Se um reles mortal for à Ceasa-RS em busca das três primeiras frutas que lhe vierem à cabeça, provavelmente não encontrará nenhuma delas nas dependências do Dico Comercial de Frutas e Legumes, localizado no pavilhão A3 da meca alimentícia na zona norte de Porto Alegre. Banana, maçã, laranja e outros exemplares amplamente difundidos não são vendidos nessa fruteira. Por lá, nomes como rambutã, canistel, kino, mangostim e sapoti são as estrelas, intrigando olhos, ouvidos e paladares menos sofisticados (faça o quiz no fim do texto e teste seus conhecimentos).
— Experimento tudo, até as pimentas. Mas às vezes vejo as caixas dos outros passando e dá vontade de comer uma pera... — brinca Paulo Escobar, 44 anos.
Junto com o pai, Alverino (conhecido como Dico), e os três irmãos, Paulo comanda o maior negócio de frutas e legumes exóticos da Ceasa, onde são oferecidas entre 150 e 170 variedades dos mais diferentões vegetais que consegue obter. Enquanto cerca da metade do que vende consegue de produtores gaúchos, a outra parte costuma trazer de São Paulo. Na capital paulista, a família tem uma espécie de olheiro (ou caça-talentos, como diz) que fica atento às novidades e o avisa quando surge uma mercadoria que ainda não conhece.
No negócio dos Escobar, que começaram a trabalhar com os alimentos inusitados na década de 1990, frutas exóticas que chegaram recentemente às prateleiras dos supermercados, como a pitaya, são velhas conhecidas. O que muda, segundo Paulo, é a procura: toda vez que os menos convencionais ganham algum tipo de divulgação, em especial por seus benefícios à saúde, o interesse dos consumidores se multiplica.
— Quando sai uma notícia, sempre aumenta a procura. Foi a assim com a graviola, quando disseram que era boa para o câncer, e agora com a pitaya — comenta o empresário, que também vende uma variedade diferente da fruta, de casca amarelada.
Assim como o vistoso alimento da moda, cujo exterior cor de rosa — por dentro é esbranquiçada — chama atenção a distância, outros destacam-se pela aparência. É o caso do rambutã. A casca rosada do exemplar de origem asiática lembra os espinhos de um ouriço — bem diferente do aspecto da parte interna, um fruto branco que assemelha-se à lichia. De exterior amarelado espinhoso, a aparência kino também contrasta com o que vem dentro. Sua polpa lembra um maracujá e tem consistência gelatinosa.
Pela dificuldade em obter os produtos, muitos deles originários de outros Estados ou de países estrangeiros, as frutas exóticas costumam custar mais caro que as convencionais — há das que o quilo fique em torno de R$ 20 até aquelas que uma pequena caixa pode custar R$ 50. A própria existência de locais que ofereçam esse tipo de produto é raridade. Entre os cerca de 300 comerciantes da Ceasa-RS, apenas três trabalham com os exóticos.
Fruta da rainha tem sabor adocicado
Sentir-se como um personagem da turma do Chaves ou um membro da aristocracia britânica estão entre as experiências possíveis em uma ida ao comercial de frutas exóticas da Ceasa-RS.
Estrela do seriado mexicano que marcou a infância de gerações, o tamarindo (do refresco que parecia de groselha, mas tinha gosto de limão), se apresenta em caixas de 250g ou 300g. Além de servir para o preparo de sucos, pratos e sobremesas, o exemplar de sabor levemente azedo pode ser degustado in natura.
Já em pequenas caixas empilhadas no chão, apresenta-se uma unanimidade em termos de sabor, chancelada por um paladar nobre. De formato arredondado e casca roxa, o mangostim parece uma fruta cenográfica. Mas basta abrir e experimentar um dos gomos brancos de seu interior para ver que ele é real, em consistência e doçura.
— Esse é o melhor de todos. Se deixar, como a caixa toda — sorri Sandro Veloso, funcionário do local há 15 anos.
Compartilhou da opinião de Sandro, no passado, uma mulher ilustre. Reza a lenda que o mangostim foi o fruto preferido da rainha da Inglaterra Vitória, motivo pelo qual também é conhecido como "rainha das frutas". O preço na Capital acompanha a fama real: uma caixa com cerca de 15 unidades custa R$ 50.