Para barrar o alcance do coronavírus, a Prefeitura de Porto Alegre tomou as medidas mais rigorosas desde a chegada da covid-19 na cidade. O município determinou o fechamento de academias, clubes, cinemas e teatros, além de instituir normas para o funcionamento de bares e restaurantes.
Inspiradas em estratégias de contenção adotadas em países como China e Coreia do Sul, as iniciativas têm o potencial de arrefecer o contágio do vírus, poupando os moradores de providências urgentes e drásticas. Porém, impõe danos incalculáveis à economia local.
— Essas medidas de isolamento social têm o objetivo fundamental de diluir a contaminação ao longo do tempo, porque, em algum momento, as pessoas irão circular e retornar as suas atividades. Precisamos reduzir os reflexos para, lá na frente, darmos tratamento adequado àqueles que necessitarem. Não serão semanas, mas meses difíceis — diz o prefeito da Capital, Nelson Marchezan.
As restrições ainda serão detalhadas em decretos que devem ser publicados entre a noite desta terça-feira (17) e a manhã de quarta-feira (18). Marchezan, contudo, anunciou que os estabelecimentos que desrespeitarem as determinações serão punidos com interdição, multa e até cassação de alvará.
Entre as medidas também estão a proibição de celebrações religiosas e de eventos com mais de 50 pessoas. Para o presidente da Sociedade Catarinense de Infectologia, Fabio Gaudenzi, os decretos preparam os moradores para o momento de circulação comunitária do vírus, quando se torna impossível detectar sua origem de contágio. Por ora, Porto Alegre registra oito casos de covid-19, todos importados.
— Quanto mais se restringir, mais se conseguirá reduzir a disseminação do vírus. Lógico, são medidas de impacto financeiro. Mas, tecnicamente, posso garantir que, com locais fechados, a contaminação será menor — assegura Gaudenzi.
Na Capital, restaurantes e bares terão de manter mesas com 1,5 metro de distância e reduzir pela metade sua capacidade de ocupação. A prefeitura também orientou que redobrem os cuidados de higiene e estimulem os serviços de tele-entrega. Gaudenzi acrescenta que, neste momento, esses cuidados preventivos, mesmo que desagradem comerciantes, podem evitar colapsos nacionais como os vivenciados por Espanha e Itália, que atrasaram o isolamento de sua população.
Operação para alertar clientes
Segundo a infectologista Lessandra Michelim, da Sociedade Riograndense de Infectologia, a literatura disponível sobre o coronavírus comprova que políticas de contenção são eficientes em regiões com transmissão comunitária, que, ao menos oficialmente, ainda não aconteceu na Capital. Por isso, analisa que parte das diretrizes, como o fechamento de academias, poderia ser adiada.
— Esse é o melhor momento? Ainda não temos essa resposta. Talvez sejam medidas precipitadas, mas também não podemos dizer que são erradas — afirma.
Após o anúncio de Marchezan, academias e clubes da Capital deram início a uma operação para comunicar clientes. Diretor-geral da rede Moinhos Fitness, Diogo Weber assegurou que as nove unidades da cidade encerrariam o atendimento.
— Temos de cumprir o que for determinado. Estamos em um decréscimo financeiro muito forte, isso poderá impactar definitivamente o andamento da rede — lamentou Weber.
Mas algumas unidades decidiram se antecipar, suspendendo as atividades já nesta terça-feira, antes mesmo da publicação do decreto. Foi o caso do Studio Velocity, de aulas de bicicleta indoor, que atende 250 clientes por dia em uma sala no bairro Independência.
— Já havíamos bloqueado algumas bicicletas, para dar mais espaço entre elas, mas vimos que seria insuficiente. Aí, decidimos cancelar as aulas. É uma situação bastante complicada, mas colocaríamos em risco a saúde de equipe e alunos. Fizemos a nossa parte — resumiu a proprietária, Bruna Tramontina.
Em reuniões com o setor, Marchezan antecipou que as limitações podem ser ampliadas nos próximos dias. Presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre, Henry Chmelnitsky não descarta o fechamento de bares e restaurantes.
— Isso tudo é paliativo. Há decréscimo importante nas visitações, e a manutenção das operações gera custo impagável. No meu íntimo, olho esse momento com muito sofrimento — disse.
Para escapar de deslocamentos, Chmelnitsky recomenda que os moradores recorram ao comércio local. Shoppings decidiram pelo funcionamento em horário reduzido, das 12h às 20h. No comércio, à exceção de supermercados e farmácias, o presidente do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre, Paulo Kruse, define o cenário como "desesperador":
— Os empresários estão apavadorados, esse é o termo. Precisamos de um momento de união, que todos participem de uma corrente para que não haja mais empresas em falência do que pessoas mortas pelo coronavírus.