
Após dois anos, fechou a lanchonete que funcionava embaixo do Viaduto Imperatriz Leopoldina, no Centro Histórico de Porto Alegre. O Xis da Imperatriz, como era conhecido, foi instalado, em um contêiner, no começo de 2023, por meio de uma parceria com a prefeitura. O fechamento é devido à sujeira e à insegurança no local, afirmam os antigos sócios.
O viaduto, que também é conhecido como "Brooklyn", é usado como ponto de entrega de marmitas do projeto Prato Feito das Ruas, que distribui alimento a pessoas em situação de rua. Em nota, os sócios da lanchonete, que não querem ser identificados, dizem que o local ficava sujo após os dias das ações.
"A presença constante de moradores em situação de rua, agravada pela ausência de segurança pública efetiva e pela intensa distribuição de marmitas no local, contribuiu para a permanência e concentração dessas pessoas na área, alto volume de lixo e restos espalhados, onde a tentativa de organização em conjunto com os organizadores do projeto social não teve sucesso", diz um trecho da manifestação dos proprietários (leia a nota na íntegra no final da reportagem).
Zero Hora procurou a organização do Prato Feito das Ruas para comentário, que, por meio de nota, (leia a íntegra abaixo) rebateu as declarações dos antigos proprietários.

Outra reclamação do Xis da Imperatriz é sobre pichações no local. Os sócios dizem que fizeram a pintura de pilastras do viaduto, que foram vandalizadas posteriormente. Ainda na nota, os empresários dizem que desejam levar a operação para outro local, mas não adiantam para onde. A marca chegou a ter uma unidade em Canoas, no complexo Garden e Contêineres, mas essa loja também foi fechada.
Como está o espaço
O contêiner onde ficava instalada a lanchonete já começou a ser desmontado. Na semana passada, a prefeitura deu prazo de 30 dias para a remoção.
Para explorar comercialmente a parte de baixo do viaduto, o interessado não precisa pagar aluguel, como acontece em outros espaços concedidos pela prefeitura. No caso do viaduto, a Secretaria Municipal de Parcerias (SMP) diz que trata-se de uma "adoção especial", em que o vencedor da licitação precisa entregar contrapartidas, como manter o local limpo e iluminado.
— Foi o primeiro caso de uma adoção especial que não deu certo. A partir do momento que as empresas assumem esses espaços, vândalos e usuários de droga costumam sair destes locais, tornando eles mais seguros e limpos — diz o secretário adjunto de Parcerias, Fabiano Rheinheimer.

Novo adotante
O contrato com o Xis da Imperatriz era de quatro anos, ou seja, a empresa poderia explorar o local comercialmente por mais dois anos. A quebra de contrato não gerou multas. Agora, a prefeitura trabalha para encontrar um novo interessado em assumir a área.
— Estamos buscando negócios do meio do skate, pois o viaduto é usado por skatistas que fazem manobras no local. Queremos alguém que fale essa linguagem para aproveitar o público que já frequenta lá — diz Rheinheimer.
A prefeitura diz que abrirá uma nova disputa somente após alguma empresa demonstrar interesse pela área.

Nota do Xis da Imperatriz na íntegra
Informamos que a saída do Xis Imperatriz do espaço localizado debaixo do viaduto se deu por uma série de fatores que comprometiam o funcionamento adequado das nossas atividades e a segurança de todos os envolvidos, inclusive tivemos funcionários sofrendo ameaças pelo pessoal instalado no local.
A presença constante de moradores em situação de rua, agravada pela ausência de segurança pública efetiva e pela intensa distribuição de marmitas no local, contribuiu para a permanência e concentração dessas pessoas na área, alto volume de lixo e restos espalhados, onde a tentativa de organização em conjunto com os organizadores do projeto social não teve sucesso. Isso gerou um ambiente de instabilidade, dificultando o acesso e a convivência segura no espaço. No operação iniciava no sábado após tal ação, o que se encontrava no local era triste demais, fezes, pessoas deitadas na volta do xis que se negavam a sair, restos de comida atirado pelo chão, etc.
Ressaltamos que reconhecemos a complexidade da situação social e humanitária dos moradores de rua, mas entendemos que a solução precisa envolver ações integradas das autoridades competentes, com políticas públicas eficazes e abordagem social estruturada.
Agradecemos a compreensão de todos e seguimos comprometidos em continuar nossos trabalhos em um novo local, mais adequado para acolher nossos serviços com dignidade e segurança.
Quando assumimos a adoção fizemos diversas benfeitorias ao local, um exemplo foi a pintura de pilares que no dia seguinte já estavam pichados novamente.
Nota do Prato Feito das Ruas
Em decorrência das declarações do empreendedor do Xis Imperatriz ao jornal Zero Hora e publicadas na data de 19 de maio de 2025, nós, do Prato Feito das Ruas, viemos esclarecer:
A existência de pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade social, infelizmente, não é exclusividade do Viaduto Imperatriz Leopoldina, também conhecido como João Pessoa e Brooklyn pela comunidade porto-alegrense. Essa realidade se espalha por debaixo de outros viadutos, pontes, praças e ruas da cidade, que já conta com mais de 5 mil pessoas nessa situação em números levantados pelo Ministério da Saúde.
O Prato Feito das Ruas, organização da sociedade civil existente há oito anos trabalhando debaixo do Viaduto da João Pessoa, realiza suas atividades apenas aos sábados distribuindo cafés da manhã e mais de mil almoços para pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade social. Junto conosco também trabalham em diferentes momentos importantes parceiros da sociedade civil, como Barbeiros Guerreiros e Médicos do Mundo, e do poder público, como a Secretaria da Saúde do município. Antes, durante e após nossas atividades contamos com uma equipe de limpeza que higieniza o nosso espaço de trabalho e do entorno.
Sendo assim, sentimos muito se o empreendedor – que desde maio/2024 abandonou e fechou o referido contêiner - julga que seu empreendimento faliu por causa do desenvolvimento de nosso trabalho humanitário aos sábados pela manhã. De nossa parte, imaginamos que há inúmeros outros motivadores a considerar, os quais não nos cabem julgar.
Seguiremos nosso trabalho certos de que estamos contribuindo com a sociedade e com aqueles que mais precisam.
Porto Alegre, 23 de maio de 2025
Rose Carvalho
Coordenadora Geral
Prato Feito das Ruas