A variante Ômicron chega ao Rio Grande do Sul no momento em que o Estado apresenta tendência de queda na pandemia, com o menor nível de ocupação de leitos clínicos e de unidades de terapia intensiva (UTIs) por covid-19 desde junho do ano passado, mostram estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS). O número de mortes está estabilizado há três meses.
Em março deste ano, quando hospitais gaúchos colapsaram, o Rio Grande do Sul chegou a registrar em dias distintos quase 5,4 mil pacientes com coronavírus em leitos clínicos e mais de 2,6 mil em UTIs — destinados, respectivamente, a casos graves e gravíssimos. Mas, hoje, o Estado mantém menos de 300 hospitalizados em cada um dos indicadores.
Nesta segunda-feira (6), 271 pessoas estavam internadas em UTIs de todo o Estado - em julho deste ano, Porto Alegre chegou a contabilizar, sozinha, 300 internados em leitos intensivos. A tendência é de queda: hoje, a ocupação é 16,5% abaixo do registrado duas semanas atrás.
Ainda nesta segunda-feira, o Rio Grande do Sul registra 247 pacientes internados em leitos clínicos, 27% menos do que duas semanas atrás. Aumento ou queda em leitos clínicos, onde chegam pacientes de menor gravidade, prediz eventual variação nas UTIs.
Com essa premissa, a perspectiva é de que o número de internados em leitos intensivos permaneça em queda nas próximas semanas, diz Caroline Deutschendorf, médica infectologista e coordenadora da Comissão de Controle de Infecções do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Ela lembra que pessoas vacinadas têm melhor prognóstico e costumam permanecer menos tempo internadas. Atualmente, mais de 80% da população gaúcha está vacinada com uma dose e quase 70% com duas doses, o terceiro melhor índice do país.
Quase 1,3 milhão de pessoas tomaram a terceira dose: apesar de ser apenas cerca de 10% dos gaúchos, a cobertura é maior para os mais velhos — e, por isso, mais vulneráveis: 66% dos idosos com 80 anos ou mais tomaram a terceira dose. Para os gaúchos entre 75 e 79 anos, a cobertura é de quase 75%.
— Temos uma imensa massa de vacinados e há pessoas com a terceira dose, o que é bem diferente da África do Sul, onde uma pequena porcentagem da população está vacinada. Não sabemos o quanto a variante pode fugir da proteção vacinal ou da proteção de doença prévia, mas dados preliminares mostram que vacinas ofereceriam proteção. Podemos ter flutuação de casos, mas imagino que não fuja disso. Com comemorações de feriados (recentes), como 15 de novembro, não houve grande variação de casos — diz Deutschendorf.
Mortes estabilizam
Há três meses, a média móvel de novas mortes estabilizou em cerca de 20 vítimas - patamar distante do pior momento da epidemia, em 1º de abril, quando a média chegou a 303 óbitos por dia.
O efeito das doses de reforço e a recente vacinação de adultos deve nos proteger da variante Ômicron, avalia Suzi Camey, professora de Epidemiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do comitê de cientistas que assessora o Palácio Piratini de forma independente.
— Estamos há três meses com número de novos óbitos em número muito semelhante. Parece que caminhamos para uma endemia e que a nova variante não vai causar perturbação no sistema. Como seguimos avançando na vacinação e alguns protocolos são mantidos, é esperado manter o que temos agora. O efeito das doses de reforço já está sendo visto: quase 70% da população acima de 65 anos recebeu o reforço. A população mais nova ainda está com bom efeito das duas doses, pelo espaço de tempo aplicado — diz Camey
O número de novas infecções também está estabilizado, com menos de 800 casos diários há três semanas — mas o número está altamente subnotificado, diz a epidemiologista, porque muitas pessoas não se testam, em virtude de estarem vacinadas e apresentarem poucos ou nenhum sintoma.
— Essas novas variantes chegam com nossa população mais protegida. A decisão do Ministério da Saúde de antecipar a dose de reforço para todos os adultos também vai colaborar. A chance de chegar a variante e ter um efeito catastrófico como houve no início do ano é muito baixa — acrescenta Camey.
Para a epidemiologista, grande parcela dos gaúchos ainda usa máscaras e se preocupa com o distanciamento e outras recomendações sanitárias, o que ajuda a frear pior da covid-19:
— Não podemos achar que acabou, mas devemos ter um fim de ano bem mais tranquilo do que no ano passado. Muitas pessoas não usam máscaras, mas temos ainda um grupo muito grande da população que está preocupado e que garante medidas de segurança. Isso provoca um equilíbrio na balança para que atravessemos um fim de ano mais tranquilo — afirma Camey.