
Apesar de faltar dinheiro para duplicações e ciclovias, a prefeitura terá R$ 100 milhões para investir em repavimentação de vias, um valor 15 vezes maior ao que é utilizado para repavimentar as principais ruas e avenidas da cidade todo ano.
Em 2015, prefeitura prioriza orla do Guaíba e corta duplicações e ciclovias
O panorama de Porto Alegre para 2015 foi detalhado pelo prefeito José Fortunati na última semana, em entrevista a Zero Hora. O prefeito falou por cerca de 1h15min com a reportagem.
Fortunati admite que efeito cascata pode reduzir salários entre 5% e 30%
Concreto em trechos dos corredores BRT se deteriorou antes de as obras ficarem prontas
Foto: Adriana Franciosi
Sem aumentar valor do contrato, revitalização da orla não sai, diz Fortunati

Zero Hora - O aperto nas contas vai afetar o cuidado com a cidade? A Rádio Gaúcha fez uma ação no Twitter pedindo que usuários alertassem para buracos na rua e eles enviaram dezenas de fotos. Além disso, temos visto, neste final de ano, muitas praças e canteiros, especialmente longe do Centro, sem capina. Por que isso está acontecendo? Por que é tão difícil manter a cidade em dia?
José Fortunati - Nós não reduzimos um único centavo nas prestações de serviços. É natural, no que diz respeito a praças e parques, que a grama cresça mais nesta época do ano. E, como temos um contrato para 12 meses por ano, não podemos simplesmente, no final do ano, em vez de cortar uma vez por mês, cortar duas vezes por mês. Isso significaria uma nova contratação. A grama cresce de uma forma no verão e de outra no inverno.
Fortunati: "Hoje, eu saio na rua e as pessoas louvam o viaduto"
Zero Hora - Isso deveria ser previsto em contrato, não?
Fortunati - Mas aí o contrato vai sair mais caro. Temos dificuldade em manter o orçamento. Criar mais orçamento? Não temos condições. Nós estamos em crise, tem um problema pelo qual o país está passando. Temos é que continuar mantendo o serviço. Com relação aos buracos: eu reconheço. Mas se eu pegar as minhas mensagens de texto, WhatsApp, e-mails que passo para os meus secretários, vocês vão ver que eu ando pela cidade e estou todo o tempo cobrando. O problema é que nós temos um asfalto que começa a ficar envelhecido na cidade, e, por isso, estamos buscando algo em torno de R$ 100 milhões desse financiamento da CAF para repavimentação. Porque na operação tapa-buraco não adianta, tapa hoje, mas o asfalto é velho, daqui a pouco abre de novo. A grosso modo, investimos R$ 6 milhões por ano em grandes vias. Portanto, nós vamos investir em 2015 o que não é investido em 15 anos. Além disso, compramos duas usinas novas de asfalto (por R$ 3,2 milhões). Elas são importantes porque produzem mais. As atuais fabricam 200 toneladas por hora, e as duas novas vão produzir 280 toneladas a cada hora. Mas não é só isso, é a qualidade. Nós temos um problema no nosso asfalto. Já discutimos com a Petrobras, buscamos técnicos, e pretendemos, com essas duas novas usinas, fazer com que a qualidade do asfalto possa ser melhorada. Outra coisa é que uma parte dos buracos diz respeito a tampas que são de companhias telefônicas, de gás etc. Por isso, vamos enviar um projeto à Câmara para responsabilizar a todos. Nós vamos lá fazer o serviço e depois vamos cobrar dessas empresas. E posso assegurar que, mesmo com os cortes de verbas em obras, os serviços não poderão ser afetados. Quer dizer, em março, quem está reclamando dos buracos vai começar a reclamar do excesso de obras na cidade. Porque não tem como recapear sem trancar as ruas.
Zero Hora - Depois de prontos, vimos alguns trechos dos corredores do futuro BRT se esfarelando. A causa é a construção inadequada. É muito chato para o morador da cidade ver isso, ele se sente desrespeitado porque ele paga os seus impostos e o que a empresa fez já está se estragando.
Fortunati - Duas explicações: primeira delas, as obras ainda não foram entregues. Elas estão em um processo em que a fiscalização vai lá e verifica o problema. E manda refazer. Na medida em que o serviço é refeito, a empresa é multada. Além do prejuízo que ela tem em refazer uma placa de concreto, que já tem um custo elevado, há a multa.
Zero Hora - De quanto é a multa?
Fortunati - Não sei, tem que ver com os engenheiros (a Smov, no entanto, afirmou que as empresas não foram multadas).
Zero Hora - Há alguma perspectiva de as paradas do BRT começarem a ser instaladas?
Fortunati - Depois que nós concluirmos os corredores. O que aconteceu é que tínhamos um projeto de paradas de ônibus que acabou, na análise técnica, não sendo aceito. Segundo o corpo técnico, o material empregado teria pouca durabilidade, acabaria causando problemas. Nós estamos refazendo o projeto para depois abrir a licitação específica para as paradas. Para ver como é complexo, o que para mim, quando me foi apresentado o projeto, achei uma maravilha, esteticamente e pela funcionalidade. Coisas da vida real.
"Em março, quem está reclamando dos buracos vai começar a reclamar do excesso de obras na cidade. Porque não tem como recapear sem trancar as ruas."
Foto: Bruno Alencastro

Confira a entrevista na íntegra: