Com a ajuda decisiva da vacinação, o registro de mortes por coronavírus despencou no Rio Grande do Sul desde o pico da pandemia.
A média de óbitos diários caiu 95% entre março, quando chegou a 328, e o começo de outubro, quando ficou abaixo de 20, sempre levando-se em conta os sete dias anteriores. Ao longo desse mesmo período, a proporção de gaúchos com esquema vacinal completo saltou de pouco mais de 2% para mais da metade da população.
O levantamento realizado por GZH com base nos dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) leva em conta a data de ocorrência do óbito para evitar que eventuais atrasos no sistema de registro interfiram na análise. Foram consideradas somente as notificações feitas até duas semanas atrás pelo fato de que o período mais recente fica sujeito a atualizações com inclusão tardia de novas mortes.
As informações da SES indicam que o período mais grave da pandemia pelo critério da média móvel semanal ocorreu em 19 de março, quando chegou a 328 mortes. O dia com maior quantidade de notificações em 24 horas, porém, ocorreu no dia 16, quando 349 pessoas perderam a vida em razão do vírus no Estado.
O registro de vítimas passou a cair depois desse pico, quando a alta contaminação pode ter deixado mais pessoas com anticorpos, até o começo de maio. A mortalidade ficou ao redor de cem vítimas diárias e, para preocupação geral, ensaiou um novo período de ascensão (veja detalhes no gráfico logo abaixo).
Após algumas semanas de agravamento, porém, o índice voltou a cair a partir da segunda quinzena de junho e chegou à média móvel de 17 óbitos diários em 11 de outubro. Para o virologista e professor da Universidade Feevale Fernando Spilki, é principalmente a partir desse recuo mais recente que o efeito das vacinas foi determinante para os rumos da pandemia.
— Eu atribuiria, sem dúvida, esta última fase de declínio (nas mortes) à vacinação — observa Spilki.
No final de junho, a proporção de vacinados com pelo menos uma dose já superava 40%, e perto de um quinto da população havia completado o esquema de imunização — ajudando a proteger sobretudo os idosos, que estiveram entre os primeiros beneficiados e eram justamente as vítimas mais frequentes da forma grave da covid-19.
— Tivemos quedas em todos os indicadores da pandemia, como a taxa de contágio, que tem diminuído e, na semana passada, bateu em 0,60 (cem pessoas infectam outras 60, em média), o que significa pandemia em desaceleração. Por conta disso, temos certamente menos doentes graves e menos mortes. A queda das médias de novos casos e de mortalidade mostra que as vacinas cumpriram o seu papel, o que não é surpresa para quem sempre acreditou na ciência — avalia o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry.
Especialistas reforçam importância de manter o uso de máscara
Apesar do recuo no impacto da covid-19, especialistas mantêm o alerta de que é preciso prosseguir com outros cuidados preventivos complementares à vacinação, como o distanciamento social e o uso de máscaras. Uma das razões para isso é que o percentual de imunização ainda é pouco superior à metade da população (estava em 58,9% nesta segunda-feira) e insuficiente para derrubar de vez as contaminações.
Antes da variante Delta, se acreditava que esse patamar deveria ficar em cerca de 70%. Mas a chegada de cepas mais transmissíveis elevou essa régua para pelo menos 90%. O nível atual de imunização ainda não foi capaz de cortar o ciclo de transmissão da doença.
— Ainda há evidente circulação sustentada do vírus, e uma estabilidade especialmente em UTIs. Para uma retirada de máscaras e uma circulação (de pessoas) mais ampla, deveríamos primeiro atingir alguns objetivos: um momento de vazio de notificação de casos, ou seja, que se consolide o processo inicial de endemizaçāo (casos recorrentes, mas sem grande aumento) que estamos observando, e que se atinjam os mínimos ideais de imunização completa e possamos ter a vacinação incluindo crianças — esclarece o virologista Fernando Spilki.
Paulo Petry lembra ainda que é preciso ignorar notícias falsas que procuram desestimular a continuidade da vacinação:
— Medicamentos salvam os indivíduos, mas as vacinas salvam populações. As pessoas precisar dar valor às vacinas, não dar ouvidos às notícias falsas e correr para se vacinar sempre que possível.