
O Hospital de Viamão, na Região Metropolitana, tem falta de itens básicos e lacunas em escalas médicas e de enfermagem, conforme informações obtidas com exclusividade por Zero Hora. Além de atender moradores do próprio município, o a instituição é referência para Alvorada e Cachoeirinha. Nesta quinta-feira (3), a casa de saúde operava com 300% de capacidade.
O hospital pertence ao município de Viamão e é administrado pelo Instituto Maria Schmitt (Imas). O contrato vence no dia 27 de julho, mas a gestão deve ser devolvida antecipadamente, no dia 10, segundo o diretor-executivo Francisco Paiva. Segundo ele, há déficit mensal de recursos.
A empresa que assumirá a estrutura já foi definida (leia mais abaixo), mas ainda sob a gestão atual, os problemas se acentuam.
Relatos de profissionais indicam falta de antibióticos básicos para tratar infecções, remédios para anestesia e relaxante muscular. Em relação aos insumos, a queixa de falta de luvas, soro, fraldas e tiras para teste de glicemia.
— É um cenário de abandono, nem na época da covid passamos por situações assim. Faltam antibióticos simples, luvas de látex, papel toalha e até soro — contou um profissional que não quis se identificar.
Falta de remédios e redução de escalas
A familiar de uma paciente, que também não quis se identificar, contou que sua mãe ficou sem receber remédios anticoagulante e para diabetes porque estavam em falta:
— Está muito lotado, tem gente até pelos corredores. Minha mãe está internada há uma semana e faltaram esses remédios. Eu até tentei comprar, mas o hospital não autoriza. No fim, eles conseguiram a medicação depois de um tempo.
Outros pacientes também reclamam da redução das equipes de médicos e profissionais de enfermagem:
— Quando tá muito lotado, profissionais de outros andares do hospital descem para ajudar — contou uma mulher que recebia atendimento na instituição.
As queixas também são relatadas por trabalhadores do hospital, que apontam número insuficiente de profissionais.
— No último sábado (28), um técnico estava monitorando 20 pacientes na emergência. Durante a semana, são cinco profissionais que se dividem entre enfermaria, sala vermelha, atendimento pediátrico. Os funcionários estão adoecendo devido à sobrecarga de trabalho – contou um funcionário.
Zero Hora procurou a assessoria do Imas, mas não teve retorno até a publicação da reportagem. O espaço está aberto para manifestação.
Instituto deixou de cumprir obrigações, diz preeitura
Conforme o prefeito Rafael Bortoletti, a empresa responsável pela gestão deixou de cumprir boa parte das obrigações e principalmente, o pagamento de prestadores e fornecedores.
No mês de junho foram investidos mais de R$ 2,5 milhões em pagamentos de médicos, compra de medicamentos e insumos, segundo Bortoletti, como forma de evitar a desassistência à população.
De acordo com a secretária de Saúde, Michele Galvão, a compra de insumos para suprir a demanda hospitalar é tratada como prioridade, assim como as escalas de médicos. O município busca maneiras para manter o atendimento adequado.
Ministério Público monitora o caso
A situação do Hospital de Viamão é monitorada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul desde fevereiro. Segundo a promotora Gisele Moretto, são realizadas mediações entre o Estado, prefeitura e a atual empresa responsável pela gestão.
— O foco é garantir o atendimento à população, evitando a desassistência. Para tanto, o município informou que manteria equipe para acompanhamento e adoção das providências que se mostrarem necessárias — explicou.
O órgão confirma que há diversas denúncias sobre falta de medicamentos e problemas nas escalas.
Nova empresa irá assumir gestão do hospital
Com o fim do contrato próximo, uma nova empresa assumirá a gestão do hospital. A prefeitura definiu que o Instituto Nacional de Pesquisa e Gestão em Saúde, o InSaúde, de São Paulo, comandará a estrutura pelo período de 12 meses.
A empresa venceu a licitação aberta pelo município e o início das operações deve ocorrer após o dia 10 de julho. O InSaúde já atua em Viamão desde 2021, quando assinou o contrato para a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município.