
A confusão na Câmara Municipal de Porto Alegre deixou cinco vereadores e um deputado feridos após serem atingidos por balas de borracha e spray de pimenta, disparados pela equipe da Ronda Ostensiva Municipal (Romu), da Guarda Civil da Capital. Os parlamentares acompanhavam grupo de manifestantes que tentava ingressar no Legislativo para acompanhar a sessão desta quarta-feira (15).
O protesto era motivado por dois projetos que estavam na pauta dos vereadores: o de concessão do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) à iniciativa privada e a proposta que restringe a atuação dos catadores na Capital. A confusão começou devido à proibição de entrada de manifestantes na Casa, que estava lotada, de acordo com a presidente da Câmara, Comandante Nádia (PL).
O protocolo de segurança do Legislativo foi acionado, o que proíbe a entrada do público — irritando o grupo que estava do lado de fora, tentando ingressar no prédio. A ação gerou reação dos agentes, que utilizaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para conter a confusão.
Segundo relato das assessorias de comunicação dos parlamentares, cinco vereadores e um deputado foram atingidos:
- Giovani Culau (PCdoB): foi atingido com tiro na perna e precisou de atendimento no ambulatório da Câmara.
- Erick Dênil (PCdoB): também foi atingido com disparo de bala de borracha na perna e ficou com ferimentos.
- Grazi Oliveira (PSOL): foi derrubada e atingida com spray de pimenta no rosto e balas de borracha na perna.
- Atena Roveda (PSOL): também foi derrubada e atingida com spray de pimenta no rosto. Recebeu ajuda para se levantar, mas passou mal e desmaiou. Precisou deixar a Câmara de ambulância. A vereadora tem síndrome do pânico.
- Natasha Ferreira (PT): foi atingida com bomba de gás lacrimogêneo e spray de pimenta no rosto.
- Deputado Miguel Rossetto (PT): foi atingido com bala de borracha nas costas enquanto ajudava o vereador Giovani Culau a se levantar. Não precisou de atendimento médico.
"Fiquei quase uma hora sem enxergar", diz vereadora
A parlamentar Grazi Oliveira relata que foi atingida por spray de pimenta diretamente no rosto, pois estava na frente dos policiais da Romu.

— Eles vieram para cima e me empurraram. Fiquei quase uma hora sem enxergar, me recuperando e aliviando a dor. Eu tomei direto no rosto, porque eu estava na frente do policial, eles me deram uma "sprayzada" direto no rosto e no corpo. Estou tentando entender o que de fato aconteceu e por que vereadores foram atingidos no seu local de trabalho. Ela (Nádia) pode ser presidente da Casa, mas aqui ela não é comandante, isso é na Brigada Militar — relatou Grazi, que pretende abrir um boletim de ocorrência na Polícia Civil sobre o caso.
Nas redes sociais (veja íntegra abaixo), a vereadora Atena afirmou que foi "covardemente agredida pela Guarda Municipal", com uso de spray de pimenta, cassetetes e bombas de efeito moral no momento que negociava o acesso da população à Câmara.
A parlamentar, que se encontra no Hospital Pronto Socorro (HPS), afirma ainda que "tomará todas as providências para buscar a responsabilização dos envolvidos" no episódio (veja abaixo).
Rossetto registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia e fará exame de corpo delito. Os vereadores também devem adotar as mesmas medidas.
Em nota enviada à imprensa, a vereadora Natasha classificou a confusão como um "ataque da prefeitura articulada com a gestão da vereadora Nádia".
"Esse foi um protocolo de segurança estabelecido por ela, sem que os demais vereadores tivessem acesso. Queremos a renúncia da vereadora Nádia", diz o texto.
"Garantir a integridade"
A vereadora e presidente da Câmara, Comandante Nádia, afirmou que a intervenção da Guarda foi necessária por razões de segurança:
— A intervenção foi para garantir a integridade das pessoas e a preservação da ordem, que é uma condição indispensável. Manifestações são bem vindas desde que ocorram dentro dos limites do regimento — disse.
Ela ainda disse que a Câmara adotará um "protocolo mais rígido" em sessões com a discussão de projetos polêmicos.
A sessão foi suspensa por quase duas horas e reaberta no final da tarde. Antes do encerramento, a presidente informou que a votação sobre o projeto que restringe a atuação dos catadores será retomada na segunda-feira (20). A concessão do Dmae não tem data para ser apreciada no plenário.



