Defensores da causa animal levaram na manhã desta segunda-feira à Secretaria Municipal de Saúde uma nova sugestão de tratamento para cães diagnosticados com leishmaniose. A medida visa evitar a eutanásia de animais, que estão sob guarda da Secretaria Especial dos Direitos Animais (Seda). Neste domingo, 14 cachorros seriam sacrificados em uma clínica na Zona Sul de Porto Alegre, mas a prefeitura decidiu suspender por tempo indeterminado o procedimento, após pressão de ONGs.
Para as entidades, a possibilidade de tratamento com o remédio Milteforan não deve ser descartada. O medicamento está autorizado e registrado no Ministério da Agricultura, porém é importado e considerado caro.
– Toda a proposta que for feita e proteja os seres humanos e os animais vai ser muito bem-vinda. Mas temos um predicado, que é proteger a vida humana. Já tivemos duas mortes de pessoas – salienta o secretário da Saúde de Porto Alegre, Erno Harzheim.
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Além dos 14 cachorros diagnosticados com leishmaniose, há outros 21 casos sob suspeita. O contrato com a clínica prevê até 300 eutanásias, caso o número de diagnósticos aumente. A possibilidade de tantos sacrifícios alarma as entidades da causa animal.
– Isso não pode ser observado do ponto de vista financeiro. Mas, sim, como a capacidade de superarmos um problema de saúde pública. É a possibilidade de animais, assim como seres humanos, serem medicados e tratados–, defende a deputada estadual Regina Becker, ex-titular da Seda.
O uso do Milteforan como forma de tratamento da leishmaniose canina não tem respaldo do Conselho Regional de Medicina Veterinária. Duas notas técnicas (nota 1 e nota 2) divulgadas pela entidade destacam que o remédio não se configura uma medida de saúde pública para o controle da doença. Mas pode ser adotado como medida individual, uma vez que o tratamento durará pelo resto da vida do cão.
– Vai depender de uma avaliação do médico veterinário e de uma responsabilidade do médico e do proprietário. O tratamento não cura, mas às vezes apresenta melhoras nos sintomas. O animal continua portador e reservatório da doença – explica Camila Jaques, presidente da comissão de saúde pública do Conselho Regional de Medicina Veterinária.
Porto Alegre está sob emergência epidemiológica após o registro das duas primeiras mortes por leishmaniose da história da cidade. Uma menina de um ano e sete meses morreu em setembro do ano passado, e um homem em fevereiro deste ano. A leishmaniose só é transmitida através do mosquito-palha. Para isso, o inseto precisa picar um cachorro infectado e depois uma pessoa.
*RÁDIO GAÚCHA