Até 2022, Porto Alegre contava com mais de 7 mil atendimentos feitos mensalmente nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Grande parte dessas consultas, segundo levantamento trazido na época pela RBSTV, eram feitas por pessoas que sofriam com dependência química.
Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como uma doença, a dependência em substâncias psicoativas evidência às fragilidades do sistema de saúde para atender pessoas que sofrem com o vício, segundo presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Eduardo Neubarth Trindade.
Em entrevista, Neubarth destaca a problemática e relembra sobre a falta de hospitais e de espaços adequados para o tratamento dos pacientes que mais precisam. Segundo ele, atualmente o Brasil já não consegue atender todos os pacientes que chegam até a rede de saúde para a internação por dependência química. Somente em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao abuso de drogas e álcool.
— Além da maconha ser uma porta de entrada para outras drogas, o uso dela causa problemas de saúde mental graves. O abuso está associado a sérios prejuízos à saúde mental, como aumento de casos de esquizofrenia, suicídios e homicídios. Não podemos ignorar as evidências científicas que mostram os danos sociais e à saúde pública — explica.
Estudos como o Global Status Report on Alcohol and Health and Treatment of Substance Use Disorders, publicado pela OMS em 2024, destacam que substâncias psicoativas – incluindo drogas e álcool – contribuem para doenças mentais, mortes prematuras e lesões. Conforme a pesquisa, cerca de 600.000 mortes foram atribuídas ao uso de drogas, com destaque para os opioides como a principal substância envolvida em overdoses.
Neubarth ainda acrescenta que o debate se trata de uma pauta de saúde pública, visto que o aumento no consumo de substâncias ilícitas e o crescimento do número de pessoas em situação de vulnerabilidade intensificaram a demanda por atendimento especializado.
— Mesmo sendo proibido (o uso de drogas ilícitas) no Brasil, vemos em Porto Alegre uma grande cracolândia. Não tem número de leitos suficientes para tratar a dependência química já existente e quem dirá os novos casos que surgiriam com a liberação das drogas — relata.
O presidente reforça que a sociedade precisa estar no centro desse debate e contar com informações científicas de qualidade para embasar a discussão. Para ele, o aumento do consumo e das doenças relacionadas em países onde a maconha foi legalizada serve como um alerta para os impactos negativos que decisões como essa podem gerar.
— Muitos debates sobre o tema têm sido conduzidos com viés ideológico, deixando de lado a análise técnica necessária para decisões tão complexas — complementa Neubarth.
Quando questionado sobre o quanto essa abordagem impacta a relação médico-paciente, ele explica que não apenas prejudica a relação do profissional com a população, mas também aumenta a sobrecarga emocional e física dos médicos, já exaustos pelo aumento da demanda nos sistemas públicos e privados.
— O burnout entre os médicos é uma preocupação crescente, em especial quando eles precisam lidar com decisões de saúde pública tomadas sem embasamento científico. O impacto emocional e ético dessa dinâmica é enorme, e precisamos colocar a ciência no centro dessas discussões — enfatiza o presidente.
Como parte de sua missão, o Cremers tem intensificado suas ações para conscientizar a população sobre os perigos do consumo de substâncias ilícitas e combater a desinformação. Um exemplo disso, são os Painéis do Zero Hora Talks em parceria com GZH, que oferecem mais uma possibilidade de ampliar o relacionamento com os gaúchos. Através de uma série de eventos presenciais e que são transmitidos ao vivo, especialistas de diferentes áreas discutem diferentes assuntos que estão em evidência.
— O Cremers está cada vez mais próximo da sociedade para levar um debate técnico e transparente. Só assim conseguiremos proteger a saúde da população e garantir que os médicos tenham as condições necessárias para desempenhar seu papel de forma ética e eficiente — conclui Neubarth.
Saiba como participar do último evento do Zero Hora Talks deste ano:
Zero Hora Talks: Desafios e caminhos para a saúde do RS até 2035
Data: 3 de dezembro
Horário: 14h
Local: CREMERS, Auditório
Rua Bernardo Pires, n° 415/2° andar, Bairro Santana - Porto Alegre/RS
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