
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) negou que tenha monitorado autoridades quando era diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele foi o segundo réu do núcleo 1 da trama golpista a ser interrogado nesta segunda-feira (9) pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
— Nunca utilizei monitoramento algum pela Abin de qualquer autoridade e, ao contrário do que foi colocado em comunicação, nós não tínhamos a gerência de sistemas de monitoramento, pelo contrário — disse.
Ramagem afirmou que, quando assumiu o comando da Abin, decidiu não dar sequência ao contrato da ferramenta First Mile, capaz de detectar um indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G:
— Quando chegou ao final desse contrato, desse FirstMile, nós decidimos, eu decidi não dar continuidade ao sistema FirstMile. Nós não prorrogamos, não demos continuidade. Nem procuramos ferramenta semelhante. E isso foi em 10 de maio de 2021. A Polícia Federal tem esse dado [...] o monitoramento, a verificação de pessoas na apuração aqui hoje, é de 2022.
Ramagem também disse que a ferramenta não fornece a localização precisa:
— Ela (a ferramenta) só diz se a pessoa está em Copacabana ou em Ipanema. Não consegue dizer onde ela está aqui nos Três Poderes, se está no Planalto, no STF ou no Congresso Nacional.
O deputado criticou a apuração da Polícia Federal, afirmando que seria para "empurrá-lo" para a "questão de golpe".
— É mais uma, que eu digo, indução a erro do juízo, porque a Polícia Federal sabe que o contrato do FirstMile acabou em 10 de maio de 2021, não foi renovado, não havia mais Abin, não tinha utilização na administração pública federal. E mesmo assim, no relatório da PF, eles colocaram esse sistema First Mile. E digo aqui, peço licença, com certeza, é o que eu ouço, para empurrar para o Ramagem nessa questão de golpe indevidamente. Então, essa questão cronológica deixa claro — afirmou.
Anotações privadas
Ramagem também foi interrogado sobre documentos nos quais questiona as urnas eletrônicas.
— São documentos privados, não houve difusão qualquer, encaminhamento qualquer desse documento, era algo privado, com opiniões privadas minhas. Todas as questões que eram anotações privadas diversas, todas essas anotações que dizem respeito à urna, ao processo eleitoral, não eram concernentes à urna eletrônica, mas sempre foi, em todas elas, concernente à discussão que estava tendo no mesmo período, no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados — disse.
O deputado também negou que tenha compartilhado os documentos com o ex-presidente Jair Bolsonaro:
— Eu escrevi em primeira pessoa para levar. Isso não quer dizer que eu passei, que eu conversei na integralidade, na totalidade, parcial ou da maneira como estava escrito ali.
Primeiro dia de interrogatórios
Ramagem foi o segundo réu a ser ouvido nesta segunda-feira (9). Antes, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, já havia falado.
Os interrogatórios serão retomadas nesta terça (10), às 9h, com o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos. Na sequência, em ordem alfabética, serão ouvidos:
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
- Jair Bolsonaro
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na eleição de 2022