Um prédio na movimentada Avenida Borges de Medeiros, no Centro Histórico de Porto Alegre, será completamente revitalizado. Desde 1999, a estrutura é ocupada por 52 famílias ligadas à Cooperativa 2 de Junho. Após anos de tratativas com o governo do Rio Grande do Sul, dono do edifício, o grupo assumirá a gestão do imóvel e reformá-lo com recursos da Caixa Econômica Federal (veja, na galeria abaixo, como ficará o espaço).
O projeto é licenciado pelo Minha Casa, Minha Vida Entidades, modalidade que funciona por meio da concessão de financiamentos a beneficiários organizados de forma associativa por uma Entidade Organizadora (EO), como associações, cooperativas e sindicatos. São utilizados recursos provenientes do Orçamento Geral da União (OGU), aportados ao Fundo de Desenvolvimento Social (FDS).
O investimento no projeto é de R$ 12,3 milhões, incluindo a compra do imóvel e a reforma dele. As negociações tiveram o apoio do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM).
O contrato com a Caixa Econômica Federal foi assinado nesta terça-feira (10) em evento na Capital com a presença do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Na ocasião, outro prédio com recursos do governo federal foi anunciado para Porto Alegre. Ele ficará em frente à Usina do Gasômetro e abrigará 23 famílias.
O que será feito
A Ocupação 2 de Junho foi iniciada na data que dá nome à cooperativa, em 1999, por um movimento liderado por cerca de 20 esposas de cabos e soldados da Brigada Militar. Nos últimos anos, foram feitas diversas negociações para a compra do imóvel, mas sem sucesso até então.
O prédio fica no número 992 da Avenida Borges de Medeiros, próximo ao cinema Capitólio. Ao todo, são 13 pavimentos. Antes da ocupação, a estrutura era usada pelo Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (Ipergs).
O projeto da reforma está sendo elaborado pelo escritório Ah! Arquitetura Humana, com a colaboração da arquiteta Paola Maia. A expectativa é de obter as licenças na prefeitura de Porto Alegre em até um ano. Depois, a obra de revitalização vai durar mais 24 meses. Ao longo do período, serão gerados 20 empregos diretos.
— Vamos qualificar os espaços a partir de como está hoje ou remodelar todo o prédio para acomodar as 52 famílias, com unidades padronizadas. Alguns apartamentos estão bons; outros, nem tanto. Há questões de ventilação, iluminação e segurança de incêndio que precisam ser sanadas — diz a arquiteta Karla Moroso, do Ah! Arquitetura Humana, que tem Taiane Beduschi como sócia.
Hoje, há apartamentos de 30 a 70 metros quadrados. Com a reforma, os espaços serão readaptados, já que originalmente foram construídos para abrigar escritórios. Na fachada, a cor vermelha será mantida.
No térreo, as salas com saída para a rua voltarão a ser exploradas comercialmente — o valor arrecadado será usado na manutenção do condomínio. No terraço, haverá um espaço de uso comunitário.
— Teremos elevador, o que hoje está faltando. O movimento é organizado, tem equipe técnica. O pessoal adquiriu experiência para poder tornar tudo isso real — diz Rejane Cristine da Silva, presidente da Cooperativa 2 de Junho e moradora do edifício há sete anos.
A vizinha Eliane Santos, que faz parte da ocupação desde o início, completa:
— No começo, não éramos organizados. Depois, os moradores se juntaram para fundar a cooperativa. Criamos um núcleo de técnicos para negociarmos o prédio com o Estado. Foram 33 audiências ao longo de cinco anos. O que era para ser uma coisa rápida, com a pandemia, foi se estendendo. Mas agora vai.