
É possível ter um cérebro mais eficiente? A observação de aspectos como alimentação, sono e estresse pode auxiliar a atingir esse objetivo, como pontuou o neurocirurgião e docente Fernando Campos Gomes Pinto no Brain Congress – Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções, nesta quarta-feira (18), em Fortaleza (CE).
O professor livre-docente em Neurocirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) explicou que, para ter um cérebro eficiente, é preciso lançar mão de conhecimentos científicos aplicados ao cotidiano.
Há uma região profunda do cérebro, chamada hipotálamo, na qual existem diversos núcleos e o relógio biológico. Acoplado ao ritmo circadiano, alguns momentos do dia são “extremamente favoráveis” em termos de troca de informação e atenção – como o período entre 10h30min e 11h.
— Ter um cérebro eficiente é entender como e quando o órgão trabalha melhor. Falamos, principalmente, da consciência de um trabalho ou de uma tarefa ativa, entendendo que, em um espaço muito pequeno de tecido neural, muitas coisas importantes são decididas — cita Gomes Pinto, que acrescenta:
— O hipotálamo, por exemplo, abriga a sede do sistema imunológico, do sistema nervoso autônomo, simpático e parassimpático, toda a questão do ritmo circadiano e do relógio biológico e muitas outras funções. Então, agir de maneira síncrona certamente favorece resultados melhores em termos de tarefa.
O neurocientista ressaltou que há três camadas diferentes de relevância no órgão:
- Cérebro reptiliano: relacionado aos instintos e reflexo de sobrevivência
- Psicoencéfalo: ligado a emoções, memórias e relações
- Neocórtex: responsável pela cognição e pelo pensamento
As funções do cérebro, portanto, incluem manter a homeostase do corpo físico, memorizar fatos, entender emoções, aprender, ensinar, entre outras. Já a eficiência é a realização de algo, da melhor forma possível, sem desperdício de recursos.
— Do ponto de vista biológico, o cérebro sempre vai buscar ser mais eficiente, gastar menos energia para entregar o que você precisa fazer — afirma.
Os pilares de uma vida saudável
Para um cérebro mais eficiente e garantir a possibilidade de usar o relógio biológico, Gomes sugere o uso do método ASAS, baseado em revisões sistemáticas.
Segundo o médico, o método inclui os pilares para uma vida saudável e plena, como a boa alimentação. Ele reforça que já há estudos que evidenciam uma relação "muito importante" entre intestino e cérebro.
O que é o Método ASAS
- A - Alimentação saudável: com ênfase nas dietas cetogênica, que aumenta o foco, e mediterrânea, associada à longevidade.
- S - Sono reparador: é um processo ativo, responsável pela memória, pelo equilíbrio e reequilíbrio emocional. Ele também permite que o sistema glinfático trabalhe de modo mais ativo, removendo toxinas e permitindo que o cérebro funcione em vigília de forma mais satisfatória. "Investigar a saúde do sono é mandatório devido à sua relevância para a saúde mental", frisou o médico.
- A - Atividade física regular: ligada à longevidade com autonomia. Ela libera substâncias, aumenta o fluxo sanguíneo cerebral e está relacionada a um cérebro mais eficiente.
- S – Estresse sob controle: os caminhos incluem meditação, como indicam evidências neurocientíficas; restabelecer a conexão com o corpo físico e o mundo; e o hábito de rezar, que também estimula a inteligência existencial e interpessoal.
- A – Atividade cognitiva regular: inclui exercícios que possam aumentar a capacidade de raciocínio e criatividade, como curso superior, aprender a tocar um instrumento ou falar outra língua. O professor destacou que, quanto mais diferente a atividade, maior será a resposta.
- S – Socialização ativa: associada ao amadurecimento emocional e à longevidade com sentido. Entre os idosos, estar em grupo parece impactar de forma muito positiva, assim como a sensação de pertencimento.
Além do método ASAS, o professor também recomenda explorar o ritmo circadiano, levando em consideração as diferenças individuais. Ele destaca que a organização com agenda, pausas e limites pode trazer eficiência e sustentabilidade. Gomes reforça ainda a importância de cuidar do cérebro como órgão, observando, por exemplo, as necessidades de vitaminas.
Ele também advertiu contra atalhos artificiais, como o uso de drogas e substâncias. Em muitas ocasiões, as pessoas são atraídas pela possibilidade de serem mais eficientes com a inteligência artificial – entretanto, dessa maneira, perde-se a chance de tentar elaborar algo criativo.
— A criatividade mora um pouco além desse comportamento muito prático de querer tudo de forma eficiente e rápida — alerta.
* A repórter viajou a convite do Congress on Brain, Behavior and Emotions 2025