
O general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), optou por ficar em silêncio ao ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo da trama golpista no STF. Ele foi o terceiro réu a prestar depoimento à Primeira Turma nesta terça-feira (10) e o quinto dos oitos acusados. Jair Bolsonaro é o próximo a ser interrogado.
Augusto Heleno optou por responder somente os questionamentos da própria defesa. Na oportunidade, negou qualquer envolvimentos com um suposto plano de golpe de Estado, respondendo somente "sim" ou "não" às perguntas.
O advogado do general, Matheus Milanez, informou que o ex-ministro ficaria em silêncio após Moraes explicar que os réus têm este direito para não produzir provas contra eles mesmos, como é avisado ao início de todos os interrogatórios.
Quanto à alegação presente na denúncia contra ele de que teria "politizado" o GSI, ele afirmou:
— É uma acusação que não tem o menor fundamento. É preciso entender que o GSI chegava a ter entre 900 e 1 mil servidores, que vinham das mais diferentes origens, homens e mulheres. Não havia clima para fazer pregações políticas, nem utilizar os servidores do GSI para atitudes politizadas. Então, isso não acontecia, eu não tratava disso no GSI — afirmou.
O ex-ministro negou que tenha orientado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a produzir relatório e documentos com informações falsas sobre as eleições de 2022. Sobre a "caderneta golpista", como foi descrita pela denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) uma agenda de Heleno, ele explicou:
— Era uma agenda que eu utilizava frequentemente, estava na minha mão quase sempre. E onde eu anotava as coisas que eram do meu interesse. E era um documento particular, secreto — alegou.
O general negou ter tido contato com as pessoas acampadas em Brasília dias antes dos atos de 8 de Janeiro ou qualquer relação com as invasões às sedes dos Três Poderes. Ele afirmou que tomou conhecimento da situação pela televisão.
Quem deve ser interrogado
Nesta terça-feira, foram ouvidos o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
Na segunda, foram ouvidos o ex-ajudante de ordens da Presidência da República Mauro Cid e o deputado federal e ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Restam ainda:
- Jair Bolsonaro
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na eleição de 2022
O interrogatório de Braga Netto, general da reserva, será o único realizado por videoconferência, por ele estar preso preventivamente desde 14 de dezembro de 2024. A detenção aconteceu pelo entendimento de que o militar procurou atrapalhar as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado.
Primeiro dia
O primeiro dia de depoimentos, na segunda-feira (9), começou com o depoimento de Mauro Cid. O ex-ajudante de ordens disse que Bolsonaro recebeu, leu e fez alterações na "minuta do golpe".
— Ele enxugou o documento, basicamente retirando as autoridades que seriam presas. Somente o senhor (ministro Alexandre de Moraes) ficaria como preso — diz Mauro Cid sobre alterações que Bolsonaro teria realizado na "minuta do golpe".
Segundo interrogado, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) negou que tenha monitorado autoridades quando era diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
— Nunca utilizei monitoramento algum pela Abin de qualquer autoridade e, ao contrário do que foi colocado em comunicação, nós não tínhamos a gerência de sistemas de monitoramento, pelo contrário — disse.
Cronograma de interrogatórios
Além da sessão da manhã desta terça, outras três foram convocadas para:
- Quarta-feira (11), às 8h
- Quinta-feira (12), às 9h
- Sexta-feira (13), às 9h
Elas serão realizadas conforme a necessidade, até que se encerrem os interrogatórios dos réus.