Com hino nacional cantado em Kaingang, danças ancestrais, disputas de modalidades como arco e flecha, arremesso de lança e cabo de guerra, além de confraternização entre quatro etnias, a primeira edição dos Jogos Tradicionais dos Povos Indígenas do Sul está sendo realizada neste sábado (14) na aldeia Kaingang Tupe Pãn, situada no Morro do Osso, na zona sul de Porto Alegre.
Dezenas de indígenas de cerca de 15 aldeias reúnem-se onde há um campo de futebol e uma vista ampla e privilegiada da cidade. Participam representantes das etnias Charrua, Kaingang, Mbyá-Guarani e Xokleng.
Com adereços, pinturas pelo corpo, cocares, lanças e instrumentos como maracás, o clima é de festa. Antes da abertura dos jogos, houve um minuto de silêncio pelos guerreiros que lutaram pela causa indígena e já morreram.
Preservação das tradições
O amistoso de abertura foi vencido pela aldeia Coqueiros por 3 a 2 sobre os donos da casa. Os ganhadores jogaram de chuteiras e uniformes enquanto a aldeia do Morro do Osso atuou descalça. O ex-árbitro Márcio Chagas da Silva apitou a partida.
O cacique Volmir Vergueiro, da aldeia Tupe Pãn do Morro do Osso, enaltece a importância da preservação da cultura e das tradições dos povos ancestrais.
— É uma cultura que não deve acabar e não pode morrer. Isso é muito importante para nós. Estamos há 20 anos aqui e sempre fazemos essas atividades no Morro do Osso — afirma o líder, dizendo que os jogos terão novas edições.
Exibição de filme
O evento ocorre em espaço de conservação ambiental. Para chegar até o local, é preciso percorrer uma trilha de terra cercada por árvores, arbustos e muito verde. Em torno do campo, as pessoas acompanham as atividades em grupos animados de conversa.
Quando começou a chuva, os participantes fizeram intervalo para o almoço. Um churrasco estava sendo servido na aldeia.
Em um telão, o ecossistema audiovisual Metropolitano RS exibiu o filme restaurado Índios Urbanos, que, segundo os integrantes, aborda a retomada do território da Lomba do Pinheiro pelo povo Kaingang.
Um dia especial
O indígena Diego Vinicius, que participou da partida de futebol pelo time da casa, destaca a emoção de interagir com os demais povos:
— É mais para ter união entre as aldeias e outras etnias. É um dia mais do que especial para nós.
O ex-árbitro Márcio Chagas da Silva dirigiu-se aos presentes antes de apitar o jogo:
— É uma satisfação poder participar da primeira edição dos Jogos Tradicionais dos Povos Indígenas do Sul. Espero que a cultura indígena seja enaltecida.
É uma cultura que não deve acabar e não pode morrer. Isso é muito importante para nós.
CACIQUE VOLMIR VERGUEIRO
Da aldeia Tupe Pãn
A líder do grupo de dança Clarice Kokoj Vergueiro observa que o evento trouxe "uma alegria imensa":
— A nossa cultura não pode parar, não podem deter. Os jogos indígenas são como um renascimento.
O presidente Claudio Calmo, da Cooperativa dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Área de Comunicação, Cultura e Cidadania de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, ressalta que o evento foi realizado de forma sustentável:
— Os guardiões das áreas verdes de Porto Alegre, e principalmente do Parque Morro do Osso, são os povos originários. A preservação se deve também à interlocução dos povos originários com o meio ambiente.
Saiba mais
A primeira edição dos Jogos Tradicionais dos Povos Indígenas do Sul tem transmissão pelo YouTube para o Brasil inteiro.
O patrocínio foi do Ministério dos Povos Indígenas e do Museu do Índio da Fundação Nacional do Índio (Funai). O evento teve apoio do Ministério da Cultura (MinC) por meio do Programa Retomada Cultural RS da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
O apoio institucional foi da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que forneceu a alimentação. A Brigada Militar e a Guarda Civil estavam presentes no evento.