
Mesmo depois da Copa do Mundo, canteiros de obras referentes ao evento esportivo continuam abertos. Ainda assim, o prefeito José Fortunati acredita que os moradores da cidade entenderão esses atrasos quando os benefícios das obras se revelarem ao ficarem prontas.
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O panorama de Porto Alegre para 2015 foi detalhado pelo prefeito José Fortunati na última semana, em entrevista a Zero Hora. O prefeito falou por cerca de 1h15min com a reportagem.
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Zero Hora - Terminou a Copa e ainda há muitas obras na cidade. Severo Dullius, Ceará, Cristóvão, Bento Gonçalves, BRTs, Tronco, todas em andamento. Por que está sendo tão difícil terminar essas obras?
José Fortunati - Cada uma tem a sua história. Sempre brinco com as pessoas que já fizeram reforma em casa: duvido que vocês tenham recebido um prazo, esse prazo tenha sido cumprido e o orçamento tenha sido cumprido. Imagina, se acontece em um pequeno apartamento, como acontece em uma cidade. A Ceará: quando a obra começou, os estudos geológicos mostraram que a profundidade teria que ser maior por causa do tipo de solo. Segundo problema: para uma obra com maior profundidade, era necessário usar maquinário mais elevado. Aí surge aquilo que a gente não imagina que possa surgir: a Infraero não permitiu que durante o dia aquele maquinário fosse utilizado, por causa do espaço aéreo. Só poderiam usar da meia-noite às seis da manhã, quando, teoricamente, o aeroporto está fechado. Acabou acontecendo que aumentou o custo. A empresa exigiu aumento do pagamento. Tivemos que refazer o contrato, foi ao TCE, que levou um tempo para fazer a avaliação. A empresa não aceitou o valor e desistiu da obra. Nossa saída foi chamar o segundo lugar na licitação, que não aceitou. O terceiro também não. Bem, a saída era fazer uma nova licitação. Quando começamos a preparar, a empresa voltou atrás e resolver fazer a obra, assinando o aditivo aprovado. Essa novela levou mais de um ano. A obra está recomeçando neste início de janeiro. Esse exemplo é para mostrar como a vida real impõe dificuldades muito grandes. O importante é dizer que são 14 obras que não estariam acontecendo se Porto Alegre não tivesse sido escolhida para ser sede da Copa. Os R$ 880 milhões são extraorçamentários, só vieram por causa da Copa.
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Zero Hora - Mas essa sucessão de novelas em cada obra não dá um pouco de descrédito à capacidade do poder público de fazer grandes obras? Porque por muitos anos ouvíamos que não se tinha recursos para fazê-las, e aí, de uma década para cá, o Brasil começou a ter recursos para grandes obras. E agora, todas elas atrasam. Isso não prejudica a credibilidade?
Fortunati - Não acredito, porque, na medida em que as obras começam a ser entregues, o humor das pessoas muda totalmente. Vou dar um exemplo concreto: o Viaduto Abdias do Nascimento. O que eu era xingado por causa daquele estrangulamento era uma coisa. Xingado, literalmente, as pessoas me xingavam. Hoje, eu saio na rua e as pessoas louvam o viaduto. Alguém já me disse que virou ponto turístico. Eu ouço isso todos os dias, as pessoas dizendo "eu demorava uma hora para sair do serviço no Centro e chegar à Zona Sul, e hoje levo 20 minutos sem problema nenhum". Quando começamos as obras, me diziam "Fortunati, tu és maluco em fazer tanta obra". Eu respondia que tinha que apostar. Eu faço obra em casa, eu sei o quanto é difícil. Apostei e não me arrependo. Quando as obras ficarem prontas, as pessoas vão se dar conta que, por mais que elas possam demorar, e a vida real leva a isso, o saldo é muito positivo.
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Zero Hora - Em outubro, depois de dois anos, a EPTC anunciou que começaria a sinalizar paradas de ônibus com a informação das linhas que passam ali. Mas demorou muito para se tomar essa decisão, que é simples. Por que algumas decisões simples da cidade demoram tanto para se concretizar?
Fortunati - Porque no dia a dia se lida com milhares de problemas. Então, essa solução simples tem que ser encaixada dentro de um espectro maior. Vamos pegar a EPTC: com quantos problemas a EPTC lida no dia a dia? Se ela só cuidasse das soluções simples, certamente elas sairiam do papel com muita facilidade. O problema é que elas acabam ficando em segundo plano porque os problemas complexos têm que ser resolvidos com maior rapidez. E aí tem falta de material humano, de orçamento. Por isso as chamadas soluções simples demoram um pouco mais. Porque você vai ver o que as secretarias estão fazendo, e elas estão resolvendo os grandes problemas, que, se não forem resolvidos, aí mesmo é que as coisas complicam.
Zero Hora - Agora, uma obra complexa, marcada para sair em 2015: qual a chance de que o metrô tenha a sua novela e se estenda além do cronograma, como estamos vendo com as outras obras?
Fortunati - Nós estamos demorando mais com o metrô até para que o projeto executivo seja muito melhor. Além da nossa equipe, voltada de forma permanente para o metrô, formada por técnicos da prefeitura e do governo do Estado, nós buscamos técnicos do BNDES que acompanharam a viabilização de metrôs, contratamos o metrô de Madri, cuja equipe é considerada uma das melhores do mundo, temos a parceria de técnicos do Banco Mundial, que estão nos assessorando, para que a gente possa formular o melhor projeto executivo. Não posso dizer para o leitor de Zero Hora que não teremos problemas, mas tenho a tranquilidade de afirmar que estamos tomando todas as cautelas para que o volume de problemas seja o menor possível. Nenhum, só sendo Deus. E eu não sou.
"Estamos tomando todas as cautelas para que o volume de problemas seja o menor possível. Nenhum, só sendo Deus. E eu não sou." Foto: Bruno Alencastro

Confira a entrevista na íntegra: