
Colunista de Zero Hora e apresentadora do programa Galpão Crioulo, da RBS TV, a cantora regional Shana Müller comentou, por telefone, a polêmica suscitada pela postagem da foto. O único objetivo, alega a jornalista, era incentivar a torcida em um dia de jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo.
- Jamais imaginei que viraria outra discussão - diz Shana.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Que avaliação você faz do episódio?
Shana Müller - O que me chamou a atenção foi perceber que ainda existia um sentimento assim em muitas pessoas, principalmente em jovens. A música que eu faço, uma música regional gaúcha, ainda que eu não goste do rótulo, tem como público pessoas ainda ligadas a coisas extremistas, como o movimento separatista ou mesmo o movimento tradicionalista gaúcho. Não renego o movimento tradicionalista gaúcho, de forma alguma, mas não me intitulo uma cantora tradicionalista. Tive uma participação no movimento, por muito tempo. O tradicionalista é a pessoa que vivencia o movimento tradicionalista, isso não exclui outras pessoas de escutarem música gaúcha, vestirem uma bombacha, tomar um chimarrão. Esse é o povo do Sul que tem uma identidade regional com a qual eu quero me identificar como cantora. Os que se manifestaram ali não são tradicionalistas, são pessoas confusas sobre o significado de tradicionalismo. O tradicionalismo não é um movimento separatista. Na hora da discussão existe essa confusão. Muitos colegas da música e do jornalismo me ligaram, compartilharam o meu texto. Isso foi legal, um despertar de consciência.
Os mais exaltados a surpreenderam ao chamá-la até de "caramuru"?
Shana - Não. O que me surpreendeu foi ver pessoas jovens envolvidas nisso. Essa coisa do movimento separatista eu acompanhei há alguns anos, me lembro disso na adolescência. Não foi um tema novo. Foi novo perceber que ainda é tão forte.
Você recebeu mais mensagens de apoio ou crítica?
Shana - De apoio, sem dúvida. Acho que 80% dos comentários eram a favor. Os outros 20% eram pessoas que se repetiam em um nível de discussão bem baixo. Eram pessoas falando da história do Rio Grande do Sul sem conhecê-la.
Arrependeu-se de ter postado a foto?
Shana - De forma alguma. O meu papel como formadora de opinião é trazer essas discussões à tona. O meu texto não foi uma resposta ao Facebook. Na democracia digital, todo mundo fala o que quer. Aproveitei o que estava acontecendo para trazer a discussão à tona. Como um colega da música regional me falou, temos que nos preocupar, as pessoas que nos escutam podem ter esse pensamento. Temos um papel, no palco, de transformação.

