A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) entregou 550 kits de alimentos para cozinhas solidárias que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar desde o período da enchente de maio. A ação deste sábado (30) se concentrou na Cozinha Solidária da Avenida da Azenha, em Porto Alegre.
Na sequência, as marmitas preparadas foram entregues pelos voluntários na Praça Princesa Isabel para grupos nessa situação, além de trabalhadores. As marmitas eram compostas por arroz orgânico, feijão, farinha de milho e macarrão, além de frango.
A proteína animal não integrava o kit do governo federal e foi comprada pelos voluntários da própria Cozinha Solidária por meio de doações e parcerias.
Por volta das 12h40min, 30 pessoas aguardavam na fila e enfrentavam o sol intenso para garantir a quentinha. O aposentado Pedro Alves de Souza, 74 anos, era um dos presentes.
— Eu sempre estava pegando marmitas perto da Estação Rodoviária. Isso me ajuda uma barbaridade — compartilha.
Cada kit entregue para as cozinhas prepararem as refeições pesa 16 quilos. Possui itens como arroz orgânico, feijão, farinha de milho e macarrão. Os alimentos vindos da agricultura familiar garantem o preparo de cerca de 5 mil refeições diárias.
As atividades foram acompanhadas pelo presidente da Conab, Edegar Pretto, que chegou a auxiliar no preparo das marmitas na Cozinha Solidária da Azenha, carregou as embalagens até a praça e ajudou na distribuição para as pessoas.
— Porto Alegre não está fora de um contexto nacional. Infelizmente, a fome ainda é uma realidade no Brasil. De 2014 para cá, quando o país tinha erradicado a fome, foram 33 milhões de pessoas que entraram no mapa da fome. Quando o presidente Lula retornou, uma de suas prioridades foi erradicar a fome outra vez. Porque um país como o nosso, que produz tanto, tem solo fértil, povo trabalhador e uma estrutura agrícola excepcional, é inimaginável continuar convivendo com a fome — explica Pretto.
A distribuição das marmitas acontece por meio de quatro cozinhas solidárias — Azenha, Irmãos Maristas, Nosso Senhor do Bom Fim e Lami. A Conab comprou os alimentos diretamente da agricultura familiar gaúcha, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Na compra, foram contempladas cinco cooperativas de Paulo Bento, Erechim, Viamão e Eldorado do Sul.
Segundo Pretto, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) já comprou R$ 1,1 bilhão de alimentos da agricultura familiar. A ação deste sábado integra recursos junto ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) de R$ 20 milhões para o Estado. Desse total, R$ 12 milhões serão direcionados para a comida. Os demais R$ 8 milhões deverão ser destinados para a aquisição de sementes de arroz e feijão que estão sendo entregues para os agricultores impactados pela inundação.
— Aqui em Porto Alegre, especialmente na enchente, nós tivemos 651 cozinhas solidárias que se formaram. Naquele primeiro momento da enchente, foram (entregues) 152 mil cestas de alimentos — destaca Pretto.
Para a superintendente regional do Conab, Luzia Teixeira, a ação de entrega dos kits representa também ganhos para os pequenos produtores gaúchos.
— É uma iniciativa importantíssima, porque é da sociedade civil. A gente vê aqui na Cozinha pessoas de outros estados vindo trabalhar voluntariamente. Esta entrega de hoje (sábado), tem produtos da agricultura familiar, que é um público importante da Conab — observa.
O deputado estadual Adão Pretto Filho (PT), que coordena a Frente Parlamentar de Combate à Fome com Alimentação Saudável na Assembleia Legislativa, também acompanhou a entrega dos kits e das marmitas.
Milhares de marmitas por dia
Um dos coordenadores da Cozinha Solidária, Fernando Campos Costa, lembra que a Cozinha Solidária da Azenha funciona de segunda-feira a sábado. Durante a semana, há uma entrega realizada na Praça Princesa Isabel e em alguns territórios, o que acontece desde a enchente.
— Temos entregado de 2 mil a 3 mil marmitas por dia aqui nessa cozinha para abastecer pessoas em situação de vulnerabilidade — menciona.
A Cozinha da Azenha do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) ainda serve aos sábados alimentos para os agricultores da Feira de Agricultores Ecologistas (FAE) do Bom Fim. Em troca, os agricultores doam produtos que não comercializaram para a cozinha poder aproveitar no abastecimento.
Para outro coordenador da Cozinha Solidária, Caio Belolli, distribuir alimentos durante a enchente de maio foi um dos grandes desafios para os voluntários em 2024.
— Saímos de uma produção de 350 marmitas por dia para 4 mil por dia e atendendo 38 territórios. Então o desafio de logística foi muito grande e contamos com a parceria de outros movimentos sociais e da sociedade civil organizada — relata.
O Brasil conta com 68 cozinhas solidárias distribuídas por 14 estados do território.