Estátua também pode fazer exame de ultrassom quando se suspeita de que tem algo diferente em seu interior. Anita Garibaldi, por exemplo, fez o teste como qualquer grávida moderna, mas era para saber se seus carbonatos estão lá, em dia. Giuseppe Garibaldi passou por um check-up mais geral, no qual descobriu-se que está melhor por dentro do que por fora. Exteriormente, a dupla de pedra que adorna a Praça Garibaldi, no bairro Cidade Baixa, está decrépita da cabeça aos pés há muitos anos, situação que se repete em outros monumentos de Porto Alegre.
Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
O exame de ultrassom feito na manhã desta quarta-feira era para saber como estão as estátuas do Monumento a Giuseppe e Anita Garibaldi por dentro. Mostraram dados preliminares, mas a tendência natural é que a parte externa esteja sempre pior que a interna, segundo o professor de Geologia de Engenharia do curso de Geologia da UFRGS Clovis Gonzatti.
Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
Ele teve alguma dificuldade no exame por causa da rugosidade da superfície das estátuas, o que dificulta a medição, feita por meio de geofones - fones semelhantes aos de ouvido que são posicionados em dois pontos diferentes da rocha para medir o percurso da onda de ultrassom.
- Estamos experimentando a técnica. O problema está sendo o acoplamento dos geofones na superfície da rocha. Mas ainda vamos repetir o procedimento, usando leite de silicone ou gel dental para melhorá-lo - disse o geólogo.
Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
Gonzatti ajuda a responsável pelo trabalho de recuperação, a arquiteta, restauradora e mestre em geologia Verônica di Benedetti, contratada pela prefeitura. Caso se constate deterioração interna - e aqui se fala de até três milímetros de profundidade -, será preciso submeter o casal de pedra a uma solução química para reaglutinar as partículas e impedir que o processo de deterioração continue.
- De forma geral, o monumento se encontra em estado de conservação razoável por dentro. Não perdeu muito carbonato. Por fora, porém, o nível de degradação é lastimável.
Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
O resultado detalhado do exame deve sair no final da semana. Quanto à restauração, pode ficar pronta entre o final de novembro e o início de dezembro - não confundir com a recuperação de monumentos na Redenção, também iniciada recentemente. Com um detalhe: vários dedos das estátuas, cortados, não serão refeitos. Verônica explica que convenções internacionais aceitam que partes de monumentos históricos não sejam refeitos quando sua falta não compromete o entendimento da obra nem causa alguma patologia em sua estrutura. Por fim, o fato é que os dedos sumiram. Se ainda estivessem à mão - da prefeitura -, certamente poderiam ser recolocados.
Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
Como funciona o ultrassom nas estátuas
- O aparelho tem dois geofones: o emissor lança 500 mil ondas de ultrassom por segundo, que são recebidas a certa distância, onde é colocado o geofone receptor
- A distância entre um geofone e outro variou até um metro no monumento dos Garibaldi
- Os dados são comparados com a medição feita na rocha sã, ou seja, o mesmo tipo de material retirado diretamente da mina ou que nunca tenha passado por desgaste temporal como o do monumento
- Quanto menor for a velocidade da onda no monumento, na comparação com o material são, mais alterada estará a rocha
- Por exemplo: na rocha, a velocidade varia em torno de 5 km/s. Na água, baixa para 1 km/s e no ar, para 0,34 km/s. Assim é possível ter uma ideia se há vazios ou infiltrações na pedra
Sobre a obra
O primeiro monumento relativo à Revolução Farroupilha na Capital foi criado pelo artista italiano Filadelfo Simi, em mármore de Carrara. O monumento, oferecido a Porto Alegre pela colônia italiana, em 1913, é uma homenagem ao casal de combatentes Giuseppe Garibaldi (1807-1882) e Anita Garibaldi (1821-1849), a catarinense de Laguna com quem o italiano se casou.
Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
Confira mais fotos