
A população de cinco municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre enfrenta um cenário alarmante na saúde pública. Hospitais superlotados, restrições no atendimento e falta de recursos dificultam o acesso a serviços básicos. Com a proximidade do inverno, a situação preocupa ainda mais.
Moradores de Alvorada, Canoas, Cachoeirinha, Gravataí e Viamão esperam horas na fila por uma consulta, um exame ou um leito para internação pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Em muitos casos, o atendimento necessário não está disponível na cidade de origem, fazendo com que se busque Porto Alegre, onde também há superlotação e restrições.
Ao longo desta semana, a reportagem de GZH circulou por hospitais da Região Metropolitana e encontrou instituições pressionadas, que operam acima do limite técnico.
Veja, a seguir, uma síntese das reportagens e os links para os textos na íntegra.
Superlotação no único hospital de Alvorada
Com falta de uma unidade de pronto atendimento (UPA), a população é direcionada ao único hospital da cidade. No entanto, a instituição está superlotada e opera com restrições.
Administrado pelo grupo Ana Nery, o Hospital de Alvorada pertence ao governo do Estado. De acordo com o diretor da instituição, João Marcelo Goulart, a emergência do local operava com lotação de 260% na segunda-feira (19). Também há superlotação dos leitos clínicos e de enfermaria.
Segundo o município, a criação de uma UPA é uma demanda essencial. No entanto, faltam recursos. O problema da saúde é visto como amplo, já que a população cresceu, mas os recursos estaduais e federais não acompanharam (veja, ao final, os posicionamentos da Secretaria da Saúde do RS e do Ministério da Saúde).
Sistema de Canoas tem ocupação de 300%
Com três hospitais, dos quais dois estão ativos, a cidade é referência para 157 municípios da região e atende cerca de 2 milhões de pessoas. Nesta terça-feira (20), o sistema de saúde operava com lotação de 300%.
Conforme a prefeitura, o município aporta R$ 19 milhões por mês na Saúde. Outros R$ 13 milhões são enviados por parte da União e do Estado. O montante é considerado insuficiente diante da necessidade.
Em busca de soluções, Canoas pediu apoio à Secretaria Estadual da Saúde (SES) e ao Ministério da Saúde. Uma das medidas avaliadas é a redução de referência e de serviços oferecidos. Há possibilidade de reformulação do Hospital de Pronto Socorro, que está fechado desde maio de 2024, após ser atingido pela enchente.
Espera de até oito horas em Cachoeirinha
O Hospital Padre Jeremias operava com lotação de 107% nos leitos adultos nesta quarta-feira (21). Segundo pacientes, a demora por atendimento era de até oito horas.
O hospital é estadual, mas administrado pelo grupo Ana Nery. A instituição é referência para a área de maternidade e pediatria. No entanto, não há bloco cirúrgico para grandes especialidades nem Unidade de Terapia Intensiva. Outro problema relatado é a falta de equipamento para tomografia.
O município admite que vive um cenário delicado e de esgotamento do sistema de saúde. No entanto, enfrenta falta de recursos para a criação de uma segunda UPA, por exemplo. Como alternativa, uma Operação Inverno será lançada nos próximos dias para ampliação dos atendimentos.
Falta alta complexidade em Gravataí
O Hospital Dom João Becker operava acima da capacidade técnica nesta quinta-feira (22): apenas casos considerados graves estavam sendo atendidos. A lotação atingiu 212%. Segundo a instituição, a orientação é para que a população busque as duas Unidades de Pronto Atendimento do município ou as unidades básicas.
O hospital filantrópico é administrado pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, mas recebe aporte municipal. O valor é utilizado para a manutenção dos 135 leitos do Sistema Único de Saúde (SUS).
Além de atender os próprios moradores, Gravataí é referência em saúde para Cachoeirinha, Alvorada e Glorinha. No entanto, o hospital não tem procedimentos de alta complexidade.
O município admite a situação delicada, mas afirma que para ampliar o número de leitos e abrir serviços de alta complexidade, precisa de auxílio do Estado e da União.
Falta de leitos eletivos em Viamão
O Hospital Viamão opera com superlotação. Nesta sexta-feira (23), os 148 leitos de internação e os 20 de unidade de terapia intensiva (UTI) adulta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estão ocupados.
A situação afeta diretamente a porta de urgência e emergência da instituição. De acordo com a prefeitura de Viamão, ao menos 30 pacientes estão internados na emergência por falta de leitos eletivos.
Além das salas e quartos lotados, há relatos de pacientes acomodados em macas nos corredores. No entanto, não há informações sobre restrições nos atendimentos.
De acordo com o município, o principal problema é financeiro. A prefeitura afirma que faltam recursos por parte do governo do Estado e que não tem dinheiro em caixa para a ampliação dos serviços.
O que diz a Secretaria da Saúde do RS
A Secretaria Estadual da Saúde afirmou que se reuniu nesta sexta-feira (23) com prefeitos da Região Metropolitana para tratar de pautas visando a melhora no atendimento à população, com debate sobre financiamento e recursos. Segundo a pasta, na próxima semana o governo do RS anunciará recursos para hospitais públicos e filantrópicos, dentro do programa Inverno Gaúcho, destinado à abertura de novos leitos. O valor ainda depende de ajustes orçamentários.
O encontro também tratou do reajuste no repasse do Programa Assistir. Segundo o governo, serão destinados R$ 39 milhões anuais a mais para 28 hospitais de 20 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre.
O que diz o Ministério da Saúde
A reportagem aguarda posicionamento da pasta.