Jeniffer Gularte
Desde que o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, revelou a intenção, no final do mês passado, de abolir o uso de dinheiro para pagamento das passagens de ônibus na cidade, fazendo uso exclusivo da bilhetagem eletrônica, uma apreensão tem tomado conta dos trabalhadores que poderão ser afetados com a futura mudança. Os cobradores temem que o pagamento restrito ao uso da tecnologia, que traria mais segurança ao serviço na visão de Marchezan, poderá custar o próprio emprego da categoria.
Leia mais:
Saiba como comprar créditos do cartão TRI pela internet
Entre os trabalhadores da função este é o assunto do momento, garante a cobradora da Carris há 10 anos, Letícia Magalhães, 36 anos. Ela considera difícil não se preocupar com o futuro do emprego uma vez que a ideia de modernizar o sistema veio do próprio prefeito:
– Eu tenho família para sustentar, a gente sabe que não teria onde realocar toda essa gente (em outras funções).Para ela, o argumento de que o uso exclusivo de bilhetagem traria mais segurança é frágil pois em dias de passe livre – em que também não circula dinheiro nos ônibus – também há assaltos.
Leia mais notícias do dia
– As pessoas acham que a gente fica o dia todo sentado ficam sentado, mas não é. Ajudamos no embarque de deficientes, ajudamos a orientar os motoristas, as pessoas não se dão conta da nossa importância. Eles (os motoristas) não vão dar conta sozinhos de tantos passageiros – avalia Fernanda Hansen, 40 anos, há 14 como cobradora da Carris.
Há nove anos na função, Milena Louzada, 35 anos, frisa que o cobrador não apenas cobra a tarifa, mas também orienta o passageiro e cuida das portas:
– Acho que sem cobrador os ônibus ficarão ainda mais vulneráveis a assaltos, o motorista não tem muito o que fazer sozinho.
O motorista Gilmar José Bittencourt, 52 anos, concorda com a preocupação da colega:
– Nunca trabalhei sem cobrador e acho que ficaria mais difícil para todos, principalmente em algumas regiões da cidade.
Em sua conta no Twitter, Marchezan nega que haverá demissões de cobradores: "Ninguém falou que vai ter que demitir cobrador, o que foi falado é que essa é uma profissão que vai precisar se modernizar".No final do mês, o prefeito anunciou que a gestão da bilhetagem eletrônica na Capital ficará a cargo da prefeitura e não mais da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP).
Procurada pelo DG, a ATP informou que, por enquanto, não irá se manifestar sobre o assunto por ser um tema que foi levantado pela prefeitura. Segundo o secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Elizandro Sabino, a mudança passará por um processo de muito diálogo com a sociedade, sindicato da categoria, as empresas e, no que diz respeito ao aspecto legal, com a Câmara de Vereadores.
– É um conjunto de elementos que precisa ser analisado, é uma relação de muitas interfaces e um estudo técnico precisa ser feito.
"Vamos parar a cidade"