para situações menos graves, 18. Conforme o coordenador do Samu Porto Alegre, Fabiano Barrionuevo, as equipes recebem treinamento para atender a todo tipo de situação.
Médico emergencista e toxicologista, Paulo Tigre trabalha tanto na central de regulação quanto nas ambulâncias. Para ele, o Samu é um serviço fundamental, pois, ao contrário do passado, permite que pacientes com traumas graves cheguem vivos e estabilizados aos hospitais corretos, aumentando as chances de recuperação e diminuindo sequelas.
— Há muito tempo, na época que eu me formei, dificilmente chegavam na emergência vítimas de acidentes de trânsito, por exemplo, em que uma artéria do corpo se rompe. Porque o tempo que demorava para tirar esse doente do acidente, colocar num carro, ou os bombeiros resgatarem, ele já chegaria morto — relembra.
Assim, o Samu reduz a mortalidade e o tempo de deslocamento. Tigre enfatiza que as pessoas podem também receber orientações e suporte médico enquanto aguardam a chegada da ambulância, como em casos de crise diabética ou parada cardíaca.
Além disso, o Samu é um serviço do SUS que socorre pessoas de todas as classes sociais – incluindo pacientes que utilizam planos de saúde, encaminhando-os para hospitais privados e, desta maneira, deixando leitos do SUS livres. O serviço faz a regulação dos leitos de emergência, realizando o deslocamento de pacientes em UPAs para hospitais.
A principal dificuldade hoje, para Tigre, é a falta de educação da população sobre o uso correto do serviço 192 e a função do Samu, o que impede a otimização dos recursos do SUS. As pessoas têm ligado cada vez mais sem necessidade, conforme Barrionuevo – cerca de 20% das ligações que passam pela triagem são de demandas não pertinentes ao Samu.
Técnica de enfermagem e socorrista, Mariana de Paula aponta como dificuldade a superlotação nos hospitais, o que, por vezes, impede o encaminhamento do paciente para o local mais adequado. Ela considera o Samu um serviço diferenciado por conseguir atender as pessoas em seu momento mais crítico, no local onde a emergência acontece, o que difere da estrutura de um hospital – e de forma gratuita para toda a população.
— É o que nos incentiva, é o que incentiva cada socorrista do Samu. É estar fazendo a diferença, naquele momento que a pessoa realmente mais precisa — orgulha-se.
Com um importante papel social, o Samu oferece educação em saúde para a população, explica Barrionuevo. Para comemorar os 30 anos, o serviço voltou a oferecer treinamentos gratuitos de primeiros socorros à população, capacitando as pessoas para agirem em situações de emergência antes da chegada do serviço. Interessados podem fazer cadastro por formulário.
Vigilância Sanitária também é SUS
Os fiscais da vigilância sanitária também são importantes profissionais do SUS, ainda que o órgão seja menos associado ao sistema. Esta é apenas uma das áreas da vigilância em saúde – cuja responsabilidade é cuidar e proteger a população de riscos relacionados à saúde.
— Quando a gente pergunta para as pessoas se elas utilizam o SUS, a maioria diz que não, sem perceber que a vigilância está presente. A água que a pessoa toma tem uma ação da vigilância por trás. O medicamento que a pessoa compra tem uma vigilância por trás. Então, são diversas as ações, mas elas não aparecem, as pessoas não identificam, na verdade, as ações da vigilância, e muito menos relacionam com o SUS — relata Leticia Dutra, bióloga, que foi fiscal por três anos e atualmente é gerente de Vigilância em Saúde de Novo Hamburgo.
Cada área, com seus profissionais, tem responsabilidades específicas. Muito além de “só multar”, a vigilância sanitária fiscaliza e realiza inspeções para emissão de alvarás em estabelecimentos que fornecem ou processam alimentos, bem como estabelecimentos de saúde, para garantir medidas de higiene.
Já a vigilância ambiental monitora doenças e agravos relacionados a animais. A área é crucial no monitoramento da qualidade da água para consumo humano, pelo programa Vigiagua, do Ministério da Saúde.
A vigilância epidemiológica foca no controle de doenças de notificação compulsória, surtos (como dengue, gastroenterites e covid-19) e registro de mortes. Os agentes de combate a endemias também são fundamentais para a educação e promoção de cuidados, visitando casas para orientar sobre a proliferação de mosquitos e cuidados com animais, como galinhas, aponta Letícia.
A vigilância em saúde do trabalhador investiga acidentes e doenças no ambiente de trabalho. Outro aspecto crucial da vigilância em saúde são as imunizações, que também fazem parte do SUS e são essenciais para controlar a proliferação de doenças.
— Quando a gente previne, evita que as pessoas fiquem doentes, que elas precisem de medicamento, atendimento médico, uma internação hospitalar, um plantão de uma UPA, por exemplo, ou de um hospital. Então, a vigilância em saúde vem bem antes desses outros serviços — explica Vanessa Backes, nutricionista e diretora do Centro de Vigilância em Saúde de São Leopoldo.
O trabalho dos profissionais da vigilância é de alta demanda e ocorre nos "bastidores", sendo mais fiscalizatório e de inspeção, com equipes especializadas por área (alimentos, clínicas, indústrias, lares de idosos etc.), conforme Vanessa.





