
Milhões de reais investidos por hospitais privados de referência estão transformando o Sistema Único de Saúde (SUS). Pesquisas científicas capazes de modificar condutas, tratamentos e desfechos, e capacitações de equipes e de comunidades são algumas das ações que se traduzem em impactos positivos na saúde pública. Os projetos integram o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) e têm como objetivo apoiar e aprimorar o SUS.
Criado em 2009, o programa é uma aliança entre sete hospitais de excelência sem fins lucrativos no Brasil e o Ministério da Saúde. Os projetos envolvem, ainda, avaliação e incorporação de tecnologias, gestão e assistência especializada. Embora o Proadi-SUS já exista há mais de 15 anos, suas contribuições ainda são pouco conhecidas pela população.
Somente uma instituição de fora de São Paulo integra a iniciativa: o Hospital Moinhos de Vento (HMV), em Porto Alegre.
— São estudos que podem mudar a prática assistencial lá na ponta. Não necessariamente apenas no SUS, mas no mundo inteiro — ressalta o médico pesquisador Regis Rosa, chefe do serviço de medicina interna do HMV e responsável técnico de alguns projetos do Proadi-SUS.
Admilson Reis, superintendente de Responsabilidade e Gestão de Riscos do HMV e responsável pelos projetos do Proadi-SUS, acrescenta:
— Cuidar da saúde é também compartilhar conhecimento.
Como o Proadi-SUS funciona
Os projetos são geridos com recursos dos hospitais participantes, que, como contrapartida à imunidade fiscal, destinam os valores correspondentes a alguns tributos para iniciativas que impactam o desenvolvimento do SUS.
As demandas prioritárias são definidas pelos hospitais com o Ministério da Saúde, conselhos de secretários e secretárias de saúde, áreas técnicas e entidades de classe, entre outros. As iniciativas buscam garantir abrangência e benefícios em todas as regiões do Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, 70% da população depende exclusivamente do SUS.
O programa já investiu mais de R$ 10 bilhões em 939 projetos, conforme a pasta. No triênio 2024-2026, são 189 projetos. O Proadi-SUS também está alinhado ao programa Agora Tem Especialistas — o projeto Formação em Serviço: Aprimoramento para Médicos Especialistas, do HMV, visa à ampliação do acesso a cuidados especializados em territórios com carência assistencial.
Os impactos dos projetos
Um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) que avaliou os impactos do Proadi-SUS apontou que, entre 2018 e 2023, o programa obteve um multiplicador médio de 3,25 — ou seja, a cada R$ 1 de imunidade fiscal aplicado, houve um retorno econômico de R$ 3,25, além da criação de mais de cem mil empregos diretos e indiretos.
— Do ponto de vista de custo-efetividade, investir em geração de conhecimento no nosso meio é muito importante para o desenvolvimento de uma nação — avalia Rosa, do HMV.
Projetos em andamento

No HMV, há 38 projetos em andamento. As iniciativas são relevantes para o SUS e em termos de prática de pesquisa, conforme Rosa:
— O ministério fica com a tecnologia. As tecnologias de pesquisa ficam como legado — aponta, destacando que, muitas vezes, são estudos que a indústria não desenvolve, baseados em tecnologias e soluções simplificadas.
Conheça alguns projetos:
Promote
Polipílula que combina medicamentos para hipertensão arterial e colesterol, focada na prevenção de AVC, doença incapacitante. Somada a mudanças no estilo de vida, tem mostrado redução de pressão arterial, melhora cardiovascular e diminuição do risco. Pode facilitar a adesão ao concentrar medicamentos. Tem contribuído para a reorganização do cuidado cardiovascular no SUS em relação aos fatores de risco.
Ótimo
Avalia se o tratamento de câncer de mama HER2-positivo com trastuzumabe por seis meses é tão eficaz e seguro quanto o padrão de 12 meses. O objetivo é reduzir o tempo de quimioterapia, efeitos colaterais e gerar economia financeira para o SUS, devido ao alto custo do medicamento.
VigiaSUS
Avalia uma estratégia de vigilância ativa para homens com câncer de próstata de baixo risco no SUS. O objetivo é reduzir cirurgias desnecessárias e liberar recursos do SUS.
Ártemis
Investiga como variações genéticas influenciam o risco e o prognóstico de AVC, utilizando recursos da medicina de precisão para aprimorar as estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento.
Recuperação de afetados pela enchente
Uma das principais pesquisas em desenvolvimento é o Projeto Recomeçar RS, uma iniciativa voltada à recuperação psicológica da população afetada pela enchente de 2024. Estudos em regiões de catástrofes climáticas mostram que há grande acometimento da saúde mental, como estresse pós-traumático, ansiedade e depressão.
O projeto engloba assistência, educação e pesquisa. O objetivo é realizar o rastreamento de 10 mil pessoas e oferecer a quem apresentar sintomas apoio psicológico estruturado baseado em evidências, com cinco encontros semanais, utilizando um protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Também serão oferecidas consultas e tratamento com psiquiatras e psicólogos a pessoas com acometimento mais grave. A estimativa é que em torno de 4 mil pessoas sejam atendidas pelo programa.
O estudo também irá avaliar fatores sociais que impactam a saúde, como empregabilidade, manutenção de tratamentos e hábitos não saudáveis. Além disso, capacitará profissionais de saúde para lidar com emergências de saúde mental em desastres. O projeto busca gerar conhecimento para futuras calamidades.
— Apesar de ser um projeto local, ele age em uma questão prioritária globalmente — frisa Rosa, do HMV.

Projetos concluídos
Conheça iniciativas já realizadas pelo HMV:
UTI Visitas
Buscando a humanização do cuidado, investigou a segurança e eficácia de visitas familiares flexibilizadas (até 12h/dia) em UTIs do SUS em todo o país, mostrando que a prática é exequível e segura. O estudo não aumentou o risco de complicações ou infecções nos pacientes, reduziu pela metade os sintomas de ansiedade e depressão em familiares, não aumentou a percepção de desorganização dos cuidados e é citado em diretrizes mundiais.
TeleUTI (Ped)
Teleconsultorias e suporte especializado para UTIs pediátricas em regiões carentes (Norte e Nordeste). Reduziu a mortalidade em 40%.
Cidade Cardio Protegida
Focado em aprimorar o manejo de paradas cardiorrespiratórias em Porto Alegre. Capacitou mais de 1,9 mil voluntários (leigos) em reanimação cardiorrespiratória e doou desfibriladores à prefeitura.
Alavancagem científica
O HMV já realizou mais de cem projetos na última década. Entre eles, o Ministério da Saúde destaca o apoio emergencial à gestão de hospitais gaúchos e o Recomeçar RS, ambos voltados ao enfrentamento das consequências dos eventos climáticos de 2024. "O Moinhos de Vento desempenha papel estratégico ao ampliar a atuação nacional do programa e contemplar especificidades regionais", destaca a pasta, em nota.
Em vez do modelo tradicional de atendimento via SUS, a instituição opta pelo modelo de filantropia Proadi-SUS para realizar projetos de alavancagem científica, desenvolver a ciência brasileira e fazer uma contribuição estratégica para o país, conforme Mohamed Parrini, CEO do HMV:
— Um país não pode ter uma vantagem competitiva só em suas vantagens naturais: você precisa desenvolver tecnologia e ciência. Se você não gerar tecnologia própria, fica à mercê das mudanças geopolíticas do mundo. Nosso papel é ajudar no desenvolvimento científico, fazendo parcerias com as universidades públicas e com os hospitais privados e públicos. Gerar conhecimento.
Parrini considera a contribuição pela pesquisa impactante e capaz de atrair ciência, além de gerar publicações científicas de alto impacto em revistas de referência. O hospital destina em torno de R$ 100 milhões por ano aos projetos. O impacto faz o valor se multiplicar ao longo do tempo, segundo ele:
— Isso é gerar desenvolvimento regional e prestígio para o Rio Grande do Sul.
As perspectivas futuras para o programa incluem o fortalecimento do seu papel estratégico no desenvolvimento do SUS, a ampliação do alcance territorial dos projetos e a priorização de demandas em regiões com vazios assistenciais, de acordo com o Ministério da Saúde.
Como participar
A população pode se candidatar para participar das pesquisas do Proadi-SUS. Para obter informações, consulte o hospital pelo e-mail proadi-sus@hmv.org.br.





