
O incêndio causado pela colisão de um ônibus desgovernado contra um prédio no Centro Histórico de Porto Alegre causou prejuízos com os quais, uma semana após o acidente, os moradores do edifício ainda têm que lidar.
O fogo provocou os maiores estragos nos apartamentos da frente, virados para a rua. Em um deles, no primeiro andar, moravam Laura Klein e Luiz Reis. O casal, que trabalhava de casa na hora do acidente, se lembra do pânico após ouvir a gritaria que vinha da rua.
Luiz conta que foi olhar pela janela por conta dos gritos e viu o momento em que o ônibus bateu contra o prédio e uma labareda subiu em direção ao apartamento.
— A gente só saiu correndo. Pegamos celular, computador e os gatos, fomos para a cozinha, que é o cômodo mais afastado da rua, ligamos para os bombeiros e, quando a gente olhou para o apartamento, já estava todo preto. A fumaça já estava forte, e a gente saiu do apartamento correndo.
Como ficou o apartamento por dentro:
Os dois residiam no apartamento havia cerca de um ano. Era o primeiro lar que estavam construindo como casal. Apesar dos danos materiais, se dizem gratos por ninguém ter se machucado.
— O incêndio do acidente invadiu nosso apartamento, destruindo praticamente tudo o que havia no nosso quarto e danificando todos os cômodos da casa. A fumaça, o calor e a fuligem não perdoam: perdemos roupas, plantas, móveis, objetos pessoais, eletrônicos e muitos pertences queridos. Nunca pensamos que poderia acontecer conosco. Mas estamos tendo muito apoio de amigos, familiares e colegas de trabalho — conta Laura.
O acidente
O ônibus de turismo transportava 55 adolescentes e duas acompanhantes em uma excursão que saiu de Vacaria, na Serra, com destino ao Palácio Piratini.
Antes do acidente, o motorista teria parado o veículo na Rua Espírito Santo porque teria atingido fios de luz. Um vídeo de câmera de monitoramento mostra ele fora do ônibus no momento em que o veículo começa a se mover e descer a rua.
— O ônibus enrosca nos cabos de energia da rua, o motorista percebe, ele aciona o freio de mão, pelo que ele nos relata, desce do ônibus e, nesse momento, o ônibus começa a andar — relata o tenente-coronel Hermes Völker, da Brigada Militar (BM).
O ônibus atingiu 10 veículos, e o incêndio provocado alcançou apartamentos do prédio.
As primeiras chamas começaram quando o coletivo atingiu os veículos estacionados e parou em frente ao prédio. No vídeo da ocorrência, é possível ver que os passageiros descem em seguida, mas, com o espaço reduzido entre o ônibus e uma fachada do edifício, alguns precisam pular sobre carros estacionados para conseguir fugir.
Segundo o Corpo de Bombeiros, ninguém ficou gravemente ferido. A Secretaria de Saúde de Porto Alegre informou que ao menos 12 pessoas precisaram de atendimento médico.
A empresa responsável pelo ônibus informou, por meio de uma nota, que "todas as medidas cabíveis foram adotadas para garantir segurança, apoio e acolhimento aos passageiros". Os estudantes retornaram para Vacaria na madrugada do último sábado (4).
Nenhum morador do prédio atingido pode permanecer no edifício atingido pelo incêndio durante a noite. Na manhã de sábado, após vistoria técnica, eles foram autorizados a retornar.

Investigação
O motorista, em depoimento à Polícia Civil, afirmou que o freio do veículo falhou durante a descida.
— Segundo o motorista, ele puxou o freio estacionário assim que alguém informou para ele que o ônibus havia batido em fios. Ele desceu do ônibus, puxou o freio estacionário, segundo ele conta, para ver onde ele teria batido no fio. Foi neste momento que ele olhou para o lado e o ônibus estava descendo — diz o delegado Paulo Jardim, que aguarda resultado de perícias para concluir o inquérito policial.
De acordo com a legislação brasileira, quem causa dano é obrigado a indenizar as pessoas atingidas. O advogado do proprietário do ônibus afirmou que está realizando todos os levantamentos e que todos os atingidos serão ressarcidos.
Segundo as primeiras análises da perícia, a rua tem uma forte inclinação a partir do cruzamento com a Duque de Caxias, o que pode ter contribuído para o acidente.


