
A megaoperação deflagrada na última semana contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro foi criticada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira (4). O presidente defendeu o combate ao crime organizado, mas definiu como "matança" a ação que resultou na morte de 121 pessoas nos complexos da Penha e do Alemão.
O petista confirmou que o governo pretende enviar uma equipe de legistas da Polícia Federal para participar do processo de investigação sobre as mortes. O objetivo é que o governo federal realize uma investigação independente sobre a Operação Contenção, realizada pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro.
— Vamos ver se a gente consegue fazer essa investigação. Porque a decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança, e houve matança — disse em entrevista à Associated Press e Reuters, diretamente de Belém (PA), onde está para a COP30.
Conforme a Polícia Civil do Rio de Janeiro, 95% dos 117 mortos durante a operação tinha ligação comprovada com o Comando Vermelho. Até o momento, apenas dois suspeitos ainda não foram identificados, "por não possuírem registros papiloscópicos, de arcada dentária ou de DNA".
Também foi realizada a prisão de 113 suspeitos. Ao citar o número de mortos no confronto, o que inclui quatro policiais, Lula disse que considera a ação "desastrosa":
— O dado concreto é que a operação, do ponto de vista da quantidade de mortes, as pessoas podem considerar um sucesso, mas do ponto de vista da ação do Estado, eu acho que ela foi desastrosa — completou.
Em nota (leia a íntegra abaixo) publicada nas redes sociais na tarde desta terça, Lula disse que o governo federal está trabalhando para combater o tráfico e que "desde 2023, as ações do Governo já retiraram R$ 19,8 bilhões das mãos de criminosos, o maior prejuízo já imposto ao crime, enfraquecendo lideranças e redes financeiras".
Operação Contenção
A Operação Contenção integrou 2,5 mil policiais de diversas unidades fluminenses para atacar pontos estratégicos da facção Comando Vermelho em bairros dos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. A ação teve tiroteios intensos e registrou a morte de 121 pessoas, sendo quatro delas policiais.
Moradores relatam que dezenas de corpos foram encontrados na mata, muitos deles com sinais de rendição, como mãos e pernas amarrados, e de execução e tortura.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, sustenta a versão de que todos os homens que se renderam foram presos, além de afirmar que a operação "foi um sucesso". Essa foi a operação policial mais letal da história do Estado.
A Organização das Nações Unidas (ONU) já havia se manifestado favorável a uma investigação independente para "garantir responsabilização pelos fatos, interromper violações de direitos humanos e assegurar proteção a testemunhas, familiares das vítimas e defensores de direitos humanos".
Nota de Lula na íntegra:
"O Governo do Brasil está atuando para quebrar a espinha dorsal do tráfico de drogas e do crime organizado. Com mais inteligência, integração entre as forças de segurança e foco nos cabeças do crime — quem financia e comanda as facções.
Desde 2023, as ações do Governo já retiraram R$ 19,8 bilhões das mãos de criminosos, o maior prejuízo já imposto ao crime, enfraquecendo lideranças e redes financeiras.
O número de operações da Polícia Federal cresceu 80% desde 2022, saltando de 1.875 para 3.393 em 2024. Em 2025, já são 2.922 até outubro. Nas rodovias, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu 850 toneladas de drogas em 2024 — recorde histórico.
A inteligência e a integração também avançaram. Em setembro, inauguramos em Manaus o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI) — iniciativa inédita entre nove países da Pan-Amazônia e nove estados brasileiros, para combater tráfico, garimpo ilegal e crimes ambientais.
Para sustentar esses avanços, o Governo enviou ao Congresso o PL Antifacção, que endurece as penas e asfixia financeiramente as facções; e a PEC da Segurança Pública, que moderniza e integra as forças policiais, incorpora as Guardas Municipais e garante recursos permanentes para estados e municípios.
Essas medidas completam o ciclo da segurança: investigação mais eficaz, integração institucional e base legal sólida — uma combinação que consolida o enfrentamento ao crime no Brasil."



