
Quem caminha por Porto Alegre pode ter a sorte de encontrar uma pedra no meio do caminho. Sorte porque, longe da incomodação, pedrinhas coloridas têm buscado trazer um respiro na rotina de quem as vê. Nas redes sociais, vídeos de artistas espalhando os pequenos objetos por calçadas, canteiros e outros locais da cidade chamaram a atenção.
Na Capital, são pelo menos duas iniciativas individuais. Em uma, as pedras ganham rostos fofos e palavras motivacionais. Em outra, transformam-se em abelhinhas.
Nos comentários de fotos e vídeos postados (veja alguns abaixo), é possível ver o resultado dos trabalhos: pessoas se motivando a encontrar os objetos e dando dicas de onde gostariam de vê-los.
As abelhinhas

Na vida da artista visual Pagú Coelho, 37 anos, as pedrinhas pintadas surgiram para divulgar uma exposição. No entanto, acabaram se tornando uma forma de impactar pessoas que a artista sequer conhecia.
Em maio deste ano, ela esteve em repouso por conta de uma cirurgia e decidiu voltar a pintar — algo que não fazia há algum tempo porque estava focada na função de tatuadora. As protagonistas das pinturas: abelhas, insetos que admira principalmente pela forma de organização.
Reunidas, as obras viraram uma mostra individual no estúdio de Pagú. Para divulgar, a artista decidiu transformar pequenas pedras em abelhinhas, espalhando-as pela cidade e divulgando a ação nas redes sociais.
— Pensei em algo que pudesse ficar rolando pela cidade, que fosse algum material orgânico, principalmente, que não fosse algo que eu trouxesse poluição para a cidade — esclarece.
As artes são feitas sobre seixos, pequenas pedras que Pagú tem adquirido.
"Retorno genuíno"

Pelas contas de Pagú, já foram mais de 160 pedrinhas espalhadas em menos de duas semanas. E ela diz que não pretende parar, até mesmo por conta do "retorno genuíno e verdadeiro" que teve. O propósito agora é focar em deixar os objetos em lugares onde as pessoas gostem de encontrar.
— O que me chamou mais a atenção foi o número de pessoas sugerindo para deixar perto dos hospitais, perto do hospital da criança, principalmente — destaca.
Abelhinhas já foram colocadas em lugares como Cidade Baixa, Redenção, Bom Fim, Santana, Santa Cecília e diferentes pontos da Avenida Ipiranga.
O Manifesto Cuticuti

Engajada na arte urbana desde os tempos de faculdade, a artista e ilustradora Melissa Westphal, 33 anos, começou seu movimento de pintar pequenas pedras no início de 2024. A ideia de levar os traços para as pedras surgiu quando estava caminhando em um parque e decidiu pegar algumas. Inspirada por obras que já conhecia, ela iniciou o ciclo: limpar, pintar e devolver para a cidade.
Entre pausas, principalmente por conta da enchente, e retornos, Melissa contabiliza mais de 200 pedrinhas espalhadas ou dadas de presente.
As pequenas peças são um braço do movimento que a artista chama de Manifesto Cuticuti, que nasceu há mais de uma década e engloba as diferentes obras de Melissa. A ideia é levar o fofo para o cotidiano das pessoas. É por isso que as pedras apresentam rostos que remetem a personagens cheios de fofura.
Uma quebra na rotina
Para Melissa, a ideia a ajudou a sair da frente das telas e a resgatar a proximidade com a arte de rua. Para quem vê as pedrinhas, a proposta é trazer uma quebra na rotina.
— Acho que é um pouco por esse caminho de transportar, por alguns segundos, aquela realidade da pessoa que está passando ali na rua. Porque a arte é isso: é tu olhar e pensar "como é que isso veio parar aqui?", "o que isso significa?". Por um segundo tu fica meio "piripaque" do Chaves — conta, brincando com a comparação.
Porto Alegre já teve peças na orla do Guaíba, no Centro Histórico, nos bairros Moinhos de Vento, Bom Fim, Cidade Baixa e na Redenção. As pedras também foram espalhadas por São Lourenço do Sul, cidade natal de Melissa, Pelotas e Gramado, e já circularam por Santa Catarina e até pelo Rio de Janeiro.