Na zona sul de Porto Alegre, um edifício de 50 anos desperta a curiosidade de quem passa em frente ao Estádio Beira-Rio. Grudado no Morro Santa Tereza, com vista para o Guaíba, o Residencial Encosta do Poente parece desafiar a gravidade — e a lógica. Projetado pelo arquiteto porto-alegrense Ruben Kleebank e construído entre 1972 e 1975, o prédio com formato de escada se tornou um marco da arquitetura gaúcha.
Cada apartamento tem, no mínimo, 281 metros quadrados, com terraço e piscina privativa. Ao todo, são 30 unidades que podem ser consideradas casas "cravadas" na encosta.
Como surgiu a ideia?
Na época, ao folhear uma revista técnica sobre arquitetura, Ruben Kleebank encontrou a foto de um prédio escalonado na Alemanha e pensou: se eles fizeram, por que não podemos fazer também?
Com a ideia, a criatividade e a referência em mãos, Kleebank desenhou o projeto do residencial, incluindo a emblemática cabine do elevador que sobe na diagonal, e contou com a ajuda de um engenheiro austríaco para desenvolver a parte mecânica.
Mesmo com uma proposta inovadora e ousada, não caiu de imediato no gosto de potenciais compradores. Sua arquitetura causava estranhamento, e as vendas demoraram a engrenar.
Uma década depois, foi construído, bem ao lado do Encosta, um novo residencial seguindo o mesmo estilo arquitetônico. Porém, o modelo não virou tendência na capital gaúcha.
Viver no alto
Em 2025, 50 anos depois da conclusão, o prédio segue sendo um dos projetos icônicos de Porto Alegre. Para o casal de servidores públicos Flavia Mascia e Mauro Kaufmann, moradores do Encosta do Poente, o maior diferencial do residencial é, sem dúvidas, a vista.
— A vista não tem como explicar. Tu vai fazer uma filmagem, vai ficar linda, mas não vai ficar igual. Quando tu chega aqui e tem essa sensação de amplitude, é muito boa — afirma Flavia.
Um símbolo porto-alegrense
Para o arquiteto e diretor administrativo do Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio Grande do Sul, Lucas Löff Leite, o residencial estabelece uma relação direta com o Guaíba.
— A encosta do morro que olha para o Guaíba faz com que ele tenha, realmente, um protagonismo na composição dos espaços internos. Não à toa, todos os ambientes internos de permanência prolongada, os quartos e a sala, têm a fachada completamente envidraçada.