Antes mesmo da falta de insumos prejudicar a realização das cirurgias eletivas, hospitais de Porto Alegre já constatavam a queda na demanda pelos procedimentos. Desde o início do distanciamento social provocado pela pandemia do coronavírus, em meados de março, seis instituições de saúde da Capital contabilizam queda superior a 50% no número de cirurgias eletivas realizadas. Especialistas alertam, porém, que não são todos os pacientes que podem aguardar a retomada das atividades sem gerar danos à saúde.
O cancelamento ou suspensão dos procedimentos eletivos foi sugerida pelas autoridades políticas gaúchas ainda em março, com o objetivo de preparar os hospitais para o combate à pandemia, além de contribuir para o achatamento da curva de infecções. Em maio e junho, parte das cirurgias eletivas voltaram a ser realizadas. Porém, com a falta de medicamentos provocada pela alta demanda de pacientes com covid-19, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) recomendou o adiamento das intervenções.
Nos hospitais Mãe de Deus, Moinhos de Vento e Santa Casa de Misericórdia, a redução foi de 50% nos procedimentos eletivos entre março e junho deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.
No Hospital de Clínicas, que é considerado referência no tratamento a pacientes com covid-19, a queda foi ainda maior, de 63%. Cerca de 2 mil cirurgias a menos foram realizadas nos últimos três meses. No Hospital Nossa Senhora da Conceição, que também integra as instituições de referência contra a pandemia, a média de procedimentos eletivos caiu de 1.050 cirurgias/mês para 350 – uma redução de 66%.
Já no Hospital São Lucas, nos últimos três meses, 224 cirurgias eletivas foram suspensas ou canceladas.
Para o diretor de operações do Hospital Mãe de Deus, Rafael Cremonese, a suspensão das cirurgias eletivas em março e abril está gerando problemas agora.
— Se postergou em um momento que não precisava e, agora, estamos atendendo pacientes com maior gravidade justamente perto do pico do inverno e da pandemia — avalia.
Cremonese alerta que a decisão de aguardar ou não pelo procedimento eletivo precisa ser tomada pelo médico junto com o paciente.
— Temos de avaliar bem o que é eletivo. A palavra eletiva não é verdade para a imensa maioria das cirurgias. Estamos com supermercados lotados e blocos cirúrgicos vazios — critica.
Conforme o diretor técnico do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Francisco Paz, cirurgias oncológicas e de pacientes que não podem aguardar estão sendo realizadas na instituição.
— O que não se opera são problemas que podem esperar alguns meses, como cirurgia de varizes, redução de estômago — explica.
Já as cirurgias ambulatoriais seguem sendo feitas pelo GHC, por não exigir leito hospitalar ou internação.
— Uma cirurgia eletiva cria, na cadeia hospitalar, uma série de compromissos: ocupa sala de recuperação, leito de cirurgia, de UTI. Mas, neste momento, nossos esforços estão no combate ao coronavírus — afirma.