
No ano passado, os cinco restaurantes do empresário Edemir Simonetti ficaram um mês debaixo d'água durante a enchente.
O empreendedor é conhecido em Porto Alegre por gerir estabelecimentos icônicos da cidade, como o Chalé da Praça XV, no Centro Histórico, e o 360 Poa Gastrobar, instalado em uma estrutura de vidro em cima do Guaíba. Além desses, outros três negócios administrados por ele também foram atingidos pela cheia.
Mais de um ano após a enchente, Simonetti diz que seus restaurantes voltaram a ter estabilidade financeira. O prejuízo causado pela cheia, somando as cinco unidades, passou de R$ 1,5 milhão.

— Neste mês de maio, encontramos um ponto de reequilíbrio. É a volta por cima após um ano inteiro operando no vermelho. Muitas empresas foram embora do Centro. A noite ainda é um desafio, mas está melhorando. O novo estacionamento em frente ao Chalé ajudou muito, principalmente aos finais de semana — conta o empresário.
As operações do Chalé da Praça XV, do 360 Poa Gastrobar e do Guapo, no bairro Praia de Belas, já foram retomadas. O empresário ainda avalia se reabrirá o Baruno, no trecho 1 da orla do Guaíba, e o Bistrô do Margs, junto ao Museu de Arte do Rio Grande do Sul.
Para atrair pessoas que vêm de fora de Porto Alegre, Simonetti criou um roteiro em parceria com 200 guias turísticos. O passeio começa com uma volta de barco no Guaíba; depois, há uma visita guiada no Centro, passando pelo Mercado Público e Chalé da Praça XV.
— Antes de irem para o aeroporto, visitam o mirante Santa Tereza e os estádios da dupla Gre-Nal. A maioria dos turistas vem para ir à Gramado e não conhece Porto Alegre. A ideia é que ele se encante pela cidade e volte para conhecer outros locais — diz Simonetti.
Segundo o empresário, desde a criação do guia turístico, o faturamento mensal aumentou em R$ 40 mil.
Chalé da Praça XV
Em 2001, Simonetti assumiu o histórico prédio do Chalé da Praça XV, que pertence à prefeitura de Porto Alegre. Na época, a casa de 1885 havia sido desocupada pelo Senac, que operou uma escola no imóvel. O empresário foi o único interessado na licitação. Mesmo desacreditado, o restaurante instalado no local foi um sucesso.
Em 2011, o Chalé passou por uma expansão, já pensando no público de turistas que atenderia na Copa do Mundo, três anos depois. Hoje, o estabelecimento conta com 350 lugares para clientes, contando a área interna e externa.
Na enchente de 2024, foi um dos restaurante mais atingidos em Porto Alegre. O subsolo, onde ficavam câmaras frias e escritórios, ficou tomado de água. Na parte de cima, foram perdidos móveis, equipamentos e o jardim. A elétrica também teve de ser toda refeita, lembra Simonetti.
Conforme adiantou a colunista Giane Guerra, o Chalé da Praça XV passará por uma reforma de R$ 6,8 milhões. O projeto foi aprovado pelo Programa Emergencial Rouanet RS, criado no ano passado. O valor deve ser captado com empresas até o final de 2025. As interessadas investem e, depois, abatem em impostos, com contrapartidas e a exposição da marca no local.
360 Poa Gastrobar
O projeto de revitalização do trecho 1 da Orla, em 2018, previa a construção de um restaurante em cima do Guaíba, ao lado da Usina do Gasômetro. De novo, o único interessado nesta licitação foi o empresário Edemir Simonetti. Na estrutura, ele inaugurou o 360 Poa Gastrobar — um novo ponto turístico da Capital.
— Na época, a usina estava degradada, a Orla estava bem diferente. Porto Alegre dava as costas para o Guaíba. Mas, graças a Deus, vencemos essa licitação e as coisas mudaram. Tivemos que investir muito.
O restaurante tem capacidade para 180 clientes, contando um deque no lado de fora. Além de turistas, o negócio recebe eventos e famílias de porto-alegrenses aos finais de semana.

Na enchente, por ficar em um nível mais elevado, a água chegou a 25 centímetros de altura no imóvel. Mesmo assim, invadiu o subsolo do restaurante, onde ficam equipamentos de cozinha e de informática.
— A pandemia já tinha sido fatal. Montamos o negócio e, quando estávamos equilibrados, veio o isolamento. Foi um desastre que o mundo todo sofreu. Depois, de novo equilibrados, veio a enchente. Destruiu quase tudo — lembra o empresário.
Logo após a enchente, Simonetti fez um jardim no lado de fora do restaurante.
— Precisava de um pouco de beleza enquanto a prefeitura não termina a reforma do trecho 1 — diz.
Baruno
O bar Baruno foi outra aposta do empresário na orla do Guaíba. Devastado na enchente, ele ficava em um ponto no começo do trecho 1, que antes era administrado pela empresária Soraia Maria Saloum Rosso, também conhecida como "Tia Carmen".
No mês passado, a prefeitura começou a reforma de todo o trecho 1, incluindo os espaços dos bares. A expectativa é de reabrir os estabelecimentos no começo de 2026. Simonetti ainda avalia se manterá a operação no local.
Guapo
Aberto há oito anos, o Guapo é o restaurante mais distante de Simonetti. Fica junto ao Hotel Blue Tree Towers Millenium, na Avenida Borges de Medeiros, bairro Praia de Belas. Também foi atingido pela enchente, onde a água chegou a quase um metro de altura.
Além de reformar completamente o espaço, o empresário expandiu a operação com uma nova varanda, ganhando 36 novos lugares para clientes.
— Vale a pena estar ali. É um hotel maravilhoso, com ótima ocupação. São cerca de 200 turistas por dia. Temos uma boa relação com a gestão do hotel. Servimos café da manhã, almoço e janta — diz.
Bistrô do Margs
Por fim, o Bistrô do Margs, operado por Simonetti desde 2001, ainda não reabriu. Segundo empresário, seria necessário um investimento de quase R$ 600 mil para isso, no qual ele não está disposto a fazer.
— Ali, se destruiu tudo. Teria que fazer uma loja nova. Além disso, nesta região, tu só tem as vendas do almoço de segunda a sexta-feira. Não tem happy hour, café da manhã. É vazio à noite. Um negócio ali se tornou completamento inviável.
Relação com Porto Alegre
Antes de assumir o Chalé da Praça XV, em 2001, Simonetti chegou a ter lanchonetes e restaurantes em shoppings de porto Alegre.
Veio de Nova Bréscia, no interior do Estado, em 1977. Foi vendedor de verdura na Ceasa e office boy de bancos, até conhecer o ramo da gastronomia.
Por um ano, foi funcionário de um bar. Se juntou com colegas e abriu um estabelecimento próprio na Praça Rui Barbosa.
— Ali bombava. O Centro era realmente o centro da cidade. Na época, não tinha shopping e lojas online. Havia muitos bancos, com muitos funcionários que eram nossos clientes. Também não tinha franquias de restaurantes, sobrava tudo para nós — lembra o empresário.
Depois, junto com os irmãos Aventino, Mirta e Antoninho, abriu mais operações no Centro Histórico: na Travessa Acilino de Carvalho (conhecida como "Rua 24 Horas") e na Rua Andrade Neves. Na década de 1990, começou a expandir para lojas em shopping centers, como o Iguatemi, o Praia de Belas e o Rua da Praia. A última loja em centros comerciais foi encerrada na pandemia.
Apesar de o Centro Histórico não viver mais seu auge, Simonetti não pensa em deixá-lo:
— Nunca vou largar o Centro. Além de investir nele, sou morador. O bairro chegou no fundo do poço, mas já começou a reagir. É só ver o Mercado Público recebendo cada vez mais novas marcas. As coisas vão melhorar muito, tenho certeza.