
Quem precisa de uma consulta com um médico especialista no Sistema Único de Saúde (SUS) pode ter que esperar meio ano no Rio Grande do Sul. O tempo médio é estimado pelo RegulaSUS, programa que faz os encaminhamentos de 19 centrais estaduais para 1.491 especialidades e subespecialidades disponíveis.
A espera já foi maior. Em dezembro de 2024, chegava a uma média de 196 dias. No período, o Estado tinha 430 mil solicitações para consulta médica especializada. Em agosto, foram 394 mil encaminhamentos. No começo de setembro deste ano, o número de pedidos estava em 388,5 mil.
Já a quantidade de pessoas aguardando atendimento era de 355,8 mil no início deste mês. A melhora no quadro é atribuída a uma parceria da Secretaria Estadual de Saúde (SES) com o TelessaúdeRS, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que passou a regular as consultas especializadas a partir do final de 2024, com o RegulaSUS.
— Passou um período inicial de 2025 em que a gente estabilizou a fila, que ela não continuou crescendo exponencialmente como estava e, agora, começou a cair de novo. Então, a gente vê que também é um trabalho que demora um pouquinho até a gente conseguir ver os resultados mais impactantes — avalia a médica de família, teleconsultora e reguladora do Telessaúde, Juliana Nunes Pfeil.
Há cinco anos, Rogério Borba, 60 anos, começou a apresentar problemas na próstata, época em que iniciou uma saga na rede pública de saúde de Passo Fundo, no norte do Estado. Ele conta que desde fevereiro de 2024, aguarda ser chamado para consultar com um urologista e seguir com o tratamento.
— Faz um ano e pouco que não tenho retorno, não tem especialista no município, só falam em Gercon (sistema de regulação de consultas especializadas do SUS), mas até agora não me chamaram. Estou aguardando — relata Borba.
Em 2023, ele diz que precisou viajar a Serafina Corrêa, a 84 quilômetros de Passo Fundo, para realizar uma biópsia. O procedimento tem prioridade no SUS, mas o município não tinha disponibilidade e o paciente precisou ser remanejado.
Manter tratamentos na atenção primária
Surgido dentro da UFRGS, o TelessaúdeRS operava um canal 0800 para profissionais da atenção básica tirarem dúvidas sobre diagnósticos em todo o país. Após o encerramento da parceria com o Ministério da Saúde, em agosto de 2024, o projeto recebeu investimento do governo do Estado para operar o RegulaSUS, gerenciando as consultas do Estado (Gercon), com repasse de cerca de R$ 2 milhões mensais.
O diferencial da iniciativa, segundo Juliana, é que há situações em que o paciente pode ser tratado na rede de saúde do próprio município, não precisando mais ficar na fila. Para 11 especialidades, há a possibilidade de o médico da atenção primária entrar em contato por telefone (0800 644 6543) e receber as orientações do Telessaúde.
Para as outras, que não contam com essa opção, os profissionais utilizam a própria ferramenta do Gercon para debater diagnósticos e tratamentos.
— Nesses casos, a gente conversa com o médico que atua no município, na unidade de saúde, discute o caso e faz orientações de como é que se poderia manejar essa pessoa. E todas as orientações que são feitas são baseadas em evidência científica. Então, acaba que é uma espécie de educação continuada, para o médico que está atendendo no posto de saúde, no seu município. E aí o caso é discutido, e pode ser encaminhado ou não — explica Juliana.
Especialidades que podem ter discussão pelo 0800:
- Dermatologia
- Endocrinologia
- Gastroenterologia
- Ginecologia
- Obstetrícia
- Hematologia
- Infectologia
- Nefrologia
- Neurologia
- Pneumologia
- Reumatologia
- Urologia
Os médicos contratados pelo convênio do Estado com o Telessaúde analisam as solicitações de encaminhamento e classificam os casos, priorizando situações de risco. Em agosto deste ano, foram 77 mil pedidos novos para consultas especializadas no Estado.
Destes, 13 mil foram classificados como prioritários. Nesses casos, o tempo de espera cai para cerca de 40 dias.
— É bastante, mas lembrando que não é urgência de ter atendimento em emergência. No Gercon, que são essas consultas que a gente regula, são atendimentos eletivos. Se a pessoa tem uma coisa com risco de vida, ela vai ser atendida na emergência hospitalar — reconhece Juliana.

Em oito meses de atuação, o RegulaSUS estima que 45% dos casos podem ser resolvidos nos municípios, sem a necessidade de manter o encaminhamento. Se consideradas as especialidades que podem ser discutidas pelo canal telefônico, o número aumenta para 55%.
A especialidade com maior impacto foi reumatologia, que trata doenças em articulações e ossos, por exemplo. Nesta área, 74% dos casos puderam ser resolvidos no município de origem do paciente, de acordo com o convênio.
O projeto não atende solicitações de Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul e Pelotas, municípios com gestão plena. Nesses casos, a prefeitura assume o sistema de saúde e tem autonomia e responsabilidade para organizar, financiar e executar os serviços.
A ideia do RegulaSUS é atender a demanda das pessoas o mais perto de casa. No entanto, quando não há especialista disponível ou quando o problema necessita de maior tecnologia e de uma instituição de maior complexidade, se encaminha o paciente para a referência regional ou, se necessário, para Porto Alegre.
Oftalmologia lidera os pedidos de consulta
Conforme o RegulaSUS, a maior fila hoje no Estado é para oftalmologia, que em setembro está com 85,7 mil encaminhamentos. Em dezembro de 2024, quando o projeto assumiu a gestão das consultas, eram 101 mil pedidos. De lá para cá, o tempo médio de espera foi de 196 dias para 185 dias.
A pneumologia foi a especialidade com maior redução em tempo de espera, saindo de uma média de 67 dias, em dezembro de 2024, para 21 dias em agosto deste ano. No mesmo período, o número de pedidos de consulta caiu de 5.319 para 4.860, queda de 8,6%.






