
Um dos maiores e mais tradicionais partidos do Rio Grande do Sul, o PP vive uma disputa interna visando a eleição de 2026. O objetivo, porém, não é concorrer ao governo do Estado, mas conquistar a vaga de vice na chapa do atual vice-governador e pré-candidato Gabriel Souza (MDB). Enquanto a deputada estadual Silvana Covatti trabalha ostensivamente para se cacifar ao posto, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, se movimenta nos bastidores do partido, tentando criar um movimento em torno de seu nome.
As articulações de Polo vão crescer nos próximos dias. O secretário está organizando o lançamento de um manifesto de prefeitos do PP defendendo a sua candidatura ao Piratini. A iniciativa ganha corpo na região das Missões, berço eleitoral de Polo, e deve deflagrar outras ações.
Na segunda-feira à noite (16), Polo recebeu em casa o ex-presidente do PP Celso Bernardi e o ex-deputado Jerônimo Goergen. O trio discutiu como fazer o nome de Polo ganhar musculatura sem melindrar o governo.
Essa estratégia é fundamental porque a ala que se contrapõe à família Covatti usa como principal argumento o fato de Silvana ter se lançado a vice de Gabriel. Em pelo menos duas ocasiões, em Frederico Westphalen e Cerro Grande do Sul, ela anunciou publicamente que não concorreria mais a deputada e que é pré-candidata a vice-governadora.
Para a oposição interna — e inclusive para aliados de outras siglas —, um partido do tamanho do PP, com 164 prefeitos e 1,3 mil vereadores, precisa ter candidatura própria e não se diminuir postulando uma vaga de vice.
Todavia, Polo é secretário do governo Leite, tem participado de inúmeros eventos e inaugurações da gestão atual e o lançamento de seu nome como pré-candidato a governador pode ser visto como uma disputa por holofotes com Gabriel, o candidato oficial da situação. Ademais, o que Polo almeja mesmo, segundo fontes no partido, é ser vice do emedebista, um desejo que contradiz o discurso público de que o PP precisa ser protagonista da eleição.
Para tentar evitar equívocos na condução desse planejamento, um novo jantar foi realizado na quarta-feira (18), em um restaurante da Capital. Desta vez, somou-se a Goergen e Bernardi o ex-governador Jair Soares. Também convidados, Francisco Turra, gripado, e Pedro Bertolucci, em função da forte chuva, não puderam comparecer.
O trio decidiu realizar um novo jantar, no dia 7 de julho, na casa de Soares, reunindo as bancadas federal e estadual, além dos ex-presidentes do partido e do senador Luis Carlos Heinze. O objetivo é buscar uma unidade partidária, independentemente do rumo a ser tomado pelo PP, se candidatura própria ou indicação de vice.
Há preocupação com possível escalada na cisão interna e também com perda de apoio em setores do empresariado e do agronegócio que já acenaram ter simpatia com uma chapa Gabriel-Polo ao governo do Estado.
— Estamos testando nomes. O Ernani é um deles. Mas estamos tomando todo o cuidado para não queimar a largada. Tem muita coisa ainda para acontecer — comenta o deputado estadual Marcus Vinícius.
Para além das pretensões de Polo, também move esse grupo uma insatisfação com a forma com que a família Covatti controla o partido. Filho de Silvana e do secretário estadual de Desenvolvimento Rural, Vilson Covatti, o deputado federal Covatti Filho preside o PP-RS, a Fundação Francisco Dornelles e a federação com o União Brasil.
Esse descontentamento ficou latente durante reunião da executiva, há cerca de um mês, em Porto Alegre. Polo e o deputado federal Afonso Hamm reclamaram do excesso de poder nas mãos de Covatti Filho. Silvana rebateu as críticas e o tom da discussão foi se elevando.
— Rapaz, o que tu tá pensando? Se vocês querem ir para o voto, vamos para o voto. E no voto é difícil os Covatti perderem — reagiu a deputada.
Até então, esse ressentimento contra os Covatti era silencioso, sobretudo por temor de retaliações na distribuição do fundo eleitoral. Como Covatti Filho preside instâncias partidárias e é muito próximo do presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, dirigentes e parlamentares temiam sofrer represálias caso houvesse um enfrentamento público com a família.
O ambiente mudou a partir do desembaraço com que Silvana se ofereceu para ser vice de Gabriel, mas cresceu com a chegada de Onyx Lorenzoni ao partido. Embora circulassem rumores de que o ex-ministro negociava filiação, o anúncio de que Onyx assinaria ficha na segunda-feira (16) surpreendeu praticamente todos os deputados e ex-dirigentes.
A forma como a migração foi conduzida, diretamente por Ciro e o ex-presidente Jair Bolsonaro, sem participação do diretório gaúcho e sob boatos de que Onyx já chega com cota própria do fundo eleitoral para a eleição de 2026, disseminou temor de interferência da cúpula nacional nos rumos do partido no Estado.
Covatti Filho reage afirmando que as críticas são artificiais. Para o deputado, o grupo de Polo é movido por motivações particulares:
— Não existe descontentamento. O que existe é interesse próprio. O Ernani quer ser vice do Gabriel e usa essa desculpa de centralização de poder. Agora mesmo eu passei a presidência temporariamente para o Afonso Hamm. A gestão é compartilhada, eu converso com todo mundo, estou fazendo encontros regionais do partido. Dentro do partido, o espaço se conquista no voto.
O deputado afirma ter criado uma comissão eleitoral para definir os rumos da legenda e promete aumentar o tamanho das bancadas na próxima eleição, a exemplo do ocorrido em 2024, quando o PP subiu de 143 prefeitos para 164 no Estado. Covattinho também diz estar trabalhando por uma candidatura própria.
— Vamos eleger cinco ou seis deputados federais ano que vem (hoje são três) e de nove a 11 estaduais (hoje são sete). Temos dois minutos de tempo de TV, um bom fundo eleitoral. Todo mundo quer o PP de vice, mas o partido precisa ter candidato próprio, e nos próximos dias vamos fazer um movimento nesse sentido. Já estou conversando com a direção nacional sobre isso — assegura.
Enquanto os grupos partem para confronto aberto, o líder do governo na Assembleia Legislativa, Frederico Antunes, só observa. Com a experiência de quem conduziu a base governista sem sofrer nenhuma derrota em projetos de lei nos dois mandatos de Eduardo Leite, Antunes transita com desenvoltura pelas duas correntes. Diante de um eventual impasse entre Silvana e Polo, espera ser o escolhido para vice de Gabriel num movimento para pacificar o partido.