Embora não viva seu auge, a Rua dos Andradas, no Centro Histórico, ainda é uma das vias mais movimentadas de Porto Alegre. Desde a pandemia, marcas tradicionais fecharam operações ao longo da rua, deixando dezenas de pontos vagos. No entanto, há um trecho onde o movimento é intenso e os espaços comerciais são disputados entre negócios de gastronomia.
— Fecha um bar, já abre outro — atesta um frequentador.
A área em questão fica entre as ruas Caldas Júnior e Bento Martins. Neste perímetro, há 27 operações de gastronomia. Nas próximas semanas, mais duas serão inauguradas.
Uma delas é a galeteria Famiglia Lando, que está se instalando em um palacete construído em 1914. O imóvel de três andares recebe investimento de R$ 1 milhão. A inauguração deve ocorrer no próximo mês.
— Falta recebermos os móveis. A ideia é inaugurar entre 7 e 10 de julho — diz o sócio Vilmar Lando, que também é dono do Soledade Grelhados, estabelecimento localizado na quadra seguinte da Andradas.
Outra novidade no trecho é a padaria Pão & Maria, que se estabeleceu em 2022 no Centro Histórico com uma unidade na Rua Duque de Caxias. O negócio é tocado pelo casal Carolina Pereyron e Aky're de Souza. A nova loja ficará em frente à Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), em um prédio histórico.
— Procuramos esse ponto em busca de um novo público. Já atendemos quem mora e trabalha na Duque, e agora buscaremos atender este mesmo perfil, mas nesta parte mais baixa do Centro — diz Carolina.
Cafés
Após ser comprada pela Nestlé, a Kopenhagen traçou um plano de expansão com novas lojas pelo Brasil — e a Rua dos Andradas, em Porto Alegre, faz parte dele. No começo deste ano, a marca inaugurou uma cafeteria na via, em um prédio de 1918, na esquina com a João Manoel. A construção foi atingida pela enchente de maio de 2024 e passou por reforma.

Do mesmo ramo, o Quiero Café também tem operação na Andradas. Fica em frente à Casa de Cultura Mario Quintana, em um imóvel de 380 metros quadrados que antes abrigava uma farmácia. A capacidade é para 120 lugares, internos e na rua.
A franquia Z Café também conta com unidade na Andradas, em um espaço de coworking. Há ainda o Sebo Café Riachuelo, opção para quem gosta de tomar o café cercado de livros.
Complexo de gastronomia
Inaugurado em 2023, o Up Food Art é um espaço com seis operações de gastronomia e um palco. Do lado de fora, o ponto chama a atenção pela fachada, que é de um casarão construído em 1917. O restante da edificação foi destruído por um incêndio no século passado. Antes do complexo de restaurantes, havia um estacionamento no local.
Os empresários Emerson Maicá e Egles Notti investiram R$ 1 milhão para adaptar o terreno, que tem 400 metros quadrados. O empreendimento tem dois andares, contando com mezanino, e os restaurantes funcionam em contêineres. A capacidade é para 233 pessoas.
— Quando chegamos, a ideia era trazer uma galera nova para o Centro. Hoje, 80% de quem vem para o Up é de outros bairros. Temos clientes fixos do Centro, o pessoal dos escritórios, mas eles vêm durante a semana, dias em que temos menos movimento — diz Maicá.
De quarta-feira a domingo, há shows de blues, jazz, rock, pop e música regional. O cardápio conta com hambúrger, pizzas, carnes, massas, sushis e carnes.
Na quinta-feira (5), Sônia Marques, 55 anos, partiu da Zona Sul com amigas para assistir a um show no Up Food Art.
— Achava que hoje tocaria pagode, errei o dia. Mas está legal. Gosto da comida e do clima — diz Sônia.
— Ela marca tudo aqui. Sempre nos arrasta para cá — brica a amiga Mara.
Dia e noite
A região, com vida noturna agitada, é ativa também durante o dia. No horário do almoço, funcionários públicos e moradores da região têm diversas opções de bufês. O cliente pode escolher entre o D'Torres, o Tauta e o Via Natural.
Se buscar uma a la minuta, o leque se expande. O Rossi Grelhados, inaugurado em 1997, fica na esquina da Andradas com a Rua João Manoel. Serve pratos de R$ 19 (arroz, feijão e frango) a R$ 40 (a la minuta com filé). No horário do almoço, chega a se formar uma fila. À noite, o negócio fecha.
— O público da noite não é o nosso. O pessoal gosta de beber na rua, mas meu espaço na calçada é pequeno. O vizinho colocou mesas aqui na frente e usa à noite. Sem problemas — diz o dono do negócio, Olir Rossi, que trabalha com o filho, Paulo.
Ao redor, há bares e lanchonetes que também servem a la minuta também à noite. O morador do Centro Histórico Ricardo Seidel, 30 anos, gosta dos pratos do Dinápoli, do Veneza, do Refúgios e do Eldorado's. Quando quer beber com os amigos, vai ao P.h.ade Lanches ou ao Alpes, que também têm xis e porções no cardápio.
Esta é a única parte do bairro em que me sinto seguro à noite. É um oásis no Centro
RICARDO SEIDEL
Morador
Seidel completa:
— Adoro sentar na rua, ver o movimento, sem me preocupar se estou fazendo barulho. Gosto de conversar alto.
Clientela dividida
Em 2012, o empresário Maikon Daltoe inaugurou na Rua dos Andradas a Padaria e Confeitaria Roma. Inicialmente, dividiu a clientela da rua com poucos restaurantes que já estavam instalados na região. Com a abertura de novos bares e de um supermercado do Zaffari, ele sente que o público ficou dividido.
— Chegaram negócios muito bacanas aqui, e o público se dividiu. Não veio gente nova. Precisamos atrair pessoas de outros bairros — diz o empresário.
Nos próximos meses, ele fará uma reforma de R$ 1 milhão para corrigir estragos da enchente do ano passado, pois a loja ficou inundada por 16 dias. Serão trocados piso, móveis e equipamentos.
Daltoe abriu outros dois negócios na Andradas: o restaurante 787, que serve risotos, filés, hambúrgueres e pizzas, e o bar Poeta, de xis e petiscos. O investimento foi de R$ 300 mil em cada.
Mais adiante, o Boteco Histórico é administrado por Diogo Daltoe, irmão de Maikon, que comprou o negócio em 2023. O estabelecimento serve petiscos, bebidas e churrasco. Um ano depois, Diogo adquiriu a lanchonete Alto Astral, que também fica na Andradas.
— Antes da enchente, estava bem bacana. O pessoal do home office começou a voltar. Circulava mais gente, sobrava para todo mundo. Ainda é bom para os negócios, mas poderia ser melhor — diz o empresário, que avalia que a região é uma das melhores para se ter um negócio no Centro:
— Aqui é seguro. Desde que cheguei aqui na Andradas, nunca vi um assalto.

Há 12 anos na rua, o empresário Vilmar Federizzi diz estar acostumado a receber turistas. Os dias de final de semana são os de maior movimento no Boteko Andradas, restaurante que ele administra. Com 190 lugares, o estabelecimento tem dois espaços internos e mesas na rua.
Sobre a chegada de novos negócios à região, Federizzi diz:
— Faço o meu bem feito, me garanto. Desde que estou aqui, abriram muitos bares, mas alguns fecharam. Quem não é aventureiro, fica.
