Intercalando seriedade com doses de descontração, Drauzio Varella e Mariana Ferrão capturaram a atenção do público que preencheu o Teatro Simões Lopes Neto, no Multipalco Eva Sopher, nesta sexta-feira (30), para ouvi-los. No diálogo, que integra a programação do Festival Fronteiras, o médico e a jornalista convidaram a refletir sobre saúde física e emocional e a relação com as transformações sociais contemporâneas.
O painel teve início com uma dinâmica que envolveu e levou o público a pensar sobre seus hábitos e desejos de mudanças relacionados à saúde. Mesmo sabendo que é necessário, é difícil mudar, devido a um processo evolutivo em que os ancestrais aprenderam a comer o máximo possível quando havia alimento e a economizar energia – a história da humanidade é a história da fome, destacou o médico.
Essa estratégia de sobrevivência, porém, contrasta com a vida moderna, com excesso de calorias, fácil acesso a alimentos ultraprocessados e conforto – uma vida para a qual nossos corpos não foram preparados, que resulta em maus hábitos e problemas de saúde.
— O conforto levou à vida sedentária — destacou Varella, que ressaltou a importância de se manter ativo e do exercício físico ao longo da sua fala.
Na conversa, Mariana compartilhou sua experiência pessoal com um quadro severo de depressão. A jornalista seguiu conselhos médicos sobre alimentação, atividade física e sono – pilares que considera essenciais para a saúde até hoje.
— Se você não quiser se ajudar, ninguém vai conseguir te ajudar — disse Mariana, destacando que a frase foi o ponto de virada em seu quadro.
Na mesma linha, Varella comentou sobre uma mudança de abordagem em relação aos pacientes: de tentar ajudar a encaixar o exercício na rotina a entender que a responsabilidade é individual:
— Você está vivendo errado se não está levando em consideração o teu bem mais precioso. A gente se engana. “Meu bem mais precioso são meus filhos, minha mãe, meu pai, meu marido, trabalho”. O seu bem mais precioso é o seu corpo. Porque ele é essencial. Sem o corpo, você não tem nada. Não tem pai, não tem mãe, não tem trabalho, não tem família. O bem mais precioso é esse, e você tem de cuidar dele.
O médico lembra que "a gente trata o corpo a pontapés", achando que é um presente de Deus, "que é uma coisa perfeita que não precisa cuidar". Ele abordou os desafios de saúde na sociedade atual, como o aumento de diabetes e pressão alta em jovens – muitas vezes ignoradas, porque suas consequências aparecem tardiamente.
A tecnologia, especialmente o celular, foi apontada como uma invenção que, embora seja eficiente, contribui negativamente para picos de dopamina, aumento da ansiedade, o apagamento da fronteira entre trabalho e residência, além do isolamento – que tem levado a uma epidemia de solidão, lembrou Mariana.
— A vida hoje é solitária mesmo, e não nascemos para isso. Nossa espécie só sobreviveu porque soube formar grupos — frisou Varella.
Uso de medicamentos
Os novos medicamentos como Ozempic também foram discutidos. O médico vê as canetas como um avanço, por serem eficazes, mas tem ressalvas quanto ao custo e aos efeitos de longo prazo, ainda desconhecidos. Varella alerta contra o uso indevido, para pequenas perdas de peso, já que trata-se de remédio para o tratamento da obesidade.
O especialista também criticou a medicalização excessiva na atualidade – que inclui um alto consumo de vitaminas, quando, em vez disso, a dieta deveria ser variada e baseada em alimentos de origem vegetal.
— A quantidade de gente hoje que toma remédios para ansiedade, para depressão, é brutal. A pior dependência de droga que eu acho, tirando o cigarro, é comprimido para dormir — salientou.
A dica do médico para evitar doenças e para o aumento da longevidade é simples: praticar atividade física – sem parar para pensar muito antes de ir, para não dar margem à preguiça – e se alimentar adequadamente.
O público, que ouviu atentamente as palavras de Varella e Mariana, engajou e aplaudiu a exposição. Atílio Wottawa, psicanalista que acompanhou o evento, elogiou o painel:
— Eu adorei. Não sabia que ele era tão interessante, tão inteligente, tão engraçado. Eu sabia que conteúdo ele tinha, mas eu fiquei impressionado com a forma e abordagem que ele fez nesse evento. Ele faz repensar a vida.
Em entrevista a Zero Hora após o evento, Varella ressaltou que, embora a sociedade enfrente problemas na relação com saúde e movimento, há um interesse maior pelo tema do que no passado:
— Acho que todas as informações, hoje, ajudaram as pessoas a entender a importância não só da saúde, mas de você ter uma vida mais saudável, porque isso te deixa mais feliz, permite aproveitar melhor a vida. E apesar de todos os desmandos das redes sociais, acho que, no total, nós estamos evoluindo muito.
O Festival Fronteiras tem apresentação do governo do Estado do RS; patrocínio master de Icatu Seguros, Banrisul e Corsan; patrocínio de Unisinos, Unimed, Banco Topázio, Sicredi, Sulgás, CMPC, Grupo Zaffari, Caixa Econômica Federal e Governo Federal. Apoio institucional do Tribunal de Justiça do Estado. Parceria com Associação do Ministério Público, Assembleia Legislativa do RS e prefeitura de Porto Alegre. A realização é da Delos Bureau, uma empresa do Grupo DC Set, e a promoção é do Grupo RBS.





