
O ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, foi o primeiro interrogado pela Primeira Turma do STF na manhã desta terça-feira (10). Este é o segundo dia de depoimentos dos oito réus do núcleo 1 no processo da trama golpista, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Respondendo aos questionamentos do ministro Alexandre de Moraes, Garnier negou ter dito que colocaria as tropas da Marinha à disposição para auxiliar em golpe de Estado, conforme dito pelo ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, em depoimento.
— Não houve deliberações. O presidente não abriu a palavra para nós. Ele fez as considerações dele, expressou o que pareciam para mim mais preocupações e análise de possibilidades — explicou sobre reunião com Bolsonaro, ministros e comandantes das Forças Armadas.
O ex-comandante negou que tenha sido apresentada uma "minuta de golpe" na reunião entre as autoridades. Ele afirma que foi exibida uma apresentação com "preocupações" de Bolsonaro quanto à segurança pública.
— Nenhum documento foi apresentando nesta reunião. Essa reunião foi, para dizer o mínimo, estranha. Estranha porque ela terminou antes de começar — disse.
Garnier ainda afirmou que não ouviu nenhum membro da cúpula superior das Forças Armadas ameaçar prender o ex-presidente.
— Ouvi na imprensa. Até achei, se o senhor me permite, eu achei surreal, não faz parte das normas das Forças Armadas, da hierarquia, disciplina, atitudes dessa natureza com esse contexto.
Quem deve ser interrogado
Além do almirante Garnier, já foram ouvidos o ex-ajudante de ordens da Presidência da República Mauro Cid e o deputado federal e ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Restam ainda:
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
- Jair Bolsonaro
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na eleição de 2022
O interrogatório de Braga Netto, general da reserva, será o único realizado por videoconferência, por ele estar preso preventivamente desde 14 de dezembro de 2024. A detenção aconteceu pelo entendimento de que o militar procurou atrapalhar as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado.
Primeiro dia
O primeiro dia começou com o depoimento de Mauro Cid. O ex-ajudante de ordens disse que Bolsonaro recebeu, leu e fez alterações na "minuta do golpe".
— Ele enxugou o documento, basicamente retirando as autoridades que seriam presas. Somente o senhor (ministro Alexandre de Moraes) ficaria como preso — diz Mauro Cid sobre alterações que Bolsonaro teria realizado na "minuta do golpe".
Segundo interrogado, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) negou que tenha monitorado autoridades quando era diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
— Nunca utilizei monitoramento algum pela Abin de qualquer autoridade e, ao contrário do que foi colocado em comunicação, nós não tínhamos a gerência de sistemas de monitoramento, pelo contrário — disse.
Cronograma de interrogatórios
Além da sessão da manhã desta terça, outras três foram convocadas para:
- Quarta-feira (11), às 8h
- Quinta-feira (12), às 9h
- Sexta-feira (13), às 9h
Elas serão realizadas conforme a necessidade, até que se encerrem os interrogatórios dos réus.